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Museu para inutilidade será megafábrica até julho, diz Doria

Governador assinou ordem de serviço em S.Bernardo, mas evitou falar de Lula; Morando reiterou que equipamento era símbolo da corrupção

Por Fábio Martins
Do Diário do Grande abc
03/10/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), visitou ontem São Bernardo para assinar a ordem de serviço das obras da Fábrica de Cultura, no lugar do Museu do Trabalho e do Trabalhador, no Centro. Durante a solenidade, ao lado do prefeito Orlando Morando (PSDB), o tucano fez críticas à condução do antigo espaço no governo Luiz Marinho (PT) e afirmou que “aquilo que era o museu da inutilidade e cultura da personalidade de uma pessoa”, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será transformado em “equipamento voltado para todos, não figura única, seja mito ou não mito”.

Em sua fala, Doria evitou, contudo, citar Lula nominalmente em relação ao caso. O governador relembrou que as intervenções estavam inacabadas após interferência do MPF (Ministério Público Federal) e Justiça, diante da deflagração da Operação Hefesta. “Contrariava a política da transparência e de boa gestão. Agora será megafábrica, tecnologia 4.0, exemplo transformador de algo que vinha no caminho errado, frente a despesas altíssimas”, alegou, frisando que as obras têm prazo de término até começo de março. Segundo ele, a estimativa de inauguração completa, com 100% em operação a partir da aquisição dos materiais e contratação da OS (Organização Social), deve acontecer em julho de 2020.

A Hefesta surgiu em dezembro de 2016. À época, a apuração apontou envolvimento de agentes públicos e empresários em fraudes e desvio de pelo menos R$ 7,9 milhões durante a construção do museu. Segundo as investigações, pelo menos 18 pessoas formaram organização criminosa para obter vantagens ilícitas por meio de fraude à licitação e na execução de contrato, peculato, inserção de dados falsos no sistema de gestão de convênios do governo federal e falsidade ideológica. A obra deveria ter sido concluída em 2013, ao custo de R$ 18 milhões. Foram três prorrogações do contrato. O valor do convênio, na ocasião, passou de R$ 21 milhões, sendo R$ 7 milhões do município.

Após a conclusão das obras, o prédio será gerido pelo Estado, que irá lançar chamamento público para vínculo da OS que vai executar os projetos culturais nos aproximadamente 12 mil metros quadrados de terreno – são cerca de 6.000 metros quadrados de área construída. Desde a autorização da Justiça, a Prefeitura de São Bernardo contratou empresa e despenderá R$ 4,5 milhões para finalização das intervenções na unidade. O Palácio dos Bandeirantes entrará com R$ 14 milhões nos equipamentos e na contratação da OS. “São praticamente R$ 19 milhões para colocar em condições de funcionamento”, emendou Doria.

Morando reforçou, por outro lado, que o espaço era considerado “museu da corrupção, que feria o orgulho dos moradores de São Bernardo”. O prefeito pontuou, no discurso, que após pesquisa de opinião, identificou que a população queria outra destinação ao equipamento antes voltado para tributo à história dos operários na cidade. “Homenagem ao trabalhador não é colocando foto do trabalhador, é dando futuro aos filhos dos trabalhadores. E agora vamos trazer essa fábrica de sonhos”, disse, ao acrescentar que um “grande mal foi cometido” no local, em alusão a Hefesta, deus grego do trabalho e da metalurgia que denominou a operação federal.

Morando pede que Doria salve o Brasil

Um dos principais aliados políticos do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), utilizou parte do tempo no palanque para fazer espécie de convocação do tucano para “salvar” o Brasil – no cenário nacional, o correligionário é cotado a pavimentar candidatura ao Palácio do Planalto em 2022.

Após listar obras entregues e em andamento junto ao Estado, Morando defendeu que os recursos aplicados na cidade nestes primeiros nove meses “é o maior volume já investido na história”, falou em Deus e criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

“Quero finalizar pedindo para que Deus possa iluminar os homens públicos deste País. Porque um bom governo muda a vida das pessoas. Um mau governo acaba. O governo do Estado está em boas mãos, não tem crise, honra compromissos e continua investindo. Não é crítica, mas se passaram dez meses, estamos numa cidade industrial, importante, dependemos do aquecimento da economia para ver o nosso município crescer, Estado e Brasil. Infelizmente não vimos isso (acontecer)”, declarou, ao ponderar, entretanto, que mantém torcida para que o governo federal “dê certo”. “Não somos do time dos pessimistas, somos dos otimistas, mas precisa de mais maturidade.”

Morando voltou a frisar, sem mencionar o nome de Bolsonaro, que um governo necessita de “foco e ação, menos palavra e mais trabalho, menos política e mais decisão”. Dentro deste contexto, o tucano fez a chamada para Doria: “Governador, continue usando a sua liderança para salvar o Brasil. São Paulo está protegido, caminha bem, mas precisamos mais, da sua liderança já para continuar ajudando o Brasil (…) O País precisa de homens iluminados”. Na sequência, o tucano salientou que a iniciativa privada, que “é quem gera riqueza no Brasil, continua desconfiada sobre o futuro do País”.

Questionado durante coletiva de imprensa sobre como poderia socorrer o Brasil, Doria minimizou e disse que está em suas mãos fazer “boa gestão no governo do Estado de São Paulo, que tem 32% da economia brasileira e 45 milhões de habitantes”. “(É a) Economia que lidera o País. Aliás, fizemos isso. Nos primeiros oito meses de governo, o PIB (Produto Interno Bruto) de São Paulo foi praticamente o dobro do PIB do Brasil. Vamos terminar dezembro com praticamente o dobro, mas somos Brasil. São Paulo crescendo ajuda a economia. Estamos para apoiar, ajudar, não dividir ou estabelecer confrontos.”

Evitando divididas, o governador endossou as palavras de Morando e alegou que mantém torcida para que o governo Bolsonaro “dê certo”. “(Queremos) Que a política do ministro (da Economia) Paulo Guedes seja bem-sucedida, é bom para o Brasil, àqueles que precisam de empresas, economia privada, pública. Estamos trabalhando dentro desta linha.”

S.Paulo e S.Bernardo firmam convênio para obras em encostas

O governo do Estado e a Prefeitura de São Bernardo formalizaram, ainda, convênio de repasse de R$ 30 milhões para obras de contenções em encostas. “Em um trabalho feito desde o início do ano, assinamos hoje (ontem) um convênio de R$ 30 milhões para contenções em encostas e possibilitar mais dignidade, segurança e uma vida mais saudável para famílias de São Bernardo”, disse o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi (PSDB).

Segundo o Estado, a quantia será repassada em três etapas: uma parcela de R$ 6 milhões e outras duas fatias de R$ 12 milhões. “As obras têm início após a formalização do convênio e cumprimento de trâmite administrativo”, informou o governo estadual.

O aporte será endereçado para intervenções nos bairros Ferrazópolis, Vila São José, Vila do Tanque, Cooperativa, Riacho Grande e Jardim Silvina. “Os serviços a serem executados contemplam instalação de lona para impermeabilização, obras de contenção, drenagem, pavimentação asfáltico, armação de estruturas de concreto armado, sinalização de trânsito”, disse o Estado. 




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