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O simpatizante mora ao lado, escreve correspondente
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21/11/2011 | 04:25
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O americano Jose Pimentel, de 27 anos, foi preso no último final de semana, em Nova York, acusado de conspiração por comprar material para construir uma bomba caseira com propósitos terroristas. Americano, filho de dominicanos e convertido ao islamismo, ele morava com seus tios no quinto andar de um prédio antigo na rua 137 do bairro de Hamilton Heights, perto do Harlem, lado oeste de Manhattan. Eu moro no terceiro andar do mesmo prédio.

Ele foi preso na noite de sábado, depôs neste domingo no Tribunal Criminal em Manhattan, e deve depor novamente no próximo dia 25. Se condenado, pode pegar de 15 anos de detenção ou prisão perpétua. Pimentel queria testar seu artefato em caixas de correio e depois tentar matar funcionários do governo americano.

De acordo com a polícia, ele também usava o nome de Muhummad Yusuf, mantinha um blog, o trueislam1.com, e que pensava em mudar o nome para Osama Hussein, em homenagem aos seus heróis já mortos, o terrorista Osama bin-Laden e o ditador iraquiano Saddam Hussein.

É "um simpatizante do Al-Qaeda", disse o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Pimentel, por sua vez, disse à polícia que é um "lobo solitário", não filiado a nenhuma facção terrorista. E era isso mesmo que Pimentel parecia: um lobo solitário.

Pimentel passava horas a fio parado, em pé, fumando cigarro de vez em quando, na frente do prédio. Era de poucas palavras, mas sempre educado, mais educado inclusive que a maioria. Sempre dizia bom dia, sempre se apressava a abrir a porta do edifício quando eu chegava com sacolas do supermercado e a segurava até que eu entrasse.

Ele tinha uma barba curta e sempre usava o cabelo preso com bandana. Geralmente uma bandana azul. Creio que uma vez o vi usando um turbante, mas não era seu costume. Recentemente, Pimentel cortou o cabelo e deixou de lado o lenço.

A atitude de Pimentel tinha um quê de suspeita, chegamos a comentar isso algumas vezes em família, mas nada que chegasse perto de imaginar que ele tinha ideias terroristas. Foi uma grande surpresa para mim e todos os vizinhos que moram há algum tempo aqui e o conheciam ainda que de vista. O zelador do prédio, Alex Gonzales, disse que estava tão perplexo quanto todos os demais moradores.

Pimentel parecia ser pacífico demais. Mas achava estranho alguém tão jovem e forte - ao redor de 1,85m e acima do peso - não trabalhar, ficar tanto tempo no mesmo canto na lateral da porta de entrada do edifício ou sentado na escada, apenas observando as pessoas que entravam e saíam. Era raro haver um dia em que ele não estivesse na rua. Aos vizinhos, sempre dizia que estava desempregado. E com mais de 14 milhões de desempregados nos Estados Unidos, não era difícil acreditar que fosse um deles.

A polícia o observava desde 2009 e o vigiava quando, em outubro, ele teria começado a construção da bomba, indo a lojas como a Home Depot, varejista de material de construção, no Bronx, e uma loja de 99-cent, segundo relatos da polícia. Teria comprado relógio, luvas, luzes de Natal, canos de PVC, tudo para ser usado para fazer o artefato. A polícia tinha um informante, que gravou várias conversas com Pimentel. No último dia 16, ele teria contado a esse informante que pretendia pedir a um vizinho uma furadeira para fazer furos nos canos de PVC.

Obviamente eu não era esse tal vizinho, porque não tínhamos proximidade para que me pedisse algo emprestado. Uma vez, na porta do prédio, ele fez perguntas a alguém da minha família sobre para onde estávamos indo, se as crianças iriam junto, se o apartamento ficaria vazio. Perguntas nada anormais para uma conversa de vizinhos, mas agora, de lembrar, tornam-se também suspeitas.

Foi nessa ocasião também que ele contou que tinha morado praticamente a vida toda na vizinhança, morando nesse mesmo prédio - ele na verdade morou um tempo fora da cidade de Nova York quando foi casado e retornou em janeiro de 2010. Comentou ainda que o bairro já foi muito perigoso, nos anos 80 e 90, que não se podia andar à noite nas ruas, mas que o Harlem e arredores tinham mudado muito e era mais seguro viver aqui hoje em dia. Eu, na verdade, diria que nem tanto.




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