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Gabi escreve sobre mulheres

Em livro, ela refaz a história de 13 mulheres lançadas ao fundo do poço por relacionamentos doentios

02/12/2008 | 07:00
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Nas horas em que passava nos bastidores da novela Duas Caras (Globo), a jornalista, atriz e apresentadora Marília Gabriela refletia sobre o amor além da conta, o amar demais. Era um momento Lilith, ela define, em que vivia na tela a personagem Guigui, que nutria uma paixão resignada, e se preparava para subir ao palco do teatro como Hillary Clinton, no monólogo Aquela Mulher, escrito para ela pelo autor angolano José Eduardo Agualusa.

Certa de que era hora de falar ainda mais de amor, ela foi parar numa reunião do grupo Mada (Mulheres Que Amam Demais Anônimas) e saiu de lá com a base para o livro Eu Que Amo Tanto que, pronto, tem textos dela e fotos de Jordi Burch.

Aquela Mulher roda capitais e volta para nova temporada em São Paulo no dia 14 de janeiro. Já o lançamento de Eu Que Amo Tanto é nesta terça-feira, com a abertura da exposição de Burch na Galeria Nara Roesler. Marília ouviu depoimentos e refaz no livro a história de 13 mulheres anônimas, lançadas ao fundo do poço por relacionamentos doentios, construídos em bases frágeis de auto-estima e desespero diante da vida. As histórias são jogadas nas páginas num fluxo ligeiro e pensamento, com uma autocrítica e um delírio típicos de febre. É uma febre à qual, brinca a autora, as mulheres parecem ter predisposição genética. Sobre a pesquisa que descobre traços comuns entre a manicure do Sumaré e a senadora Hillary, Marília deu a seguinte entrevista.

Desde o começo do ano, você estava fazendo novela e se preparando para uma peça. Como se lançou nesse projeto tão jornalístico?

MARÍLIA GABRIELA - O livro nasceu na mesma época em que o (José Eduardo) Agualusa estava escrevendo a peça. Na verdade, a novela te ocupa em parte, porque há muito tempo ocioso entre as gravações. Você fica literalmente fazendo nada, esperando a sua hora de gravar, sentadinha. Na época, estava conversando muito com o Jodi (Burch) para fazermos um trabalho juntos. Ele propôs falarmos sobre o amor. E eu pensei em mulheres que amam demais. Sempre me impressionou essa coisa de um material tão nobre virar uma coisa de horror, uma patologia. A base dessa patologia toda é matéria-prima da maior categoria.

Qual foi o processo de composição do livro?

MARÍLIA GABRIELA - Fiquei um tempo tentando ir a uma reunião do Mada. Mas eles são realmente cuidadosos, sigilosos. No começo do ano, alguém respondeu a um e-mail, e eu acabei indo a uma reunião do grupo, no Sumaré. Assisti à reunião, é uma coisa bem ‘narcóticos anônimos'. Elas se apresentam, desabafam. Ninguém julga ninguém. No fim, propus que elas me contassem as histórias desse momento pavoroso que estavam vivendo, de fundo do poço; em troca, devolveria um momento de beleza, que é o livro.

O livro foi escrito a partir desse dia?

MARÍLIA GABRIELA - Não. Ouvi as histórias das que aceitaram participar do livro. Depois, enquanto estava gravando a novela, ainda falei com elas pelo telefone, para saber como estavam. E marquei encontros, com uma de cada vez. Gravava as conversas e, depois, interpretei essas histórias. Resolvi interpretar as histórias, não transcrever apenas. Para embelezá-las, pôr um certo humor, literalizar. O que me impressionou é que são mulheres possíveis, que estão à nossa volta. Vivemos uma época muito cruel, não percebemos o outro. Você deve ter percebido que há várias classes sociais no livro. Tem jornalista, bombeira, dona-de-casa, vivendo uma situação muito particular, muito sofrida. Elas foram às vias de fato.

Você escreve em primeira pessoa e não julga. Mas chegou a alguma conclusão?

MARÍLIA GABRIELA - São mulheres muito parecidas com a gente. Eu percebi que a origem da busca pelo homem perfeito começa lá atrás, em casa. Muitas repetem o pai no parceiro, outras agem como a mãe. A conclusão é que Freud tinha razão: as nossas escolhas amorosas são definidas lá atrás.

Olha, dá até para ver um traço comum entre as mulheres do livro e a Hillary Clinton que você interpreta no teatro, não?

MARÍLIA GABRIELA - Ela viveu uma coisa semelhante - vive, na verdade. Acho que as mulheres têm praticamente uma vocação genética para amar demais. Foi um momento meu também, a mim serviu de todas as formas. Na peça, aliás, o Agualusa usou expressões e pensamentos meus. As duas histórias (livro e peça) têm a ver comigo, com o momento que eu estava vivendo, de rever tudo. Aproveitei aquele momento de silêncio, em que esperava para gravar a novela, e repassei tudo. Foi um momento Lilith.

 




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