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Mercado se ‘enerva’ e faz o governo adiar Auxílio Brasil

Intenção do Planalto era anunciar benefício de R$ 400; elevação do dólar e queda da bolsa alteraram os planos

Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
19/10/2021 | 00:01
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O governo federal preparou o cenário para que o ministro da Cidadania, João Roma, anunciasse o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, de R$ 400. Desse valor, R$ 300 seriam cobertos pela PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios e os R$ 100 restantes ficariam além do teto de gastos. Essa faixa ‘descoberta’ do benefício despertou a ‘ira’ do mercado financeiro. O dólar subiu a quase R$ 5,60 e a bolsa de valores caiu 3,28%. O resultado foi o cancelamento do evento.

“O efeito sobre o mercado financeiro não está associado especificamente à questão do programa social, do auxílio às famílias em condições vulneráveis, mas sim à questão da gestão do orçamento. Com o auxílio de R$ 400 havia o temor de rompimento do teto de gastos e que isso agrava um pouco mais a questão do déficit público”, analisa Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo.

Segundo o economista, isso sinaliza com a possibilidade de maior necessidade de financiamento, o que significa que o governo terá de ampliar a dívida pública, “com efeito de ascensão sobre a taxa de juros e, claro, maior dificuldade de retomar a sua capacidade de realização de investimentos, especialmente ligados à infraestrutura”.

Maskio destaca o temor dos investidores de o governo federal tenha de elevar os gastos públicos e, com isso, torne mais difícil o equilíbrio das contas públicas, amplie a necessidade de endividamento e gere o aumento da taxa de juros.

“Isso dificulta o investimento por parte do governo por ter orçamento mais apertado, desequilibrado e com pouquíssima margem de manobra. O que, do ponto de vista produtivo, torna necessário reduzir alguns gargalo, como a questão portuária e de logística, que necessitam de investimento público. E no momento o País não tem essa capacidade”, apontou.

Após o cancelamento do evento, os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, e da Cidadania, João Roma, estiveram com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para discutir os detalhes do texto.

A reunião da Câmara também contou com as presenças dos deputados Hugo Motta (Republicanos-PB), relator da PEC dos precatórios, e Marcelo Aro (PP-MG), relator da medida provisória do Auxílio Brasil.

A equipe econômica quer limitar o valor extrateto a R$ 30 bilhões. Questionado sobre essa cifra, o ministro João Roma disse que “não há valores definidos ainda”. Há pressão dentro do governo e no Congresso para que o valor fora do limite de despesas seja ainda maior.

Roma disse ainda que era preciso conversar com o presidente da Câmara sobre os detalhes, uma vez que envolve mudanças na PEC. “Estamos chegando aos detalhes finais de uma composição que viabilize (o auxílio)”, disse aos jornalistas ao deixar a Presidência da Câmara. “Pensamos em anunciar, mas não validamos ainda”, afirmou.

Questionado sobre o valor de R$ 400, Roma disse que a suspensão do anúncio não é uma desistência. “Não é nada de desistir. Apenas não temos ainda os detalhes. Esses números ainda não estão validados”, afirmou. (com Estadão Conteúdo)
 




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