O governador Geraldo Alckmin (PSDB) esteve ontem em São Bernardo para inaugurar o primeiro serviço estadual especializado em internação de grávidas dependentes de crack e outras drogas. O serviço funciona na clínica pública mantida pelo governo no Hospital Psiquiátrico Lacan, no bairro Assunção.

No entanto, para utilização do serviço, as gestantes usuárias de entorpecentes do Grande ABC precisarão fazer o cadastro e triagem na Capital. O Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), localizado no bairro Bom Retiro, é o órgão estadual que centralizará a demanda e funciona 24h. Os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) dos municípios não poderão fazer encaminhamento.

O governo estadual prevê investimento de R$ 700 mil por ano para manter o serviço, que oferece acompanhamento clínico, psiquiátrico e obstétrico. No local já existem outros 70 leitos especializados no tratamento de desintoxicação de adultos. Todos foram criados nos últimos três anos e são custeados pelo governo estadual. Hoje a região conta com 310 leitos psiquiátricos via SUS (Sistema Único de Saúde).

A criação do serviço especializado deverá aumentar o vínculo entre mãe e filho a longo prazo. "Temos verificado em nossos hospitais o aumento no número de mulheres gestantes que, após o parto, perdem a guarda judicial das crianças em razão do problema da dependência química" explicou o governador. A segunda cidade referência nesse tipo atendimento será Itapira, no Interior, que receberá, em breve, 15 leitos. O período máximo de internação será de 90 dias e só serão aceitas mulheres com até seis meses de gestação. O Hospital Estadual Serraria, em Diadema, será retaguarda para casos de maior complexidade e também para realização de partos.

Alckmin afirmou que está em estudo a criação de outros 40 leitos, também em São Bernardo, que serão destinados exclusivamente à recuperação de adolescentes dependentes de drogas. No segundo semestre, serão entregues 311 - para tratamento de adultos - em todo o Estado.

PROTESTO
O governador foi recebido com protestos na entrada do hospital. Integrantes do Movimento Nacional Antimanicomial da região pediam investimento na criação de novos Caps e residências terapêuticas e faziam críticas ao modelo de tratamento oferecido.

Os manifestantes utilizaram faixas, cartazes e mega-fones. "Não é esse o tratamento que pedimos. Não existe recuperação em hospital psiquiátrico. Queremos que todos sejam tratados com dignidade", disse Elisabete Henna, integrante do movimento.

Secretário afirma que Prefeitura não foi consultada

A notícia da abertura dos leitos para gestantes dependentes químicas na clínica estadual no Hospital Lacan, em São Bernardo, causou estranheza ao secretário municipal de Saúde, Arthur Chioro. O hospital pertence ao Grupo Saúde Bandeirantes, mas está sob gestão municipal perante o SUS (Sistema Único de Saúde). "Não fomos consultados. Soubemos um dia antes. A estratégia é importante, mas inadequada onde foi instaurada." Chioro considera a iniciativa louvável, mas avalia que seria melhor aproveitada se implementada em hospitais gerais.

HOSPITAL DE CLÍNICAS
Na solenidade, o governador Geraldo Alckmin confirmou que irá liberar, até junho, o valor de R$ 20 milhões para ajudar a custear as obras do Hospital de Clínicas de São Bernardo, previsto para ser entregue até o fim do semestre. (Maíra Sanches)