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Insulina, hormônio da vida

Há 100 anos a ciência descobria como fabricar a substância, salvando milhares de pessoas que são portadoras de diabete tipo 1

Por Aline Melo
10/08/2021 | 05:59
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André Henriques/ DGABC


Imagine receber um diagnóstico que é uma sentença de morte? Descobrir que se tem uma doença, sem cura, e que sua expectativa de vida é de cerca de oito meses? Há 100 anos essa era a realidade das pessoas que tinham diabete tipo 1, quando o pâncreas não produz insulina. Hormônio responsável por toda a energia do nosso corpo, essa substância passou a ser produzida artificialmente em 1921, mudando a vida das pessoas e salvando milhares de vida.

A descoberta foi um trabalho conjunto do quarteto formado pelo cientista canadense Frederick Banting, pelo seu compatriota e estudante de medicina Charles Best, pelo professor da Universidade de Toronto, o britânico John Macleod, e pelo seu assistente James Collip, também do Canadá. Os pesquisadores fizeram uma série de experimentos e conseguiram estratificar a insulina, de forma que, ao ser aplicada, rapidamente controlava os níveis de açúcar no sangue, acelerando o processo de recuperação dos pacientes. Este feito rendeu ao quarteto o Prêmio Nobel da Medicina em 1923.

No mesmo ano surgiu a primeira insulina disponível em larga escala, a Illetin, da farmacêutica norte-americana Eli Lilly. E meses após este acontecimento, mais uma farmacêutica deu início à produção da insulina Leo, do antigo laboratório Novo, atual Novo Nordisk.

A dibete tipo 1 pode aparecer logo na infância ou na adolescência e é identificada por meio de simples exames laboratoriais, que apontam que o pâncreas não produz insulina. Já no tipo 2, o organismo produz o hormônio, mas em quantidade insuficiente ou sem a capacidade de processar a substância.

Para marcar o centenário da descoberta da insulina, a ADJ Diabetes Brasil, associação que há 40 anos divulga informações e promove apoio aos diabéticos e seus familiares, lançou no fim de julho a campanha digital 100 Anos da Insulina – Ballet da Vida, buscando retratar, por meio da arte, a importância de dois líquidos fundamentais para a vida: a água e a insulina. O vídeo pode ser visto no link https://bit.ly/3iuMd4c.

Diretora e coordenadora do departamento de educação da ADJ, a endocrinologista Denise Franco explica que é a insulina que consegue transformar tudo o que as pessoas consomem em energia para execução de todas as atividades. “É a insulina que abre a porta da célula para a glicose entrar. Sem ela, o açúcar fica circulando pelo sangue”, exemplificou. A médica destaca a necessidade de se divulgar que o fato de o diabético precisar de insulina não quer dizer um agravamento do quadro, mas, sim, uma solução para se ter mais qualidade de vida.

O jovem Arthur Yves Moreira Máximo Silva, 15 anos, sabe bem do que a médica está falando. Aos 5, a família do jovem começou a notar a criança abatida, sem energia, com uma expressiva perda de peso, mas com dificuldade de chegar a um diagnóstico. “Ele tinha feito exame de sangue que deu uma alteração, mas na época os médicos acharam que não era nada grave”, lembrou a mãe, a corretora de seguro Aureloyse Moreira Máximo, 51. A família mora em Ribeirão Pires e, há uma década, enfrentou a falta de especialistas para atender à criança. “Nem a curva glicêmica se fazia em crianças pequenas naquela época”, afirmou Aureloyse.

Quando finalmente conseguiram fechar o diagnóstico, Arthur precisou ficar alguns dias internado para verificar se não havia alguma sequela em seus órgãos, quadro que pode aparecer se a diabete tipo 1 não for tratada rapidamente. “Lembro que senti bastante medo, especialmente no começo, por causa das injeções diárias. Depois, a gente vai acostumando”, afirmou o jovem, que atualmente usa bomba de insulina com sensor, aparelho que vai injetando o hormônio de acordo com a necessidade. Para a família, a insulina é vista como a salvadora do garoto. “Graças a essa descoberta tenho meu filho comigo hoje”, celebrou a mãe. 

Associação presta apoio aos diabéticos

Há mais de 30 anos, a Adiabc (Associação de Diabetes do ABC) presta apoio e assistência aos diabéticos e seus familiares. Fundada e presidida pelo endocrinologista Marcio Krakauer, que também coordena o departamento de tecnologia, saúde digital e telemedicina da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), a instituição atua na difusão de informações e boas práticas relacionadas à diabete.

A Adiabc, assim como outras grandes instituições, também atua como intermediária entre pacientes que têm sobra de algum insumo ou medicação e aqueles que, por algum motivo, ainda não tiveram acesso aos remédios indicados. O Diário mostrou em 14 de julho que pacientes do Grande ABC estavam enfrentando dificuldades para retirar medicamentos nas farmácias de alto custo da região e é a Adiabc que os auxilia nesses casos. O objetivo primário da instituição é levar informação para as famílias.

Krakauer destacou que os 100 anos da descoberta da insulina marcam a possibilidade de os diabéticos tipo 1 terem qualidade de vida semelhante a quem não tem a doença e afirmou que as insulinas se modernizaram muito nos últimos 20 anos, se aproximando cada vez mais do hormônio naturalmente produzido pelo pâncreas. “As mais modernas ainda não são acessíveis a todo mundo, mas independentemente do tipo de insulina que a pessoa usar, pela falta desse hormônio os pacientes não morrem mais”, explicou o médico.

Livro destaca experiências de pacientes

Com o intuito de sensibilizar a população brasileira sobre a importância do desenvolvimento da insulina e mostrar a evolução da tecnologia ao longo de um século, a Momento Saúde Editora lança no sábado o livro 100 Anos de Insulina: A Descoberta Que Salva a Vida de Milhões de Pessoas. O evento de lançamento será on-line e gratuito, às 9h, no site www.100anosdeinsulina.com.br.

A jornalista Letícia Martins entrevistou 15 pessoas com diabete, além de vários profissionais da saúde, que relatam suas experiências, destacando a evolução do tratamento em décadas. Os capítulos abordam os sintomas da diabete, a vergonha em ter a condição, as novas tecnologias, as pesquisas em prol do desenvolvimento de novas terapias, os direitos das pessoas ao buscar o tratamento adequado no SUS (Sistema Único de Saúde), entre outros assuntos.

 “Precisamos desmistificar a ideia de que usar insulina significa que a diabete piorou. Insulina não é castigo. Insulina é vida. Por isso, o livro é voltado para todas as pessoas que têm diabete, seus familiares e amigos, para que possam compreender a importância deste hormônio na vida de quem tem a condição”, afirmou Letícia. A obra conta com o prefácio do endocrinologista e pesquisador Carlos Eduardo Barra Couri e estará disponível nas versões impressa e digital. 




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