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Brasileiros vivem horas de angústia e pânico
Gislayne Jacint
e Andréa Catão Maziero
Do Diário do Grande ABC
12/09/2001 | 00:06
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O brasileiro Renato Cila, 49 anos, ex-jogador de futebol e dono de uma rede de hotéis em Nova York, disse que o clima na cidade era de pânico após o atentado terrorista. “Fiquei preso no trânsito por três horas. Foi um sufoco". Ele disse que os colégios não liberavam os alunos sem a presença dos pais. “Um dos meus filhos estava na escola e tive de buscá-lo.”

O cheiro de fumaça era forte, segundo Cila, que está há 20 anos em Nova York. “A população ficou abatida. Muita gente do meu bairro (Jericho) tem familiares que trabalham no World Trade Center e ficou desesperada, pois não há informações das vítimas.”

Cila afirmou que os moradores também não podiam sair de casa. “As ruas foram fechadas. Eu tentei ir à lavanderia, mas fui impedido pela polícia. Havia muitas ambulâncias.”

O jornalista Rodrigo Planet disse que ficou mais de quatros horas no aeroporto de Dallas. Ele tinha como destino San Diego, mas o avião não recebeu permissão para seguir viagem. “Embarcamos, mas o avião manobrou e voltou ao aeroporto. Fomos informados que vários aviões tinham sido seqüestrados.” Ele disse que os passageiros foram hospedados em um hotel. “Gostaria de estar no Brasil, mas não vou voltar”, disse Planet, que planeja ficar um mês nos EUA.

Kátia Coelho Soares, 24 anos, de Diadema, mora em Newark, cidade vizinha a Nova York, e afirmou estar com medo depois de tudo o que aconteceu. “Dá vontade de voltar ao Brasil”, disse. Kátia está nos EUA há um ano e sete meses, junto com os dois irmãos.

A série de atentados terroristas deixou em agonia aqueles que têm parentes residentes em Nova York e Washington. A maioria não conseguiu entrar em contato telefônico pela manhã, quando as primeiras imagens foram transmitidas pelas TVs.

A professora Edna Rey Ribeiro, 54, de Santo André, só recebeu o telefonema do filho Dênis, 26, que reside em Nova York há um ano, por volta das 14h. “Fiquei com o coração apertado por não conseguir nenhum contato, ainda mais pelas imagens chocantes que vi pela televisão. Mais tarde um amigo dele me ligou e disse que Dênis havia passado um e-mail dizendo que estava tudo bem. Mas só fui ficar tranqüila depois que ouvi a voz dele”, afirmou Edna. Ela viajaria nesta terça para Nova York. “Nem sei quando vou poder vê-lo”, disse.

A dona de casa Helena Cesta, 60, também de Santo André, recebeu por volta das 10h uma ligação do filho Carlos André, 30, que mora próximo ao World Trade Center. “Ele estava no térreo, onde mora, quando viu o primeiro avião atingir a torre e disse que sairia de lá, pois a fumaça tinha atingido seu apartamento. Até então, imaginávamos que se tratava de um acidente. Liguei a TV, passei a acompanhar tudo e fiquei desesperada, pois não consegui mais falar com ele.”

Segundo Helena, horas mais tarde conseguiu novo contato com o filho. Ele disse que, como o metrô não funcionava, ele e sua mulher caminharam por cerca de três horas até a casa de um amigo brasileiro.

No entanto, o telefonema do filho não a sossegou. É que Helena tem uma filha, Rita de Cássia, 35, que mora em Washington. “Entrei em pânico, pois ela não me ligava e eu não conseguia ligar. Só no fim da tarde (por volta das 17h30) ela entrou em contato.”

Carlos Bertaco, 36, trabalha num banco em Nova York e reside com a mulher e três filhos pequenos em New Jersei. Ele, porém, está de férias e, desde sábado, está em Santo André com toda a família.

Os muçulmanos temem sofrer discriminação após o atentado nos EUA. A declaração é do vice-presidente da World Assembly Of Muslim Youth (Assembléia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina), Jihad Hassan, que mora em São Bernardo. “Temos receio de que aumente o preconceito contra os árabes. Repudiamos o que aconteceu e não queremos ser ligados a esse fato.”

Ele afirmou que no Grande ABC existem 500 famílias muçulmanas. Segundo Jihad, a comunidade islâmica repudia os atos terroristas. “É com muita tristeza que observamos esse fato. Independentemente de quem seja o autor do ataque, fazemos um apelo às organizações e ao governo. Esperamos que eles sentem para conversar, tentem resolver os problemas, para que não aconteça isso novamente”, disse Jihad, que também é consultor religioso da autora Glória Perez para a próxima novela da Rede Globo, o Clone.




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