O clamor foi tão grande que Doyle resignou-se a trazê-lo de volta em outras séries de aventuras, até a aposentadoria às vésperas da Primeira Guerra. Mas Sherlock continua vivo em dezenas de adaptações de suas aventuras para o cinema e para a televisão; e nas milhares de edições em todo o mundo. Acaba de chegar às livrarias, em luxuoso estojo protetor, a saga completa de Holmes (Ediouro, R$ 145), em três belos volumes totalizando cerca de 1,5 mil páginas. A editora propõe novas traduções, uma iniciativa interessante; pena que a revisão não tenha sido mais cuidadosa, pois há mais letras que faltam, sobram ou são trocadas do que o razoável.
Nada disso atrapalha, porém, a curtição de ler as aventuras de Sherlock Holmes de cabo a rabo. Não é o caso de se trancar num quarto e passar três meses lendo incessantemente estas obras completas. São livros para se pegar ao acaso e ler um conto, deixar de lado, e dias depois retomar a leitura, regido tão-somente pelo prazer de acompanhar as incríveis e mirabolantes deduções do hierático detetive inglês.
É tamanha sua popularidade, 115 anos depois de seu aparecimento, que ainda no ano da graça de 2002, 99,99% dos turistas que visitam Londres priorizam como passeio obrigatório o endereço 221-B Baker Street – e se decepcionam, porque ele simplesmente não existe. Na internet, contabilizam-se mais de 228 mil sites e referências ao detetive que Conan Doyle criou. O personagem é calcado, segundo as evidências, no detetive Charles Dupin, personagem-chave dos contos policiais e de mistério do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849).
Dupin foi o guru oculto de Holmes/Conan Doyle. É só conferir, por exemplo, como o inglês assimila a filosofia da dedução como postura fundamental na investigação e chega a tomar de empréstimo algumas soluções, como a dos Crimes da Rua Morgue de Poe, reencarnadas no Cão dos Baskerville. As semelhanças não param por aí: o assassinato no quarto fechado, o detetive amador ridicularizando os profissionais, o amigo obtuso o suficiente para não desvendar antes da hora o mistério. Melhor dizer que Poe/Dupin inauguraram praticamente um gênero, e que Conan Doyle foi o segundo a explorar com notável engenho e arte.
Segundo, porém o mais famoso. Entre Um Estudo em Vermelho, ambientado na Inglaterra vitoriana dos anos 80 do século XIX, e Seu Último Caso, publicado em 1927, mas ambientado em 1916, no olho do furacão da Primeira Guerra, Conan Doyle construiu um sucesso permanente – a contragosto, é certo, já que dava mais importância a seus romances históricos, contra tudo e contra todos.
Quem desejar saber mais sobre Holmes, basta consultar o site www.sherlockian.net ou fazer perguntas sobre o detetive no e-mail credmond@uwaterloo.ca (em inglês).
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