Desvendando a economia Titulo
O custo do combate à inflação pelo aumento dos juros
Por Sandro Renato Maskio*
01/11/2021 | 00:34
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No último 28 de outubro, o Copom (Conselho de Política Monetária) elevou a meta da taxa básica de juros da economia brasileira, a taxa Selic, para 7,75%. É a mais elevada desde outubro de 2017.

Mas por que se elevou a meta para a taxa básica de juros? Será que esta medida está correta no atual contexto econômico brasileiro? O que isso impacta em nosso dia a dia? Acredito que estas sejam algumas das questões que permeiam a mente da grande maioria das pessoas ao se depararem com notícia sobre elevação da Selic.

Primeiramente, é importante deixar claro que, nas reuniões do Copom, que ocorrem a cada 45 dias aproximadamente, são tomadas decisões relativas à condução da política monetária, que é operacionalizada pelo Banco Central. Entre elas, a medida mais aguardada sem dúvida refere-se à meta para a taxa Selic.

A taxa básica de juros é a principal referência de remuneração dos títulos de dívida pública, tornando-se para o mercado financeiro o principal parâmetro de custo de oportunidade para alocação dos recursos financeiros. De um lado, impacta a composição das demais taxas de juros dos instrumentos de crédito do sistema bancário. De outro lado, leva os poupadores um pouco mais astutos a avaliar qual a melhor modalidade de aplicação financeira para alocar suas poupanças, considerando as relações entre risco e retorno esperado.

A meta para a taxa Selic, que na última semana subiu 1,5 ponto percentual, para 7,5% ao ano, é indicativo ao mercado financeiro do objetivo a ser perseguido pelo Banco Central ao negociar títulos públicos, com vistas a amenizar as expectativas. A taxa básica de juros efetiva advém das negociações com títulos públicos pelo Banco Central junto às instituições financeiras, composta pela média da taxa de juros praticada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional.

Para o nosso dia a dia, com a ampliação da meta para a taxa Selic, a taxa de juros para tomar crédito deverá se elevar, tornando mais caro o endividamento e o peso do pagamento de juros àqueles que estiverem endividados ou vierem ou precisarem se endividar. Já para quem consegue fazer poupança, será hora de avaliar qual a melhor estratégia de aplicação dos recursos, pois os fundos de renda fixa tendem a melhorar a remuneração paga aos poupadores.

Mas por que a taxa básica de juros aumentou? Aumentou para tentar amenizar a trajetória de elevação que a inflação vem apresentando nos últimos meses. Como comentei há algumas semanas nesta coluna, dificilmente o País não fechará o ano de 2021 com inflação acumulada maior que 10%, embora o Ministério da Economia projete em torno de 8%.

Ao aumentar a taxa básica de juros, o objetivo é reduzir o volume agregado de demanda (consumo) com vistas a diminuir a pressão sobre o nível de preços. O que se espera que ocorra por meio do encarecimento do crédito, seguindo a lógica da decisão tomada na última reunião do Copom.

REMÉDIO AMARGO
Entretanto, olhando para o comportamento da inflação brasileira hoje, será este um remédio eficaz para reduzir o nível de inflação? A pergunta é necessária porque os principais fatores que pressionam a inflação atualmente estão atrelados ao comportamento de oferta da economia e não demanda. Entre estes cabe ressaltar a elevação do preço dos insumos de produção no mercado internacional, comodities minerais e agrícolas no mercado externo; a cotação do dólar a mais de R$ 5, o que torna as importações muito caras, bem como torna mais rentável aos setores exportadores venderem para o mercado externo.

Esses fatores pressionam os preços locais para cima. Somem-se a isso os constantes aumentos dos combustíveis, atrelados em grande parte às questões apontadas acima, e os preço da energia elétrica, dada a crise hídrica que obriga a intensificação do uso de fontes mais caras de energia elétrica, como as termoelétricas.

E onde estão os fatores de demanda que justificaram a elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central?

Ao que parece, o remédio imposto com a elevação da taxa básica de juros será amargo, implicará em maior despesa com pagamento de juros pelo governo, maior dificuldade de administrar o orçamento público, e com pouca eficácia para desacelerar a inflação.

*Sandro Renato Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico da Faculdade de Administração e Economia da Metodista. 




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