Cultura & Lazer Titulo
Periferia se mostra no palco do ABC
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
30/08/2003 | 17:55
Compartilhar notícia


Gente comum em um dia como outro qualquer. Uma mulher grávida, um homem prestes a ser pai, uma moça que sai de casa para buscar mãe e irmã na rodoviária, um assaltante, um jovem viciado e sua avó. São personagens anônimos da periferia cujas trajetórias se entrelaçam em determinados momentos.

Escrita e dirigida por Solange Dias, a peça Cantos Periféricos estréia neste domingo no Centro Comunitário Jardim Santo Alberto, em Santo André. Em cena, o Teatro da Conspiração, formado há três anos dentro do Núcleo de Montagem da ELT (Escola Livre de Teatro), de Santo André. A montagem integra a Mostra Santo André de Teatro Contemporâneo, organizada pela ELT.

Alessandra Moreira (a moça), Ana Cláudia Lima (a grávida), Antônio Correa Neto (o homem), Cássio Castelan (o bandido) e Pitty Santana (o drogado) fazem os personagens principais. Em torno deles gravitam outros, interpretados por Addia Cutrim, Emerson Santana e Renata Bonadio.

Os personagens não têm nome. “São histórias de cinco pessoas da periferia. O nome e o passado de cada uma importam menos que suas trajetórias durante aquele dia”, diz Castelan, que não esconde o olhar crítico e a vontade de modificar o mundo embutidos na peça. “Fazemos teatro para mudar algo”, afirma.

A inquietação que move o grupo em Cantos Periféricos é a violência urbana, mas não aquela que o cidadão sofre ao se ver na mira de um revólver. “É um tipo de violência mais cruel, aquela do corredor de hospital cheio, do ônibus lotado, do lotação que carrega uma grávida como se transportasse gado”, diz Castelan.

Solitários, os personagens têm trajetórias individualizadas, embora elas se cruzem. Quando um não é protagonista, surge como coadjuvante na história de outro. “Há cenas que se repetem, mas que mudam de acordo com o ponto de vista do protagonista do momento. E mudam até espacialmente. Em cada uma há uma revelação”, afirma Castelan. Assim, o público assiste a cenas diferentes, apesar de reconhecer a mesma situação.

Como as trajetórias não aparecem em ordem cronológica, “elas se completam aos poucos, formando um quebra-cabeça”. Dá-se, pois, uma metáfora da fragmentação do homem contemporâneo. Que fragmentação é essa? “Está na relação do homem com ele mesmo e com o outro, na dificuldade de manter uma relação, seja ela qual for. Você tem de assumir tantos papéis sociais que não consegue ser você mesmo”, diz Castelan.

A interpretação se revela fora do registro realista. “Há um aprofundamento na construção dos personagens, mas não no viés psicológico”, afirma. Os atores se concentram na partitura física, o desenho corporal no espaço. “São personagens em desequilíbrio corporal, nunca completamente em seu eixo. Estão em cena como se tivessem levado um soco no estômago”, diz. Há uma permanente tensão, reflexo da vida que levam. A preparação corporal é de Carlos Martins.

Cantos Periféricos – Teatro. Texto e direção de Solange Dias. Com o Teatro da Conspiração. Domingo, às 19h. No Centro Comunitário Jardim Santo Alberto – r. Petrogrado, s/nº, Santo André. Tel.: 4975-9264. Entrada franca.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;