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Crescer para enfrentar a crise
Por Maria F. Ramos Coelho *
02/03/2009 | 07:00
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Os desdobramentos da crise financeira mundial no Brasil trouxeram uma clara preocupação com a manutenção do ciclo de crescimento econômico iniciado em 2004. Um ciclo que permitiu ao país novamente manter, depois de duas décadas, taxas anuais de crescimento acima de 3% ao longo de período maior que 4 anos. Ficou evidente a relevância do crédito na economia, assim como o papel fundamental que bancos públicos cumprem na promoção do crescimento ao garantir, e ampliar, os recursos disponíveis para que empresas e famílias deem continuidade às suas decisões de investimento e consumo num momento de forte restrição do crédito por parte das instituições privadas.

Nesse sentido, o governo agiu e foram reduzidas as exigências para os depósitos compulsórios, abertas linhas especiais de financiamento, utilizando, inclusive, as reservas cambiais, e diminuídas as alíquotas de determinados impostos, com destaque para o IPI, IOF e IRPF.

Essas medidas visam reverter a escassez de crédito, e afastar a possibilidade de a falta conjuntural de liquidez transformar-se em uma crise de solvência. Contabilizadas, as ações do governo já ultrapassam o montante de R$ 250 bilhões ou algo em torno de 9% do PIB projetado para 2008.

No cotidiano das famílias está em jogo a continuidade da criação de mais de um milhão de novos empregos ao ano, média observada entre 2003 a 2008 e que garantiu a ascensão ao mercado consumidor de 20 milhões de pessoas, permitindo ao País vislumbrar, de maneira consistente, uma redução das desigualdades sociais e regionais. Para tanto, em outra frente de atuação, o governo concentra esforços na realização rápida e na ampliação dos investimentos públicos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento.

A execução mais célere dos projetos favorece a geração de emprego, principalmente em setores intensivos em trabalho, como a construção civil, que em janeiro apresentou saldo positivo de 11 mil novas vagas. Contribuiu para esse resultado o crédito habitacional da Caixa, que manteve o ritmo de contratação desde junho de 2008 e bateu o recorde para o mês de janeiro, com contratações na ordem de R$ 1,9 bilhão e contabilizando mais de 500 mil unidades financiadas em 12 meses.

Reconhecidamente, investimentos na construção civil, na infraestrutura em particular, tendem a aumentar a produtividade da economia e podem significar uma nova dinâmica de desenvolvimento para o País. Do ponto de vista social, a realização antecipada das obras do PAC para saneamento e habitação popular traz, além de novos postos de trabalho, uma melhora significativa na qualidade de vida, principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos.

Outro componente da estratégia do governo tem sido o aprofundamento das ações sociais de transferência de renda. Tradicionalmente utilizada com o duplo objetivo de garantir cidadania e manter estável o consumo das famílias, a antecipação de algumas medidas torna-se uma salvaguarda importante caso o quadro da crise internacional se agrave. Combinando ampliação do Bolsa Família, extensão de mais dois meses para o Seguro Desemprego e ganhos reais de salário contribui-se para manutenção de um mercado interno de massas aquecido. Essas medidas são especialmente úteis para que as empresas possam escoar a produção, já que tiveram exportações reduzidas.

Mesmo considerando o risco de, neste momento, se fazer previsões, a confluência dessas ações permite considerar possível um relativo descolamento do País da crise, com base numa dinâmica econômica diferenciada. Essa realidade se traduziria em uma taxa de crescimento positiva frente a um quadro mundial recessivo. O Brasil só se encontra em melhores condições hoje devido a escolhas feitas no passado recente, que se traduziram numa opção definitiva pela retomada do crescimento, apoiada na capacidade de ação e planejamento do Estado, que inverteu as prioridades na execução dos investimentos públicos, pautado pela preocupação em reduzir as desigualdades. Esse modelo de desenvolvimento baseou-se no fortalecimento do mercado interno de massas, na garantia da estabilidade monetária como patrimônio popular e na inserção soberana do Brasil no cenário internacional.

O momento atual é promissor para se investir em novos caminhos, pois o lado positivo da crise é o esfacelamento de dogmas que até pouco tempo condenaram o país à estagnação e levaram o mundo a uma crise inédita. A manutenção do ciclo de crescimento sustentável é a única alternativa para enfrentar toda essa turbulência e será o maior acontecimento econômico no Brasil após a estabilização monetária.

* Presidenta da Caixa Econômica Federal




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