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1977, 1978 Geisel indica Figueiredo. Prefeitos evitam críticas ao regime. MDB avança. Região elege sete deputados

O presidente Ernesto Geisel iniciava sua lenta e gradual abertura, mas ainda usava o AI-5 para cassar opositores, casos dos emedebistas Marcos Tito (Minas Gerais) e Alencar Furtado (Paraná). Ato do governo proibia acesso de partidos à TV. Igreja, juristas e emedebistas defendiam a institucionalização do regime. Até o jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo, era vítima da censura

Por Ademir Médici
17/03/2021 | 00:07
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“Eleições são iguais a uma roça, que o sujeito cultiva; na hora de colher chega uma nuvem de gafanhotos e estraga com tudo.”

Cf. Antonio Braga, em entrevista ao jornalista Nelson Tucci: Lembrando Antigas Eleições, Quando Até Defuntos Votavam. Diário, 19 de novembro de 1982.

RESISTÊNCIA
“Você me prende vivo, eu escapo morto. De repente, olha eu de novo, perturbando a paz, exigindo o troco.”
Paulo César Pinheiro, compositor, em apoio ao Dia do Protesto, promovido por estudantes, cf. Diário do Grande ABC, 29 de março de 1978.

SUBSÍDIOS À HISTÓRIA
Os nove anos do AI-5 foram lembrados pelo jornalista Edison Motta, citando números: 1.607 cidadãos punidos, dos quais 322 cassados,

“O dia de hoje deveria ser de luto nacional. Um dia de tristeza, de lembrança do profundo retrocesso a que estamos mergulhados nesses últimos nove anos.”
Cf. Diário, 13 de dezembro de 1977.

Ao indicar João Figueiredo à sua sucessão, em janeiro de 1978, o presidente Ernesto Geisel teve suas promessas sintetizadas pelo jornalista Eduardo Camargo:

“Geisel ante a história. Pretende reformular o regime político, eliminar o AI-5, restabelecer o habeas corpus para crimes políticos e rever punições impostas pela Revolução.”
Cf. Diário, 12 de janeiro de 1978.

As promessas demoravam a ser cumpridas. E eram lembradas: “Onde a Revolução nada revolucionou”. Cf. Diário, em Editorial, 28 de maio de 1978.
Discurso da abertura política
Maluf dá rasteira em Laudo Natel
A greve da Scania. E tudo vai mudar...
Diário cria o Jornal das Eleições
Região elege sete deputados

531 – Ao completar o primeiro aniversário de suas administrações, em 1º de fevereiro de 1978, seis dos sete prefeitos do Grande ABC são ouvidos pelo Diário e citam suas prioridades:
Lincoln Grilo, de Santo André: Centro Regional de Abastecimento, Hospital Regional de Clínicas, jardim botânico do Pedroso, conclusão das obras do sistema viário.
Tito Costa, de São Bernardo: saneamento básico.
Raimundo da Cunha Leite, de São Caetano: repavimentação.
Dorival Rezende, de Mauá: centros de saúde.
Luiz Carlos Grecco, de Ribeirão Pires: ruas urbanizadas.
Aarão Teixeira, de Rio Grande da Serra: asfalto, guias e sarjetas na Avenida Dom Pedro I, a principal da cidade.
Lauro Michels, de Diadema: ...silêncio...

532 – João Figueiredo, indicado à sucessão de Ernesto Geisel, enumera prioridades do governo, entre elas a abertura política.
Cf. Diário, 11 de abril de 1978.

533 – Representantes do Grande ABC repercutem a fala do futuro presidente da República, que seria o último do regime militar.
Lincoln Grillo: em destaque, a redemocratização.
Tito Costa: antecessores também prometeram abertura.
Raimundo da Cunha Leite: novo governo é sempre uma esperança.
Lula: produtividade aumenta, salário diminui.

534 – A dificuldade em manter as esperanças.
Cf. Diário, 12 de abril de 1977, em Editorial, comentando as palavras de João Figueiredo.

535 – Os governadores de Estado continuavam a ser indicados pelo regime, entre eles, Laudo Natel para São Paulo. Porém... Paulo Maluf, ex-secretário do próprio Natel, desafia o regime, vai à convenção estadual da Arena e é o indicado, atravessando Brasília.

536 – Se os prefeitos locais agiam prudentemente diante do quadro político, a resistência maior no Grande ABC vinha do movimento sindical. Na sexta-feira, 13 de maio de 1978, surpreendendo a própria direção do sindicato, metalúrgicos da Scania entravam em greve por aumento salarial: aparecia no cenário o operário Gilson Menezes, futuro prefeito de Diadema, que viria a ser o primeiro do PT no País.
Greve naqueles tempos duríssimos, quem poderia imaginar?

537 – Se Maluf não obedeceu ao script oficial, tudo o mais caminhou como esperava o regime. Em 15 de outubro de 1978, o Colégio Eleitoral elege Figueiredo sucessor de Geisel (ambos da Arena): 355 votos a 226 dados ao general Euler Bentes Monteiro, candidato do MDB.

538 – A farsa biônica desmente boas intenções.
Cf. Diário, em Editorial, 18 de outubro de 1978.

539 – Com vistas às eleições legislativas de 15 de novembro, o Diário lançava novamente o Jornal das Eleições, abrindo espaço a todos os candidatos, em especial aos da região. E não escondia sua opinião, em sucessivos editoriais.
Com nova Lei de Segurança Nacional, democracia continua relativa (22 de outubro de 1978)
Com nova LSN, abertura não é abertura (27 de outubro de 1978).
Enfim condenada tortura a presos políticos (29 de outubro de 1978).
As eleições e os problemas regionais (7 de novembro de 1978).
Permanecem as linhas tortas do regime (8 de novembro de1978).
Rescaldo ainda queima arenistas (10 de novembro de 1978).
Arena desnuda mostra seu corpo informe (11 de novembro de 1978).
O que a campanha eleitoral mostrou (12 de novembro de 1978).
Campanha eleitoral sem freios: qual a causa? (14 de novembro de 1978).
Legião democrática faz sua luta de conquista (15 de novembro de 1978).
540 – Perto de 47 milhões de eleitores tinham condições de ir às urnas no feriado de 15 de novembro de 1978 em 22 Estados e cinco Territórios.

Em disputa, 23 vagas no Senado, 420 à Câmara dos Deputados e 846 nas Assembleias Legislativas. Em São Paulo, Franco Montoro é reeleito senador, ficando Fernando Henrique Cardoso como seu suplente, ambos do MDB. Claudio Lembo, da Arena, fica em terceiro.

No Grande ABC, só emedebistas são eleitos deputados, num total de sete. Três federais: Antonio Russo, Benedito Marcilio e Walter Garcia; e quatro estaduais: Célio dos Santos, Mario Ladeia da Rocha, José Silveira Sampaio e Osmar Ribeiro Fonseca.

Diário há meio século
Quarta-feira, 17 de março de 1971 – ano 13, edição 1487
Manchete – A posse dos secretários completa o novo governo
Governador Laudo Natel deu posse ontem (16 de março de 1971) ao secretariado estadual, integrado por uma mulher: Esther de Figueiredo Ferraz, a segunda mulher a participar do governo do Estado. Assumiu a Pasta da Educação.

Santo André – O prefeito Newton Brandão anunciou que até o fim de 1972 a cidade contará com um hospital de clínicas.

Indústria – Crise na Porcelana Mauá: uma parte da indústria ficou pertencendo a um grupo de operários, outra parte foi adquirida pela CTBC (Companhia Telefônica da Borda do Campo) e uma terceira parte ficou com a Previdência Social.

A crise começou em 1968, quando a Porcelana Mauá encerrou atividades, deixando sem emprego grande número de trabalhadores.

Fonte: Guilherme Primo Vidotto, à época líder do MDB na Câmara Municipal de Mauá.
Imprensa – Sorriso. É o Diarinho que está na página 6.

Em 17 de março de...
1921 – Transferido para Santo André, para chefiar a estação férrea local, Alfredo de Lima. Exercia o mesmo cargo em Cubatão. Substituí, aqui, Joaquim Cardoso, transferido para a Barra Funda.

Santos do dia
Patrício
GERTRUDES DE NIVELLES (626-659). A luta para a difusão da doutrina católica pela instrução 




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