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JK: 2006 será o ano de lembrar do presidente bossa nova
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
25/12/2005 | 09:13
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O mito JK e o homem Juscelino Kubitschek (1902-1976) retornam como um peixe vivo que não pode viver fora da água fria. Revive-se o político que passou à história como o construtor do Brasil confiante no futuro em plena Guerra Fria, alegre com seu presente e desenvolvido em relação ao seu passado. Enquanto a minissérie da Rede Globo sobre o presidente brasileiro que construiu Brasília não começa, as livrarias já recebem duas biografias ilustradas sobre o presidente, no embalo da telebiografia.

O Jovem JK (Nova Alexandria, 160 págs., R$ 26), do escritor Roniwalter Jatobá, destaca a formação do jovem pobre de Diamantina (MG), do capitão-médico da Revolução de 32 e do homem que viria a ser um político inovador que planeja o futuro no binômio energia e transporte e cuja posse na presidência completam 50 anos em 31 de janeiro. A jornalista Marleine Cohen preparou Juscelino Kubitschek - O Presidente Bossa-Nova (Editora Globo, 312 págs., R$ 42), espécie de libreto para acompanhar a história que a emissora de TV exibirá - tem prefácio de Maria Adelaide Amaral e uma entrevista com Oscar Niemeyer, arquiteto de Brasília. Em 2002, Wagner Tiso e Zé Renato lançaram Memorial JK (Biscoito Fino), com músicas de serestas e temas regionais, além da favorita de JK, Peixe Vivo, para o centenário do presidente.

A nova capital federal no interior no País, cuja construção estava prevista nas Constituições desde 1891, foi a jóia da coroa do ambicioso plano de metas de Juscelino Kubitschek na presidência do país (1956-1961). O salto de industrialização, capitaneado pelas indústrias montadoras automobilísticas do Grande ABC, foi outra marca de seu governo. Sua simpatia e estilo alegre, contrastados com a sisudez e solenidade dos chefes de governo anteriores ligados ao passado patriarcal, ditaram o ritmo da era JK, a era da bossa nova, da primeira Copa do Mundo, do Cinema Novo. Eram os anos dourados que viraram de chumbo com o golpe de 1964. O que JK construiu no imaginário nacional foi demolido nos governos militares e nos desastrados governos civis posteriores.

A inauguração de Brasília e a indústria automobilística catalisadora do desenvolvimento nos anos 50 parecem distantes no tempo, mas foram desafios gigantes e pouco críveis à época. Mais difícil, porém, foi romper com um ciclo de crises políticas e instabilidades. A posse de JK, que militares e a extrema-direita queriam impedir, só foi garantida por um facção liderada pelo general Henrique Lott, partidário da democracia e da legalidade, que saiu às ruas com tanque e tudo em novembro de 1955. JK assumiu enfim, governou sob saraivada de críticas da imprensa e da oposição - falar mal do Brasil e dos brasileiros era o esporte nacional -, não caiu na tentação de mudar as regras para se reeleger e passou o poder para o sucessor, Jânio Quadros. Ser eleito, assumir, governar e passar a faixa, nessa ordem, era raro para um presidente na jovem República. "Eleição não mata a democracia", dizia JK.

JK deixou o governo com toda a popularidade que um presidente poderia sonhar. Eleito senador por Goiás (1961-1964), era favorito numa eleição presidencial em 1965, mas não era nome simpático aos generais golpistas, da direita e de interesses econômicos - JK havia rompido com o FMI (Fundo Monetário Internacional) por não querer fazer uma reforma cambial imposta pelo órgão. Com o golpe, o ex-presidente teve seus direitos políticos cassados e foi viver no exílio. Voltou em 1967 para dedicar-se a sua fazenda em Goiás e articular a volta à presidência. Morreu num acidente na Via Dutra, em agosto de 1976, sob circunstâncias que ainda levantam suspeitas.

Fazer o país avançar "50 anos de desenvolvimento em 5" foi vontade política na prática, e não retórica de campanha. JK acreditava que a sociedade podia ser transformada pela política, o que faz dele um idealista romântico perto das decepções da atualidade.




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