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Mistura musical de Chico Science é dissecada em livro
Natane Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
01/03/2008 | 07:00
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Há exatos 11 anos, morria um dos principais expoentes de uma revolução cultural no Nordeste brasileiro, mais precisamente em Recife, batizada de Manguebeat. Era Chico Science, cantor, compositor, líder do grupo Chico Science & Nação Zumbi, e, agora, principal personagem do livro lançado pelo professor Herom Vargas, Hibridismos Musicais de Chico Science & Nação Zumbi (Ateliê Editorial, 242 páginas, R$ 33).

Professor nos cursos de comunicação das universidades Metodista e Imes, Vargas adiou por mais de cinco anos a publicação do resultado de sua tese de doutorado, defendida na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), em 2003.

Entre fatos curiosos e entrevistas com muitos dos envolvidos na cena musical recifense dos anos 1990, o professor analisa, por meio das letras das canções que integram os dois primeiro álbuns da banda – Da Lama ao Caos (1994) e Afrociberdelia (1996) –, mesclas de ritmos e instrumentos afro-brasileiros com gêneros musicais globalizados, caracterizando o hibridismo musical do conjunto. “O mais interessante é observar como o Manguebeat, e, principalmente, o Science levaram a tradição para o pop e o pop para a tradição”, aponta o autor.

E é justamente esta oposição o tema que inicia o trabalho. Herom Vargas destaca o embate proposto pelo Manguebeat contra o movimento Armorial, linha defendida calorosamente por figuras como Ariano Suassuna, que propunha posturas nacionalistas e tradicionalistas ligadas à cultura pernambucana.

O terceiro capítulo – e mais curioso – analisa capas, letras e estruturas rítmicas que originaram as composições da Nação Zumbi.

O livro termina com idéias sobre o que é a banda e o Recife pós-Chico Science. “Hoje, o Mangue se institucionalizou, é usado pelo turismo da cidade. Enquanto movimento, ficou no passado”, conclui Vargas.

Trechos

“O falecimento do jovem ídolo (...) atingiu ainda o escritor e dramaturgo tradicionalista e então secretário de Cultura de Pernambuco Ariano Suassuna que, tempos antes, havia sugerido que Chico mudasse seu nome de Science para Ciência e deixasse de tocar rock para tocar apenas músicas tradicionais que julgava serem as raízes da cultura e da identidade regional. O choro de Ariano, ao se aproximar do caixão no velório do cantor, deve ter representado uma imagem incômoda para alguns dos parceiros de Science(...)”.

“O que gêneros como o rock e o rap teriam de ‘moderno’ em relação ao maracatu ou ao coco? Na verdade, ambos são produtos de tradições distintas, de processos históricos e musicais ocorridos em locais diferentes e com sentidos também diversos”.

“O sincretismo musical foi feito sem o ‘respeito’ e a falsa devoção aplicados às músicas definidas como ‘folclóricas. Esse entendimento conservador, alterado em Recife pela cena Mangue, mantinha as músicas regionais, seus produtores e seu público alijados dos processos contemporâneos de divulgação”.



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