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Vila São João espera mais atenção
Bruna Gonçalves
do Diário do Grande ABC
29/08/2011 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo e Bahia são Estados brasileiros que dão nome às ruas de paralelepípedo da Vila São João, em Rio Grande da Serra. O bairro residencial e de vasta área verde faz divisa com Ribeirão Pires e só ganhou pavimentação há cerca de seis anos.

Segundo os moradores, a obra é uma das principais conquistas da vila, que reúne cerca de 2.500 habitantes. Antes, as vias eram de barro e dificultavam a locomoção em dias de chuva. Porém, eles apontam outras reivindicações, que estão à espera de iniciativas do poder público. Uma é a construção de creche, já que muitas mães precisam recorrer a outros bairros da cidade ou mesmo de Ribeirão Pires.

"Quem tem filho pequeno é prejudicado. Precisei tirar minha filha de 5 anos da escola pela distância", afirma a dona de casa Joelma Oliveira, 28 anos, mãe de três filhos. Na vila há apenas uma escola estadual, que atende Ensino Fundamental e Médio. Os moradores também pleiteiam Unidade Básica de Saúde com várias especialidades. Atualmente, contam com Centro de Atendimento, Prevenção e Ações de Saúde. No local, uma funcionária informou à equipe do Diário que o atendimento é feito duas vezes na semana, com clínico geral e enfermagem.

Há 26 anos morando no bairro, a vendedora Cida Aparecida Cort, 48, acredita que o local é esquecido pela administração por ser afastado do Centro. "Era bem pior, mas ainda falta muita coisa. Não temos açougue, banco e mercado grande. Precisamos recorrer a Ribeirão Pires, que é mais perto." Da vila até o Centro de Ribeirão são cerca de 2,5 quilômetros, enquanto que para o Centro de Rio Grande a distância é o dobro.

Já na área da Saúde, ela conta que o posto não é suficiente. "Muitas vezes não tem remédio. Se quiser outras especialidades, como ginecologista, precisa ir até a Vila Lopes e esperar para conseguir consulta."

Outra reclamação dos moradores é quanto ao transporte público. Eles afirmam que passam apenas duas linhas, e a espera pode chegar a meia-hora.

Mesmo com a carência de infraestrutura, muitos confessam que não trocariam a vila por outro bairro. Para eles, a tranquilidade é o ponto forte, mas admitem que a vila é bairro-dormitório.

"É clima de interior, tem qualidade de vida. Não tem assalto. Por outro lado, falta oportunidade de emprego e, por isso, todo mundo trabalha fora",afirma Bruno Aleff, balconista de um mercadinho da vila.

Sobre os problemas, a Prefeitura informa que realizou diversas intervenções, como pavimentação, criação do espaço de atendimento e prevenção de Saúde.

Também citou a revitalização da praça, que se tornou espaço de lazer. Porém, não respondeu os questionamentos sobre linhas de ônibus e construção de escola.

 Dona Diva acompanhou as mudanças do bairro de perto

Dona Niva. É assim que a costureira e proprietária da única loja de material de construção da vila Anivalda Meira Sertão, 57 anos, é conhecida na vizinhança.

Ela vive no bairro há 32 anos, é uma das mais antigas moradoras, e garante que viu muita coisa mudar. Quando chegou havia apenas quatro casas, mas atualmente a rua é tomada por residências. As ruas eram de barro, agora são de paralelepípedo.

Apenas a tranquilidade é que não mudou para Anivalda, que veio da Bahia.

"Lá Bahia era muito difícil. Trabalhava na roça, até que meu marido veio para Santo André trabalhar na construção civil como pedreiro", relembra.

Como ele tinha parentes em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, viu uma casa para alugar na vila. Voltou para buscar a família e, desde então, Anivalda não se mudou mais. "Por quatro meses pagamos aluguel. Depois compramos o terreno e construímos", afirma a costureira, que criou os três filhos e atualmente mora sozinha.

Há dois anos, montou a loja. "O movimento do comércio é tranquilo, mas é bom para viver mais", brinca a costureira, que faz ajustes e conserta roupas dos moradores.

Ela confessa que não troca o bairro por nada. "Aqui construí minha vida. Os vizinhos são minha família."

Mesmo assim, ela enumera algumas melhorias que a administração poderia fazer. "Precisamos de mais atenção. A construção de creche é importante, posto de Saúde com mais médicos e a oferta de cursos profissionalizantes para estimular os jovens da vila."

 

Parquinho e campo são opções de lazer

 

Brincar na rua ou ficar dentro de casa. São essas as opções das crianças e adolescentes da Vila São João. A principal reclamação é a falta de opções de lazer. O bairro conta apenas com uma praça, que tem dois balanços e duas gangorras e um campo de futebol, de terra.

"Mesmo sendo tranquilo, o jeito é ficar dentro de casa. Se quiser diversão precisa ir para o Centro ou para outra cidade", afirma a dona de casa Roseni dos Santos, 45 anos.

A filha Mariana, 11, brinca com a amiga Bruna Pereira dos Santos, 10, em sua casa. Pular corda, jogo da memória, baralho e videogame são algumas das distrações das garotas. "Precisava ter algo melhor para brincar no bairro", afirma Mariana.

A dona de casa Joelma Oliveira de Lima, 28, mãe de três filhos, garante que é difícil manter as crianças entretidas. "O jeito é brincar em casa, mas fazem aquela bagunça. Para que se divirtam, preciso levar em Ribeirão Pires. Aqui não tem nada, a não ser o parquinho na praça, que foi arrumado", afirma.

A filha Vitória, 5, conta que adora brincar de escolinha, desenhar e pintar. Já o irmão Anderson, 10, como todo garoto, adora jogar bola e também de brincar de esconde-esconde.

 

 

Ademir Medici

 

O bairro não preservou a excelência da sua água

 

A pequena Vila São João já alcançou - e ultrapassou - o Jubileu de Ouro, pois foi aberta em 1958 por iniciativa de João Lopes, que é parente de Joaquim Lopes, que foi o loteador da vizinha Vila Lopes. Vila São João foi traçada, inicialmente, com 14 quadras, oito ruas, 289 lotes, espalhados por uma área de 171.992,21 metros quadrados. Tem transcrição sob o número 16.163 do 1° Registro de Imóveis de Santo André, conforme levantamento da advogada e historiadora Gisela Leonor Saar.

Algumas características marcam o loteamento. Sua geografia é acidentada, o que levou os loteadores a desenharem ruas em curvas acentuadas. A água era abundante e fresca, espalhando-se por vários córregos, que com a abertura de novos loteamentos acabaram aterrados. Por exemplo: a família Dotta, vizinha à propriedade, mantinha uma mina d'água exuberante, hoje melancolicamente engolida pelo progresso.

Historicamente, lembra Dra. Gisela, Vila São João e os loteamentos vizinhos - Jardim Raquel, Jardim Guiomar, Vila Marcos, Vila Lopes - foram abertos junto à Estrada Velha de Ribeirão Pires, que interligava este município à área da atual Solvay, antiga Eletrocloro, depois de cortar todo o Rio Grande.

No início, as ruas de Vila São João foram denominadas com letras: A, B, C, D; posteriormente, receberam o batismo com nomes de estados brasileiros, entre os quais Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Piauí. As oito ruas permaneceram por décadas sem pavimentação. Hoje já têm esse melhoramento. Antiga luta dos moradores é pela criação de uma creche.




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