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Abastecimento deve normalizar em até dez dias após fim da greve

Parte dos caminhoneiros, porém, afirma que movimento será mantido até redução do diesel

Por Soraia Abreu Pedrozo
Yara Ferraz
Daniel Tossato
João Victor Rômoli
30/05/2018 | 07:15
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Nario Barbosa/DGABC


A greve dos caminhoneiros pode estar próxima do fim. Pelo menos os bloqueios nas rodovias que atravessam o Grande ABC, vias Anchieta e Imigrantes, foram desfeitos. No fim da tarde de ontem, Tropa de Choque promoveu a dispersão dos pesados, que desde quarta-feira ocupavam trecho entre o km 23 e o km 25 da Anchieta, na altura da Volkswagen. O ato transformou-se em confronto entre a PM (Polícia Militar) e moradores do entorno.

Com isso, e a retomada parcial da distribuição de combustível em postos da região ao longo do dia, sem a restrição de abastecer apenas veículos oficiais e de serviços essenciais, a projeção é a de que em até dez dias após o fim da greve o abastecimento seja normalizado.

No entanto, parte dos caminhoneiros ainda mantém a paralisação. “Não temos certeza de que os R$ 0,46 de redução no diesel serão na bomba ou nas refinarias. Tem que ser na bomba, porque hoje pagamos para trabalhar”, disse Ivo Amarante, 53, de São Bernardo. “Até que isso aconteça, vamos sair da Anchieta, mas vamos tentar paralisar em outro lugar”, avisou.

Segundo o presidente da Aeceasa (Associação das Empresas da Ceasa do Grande ABC), João Lima, a Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) “depende de várias estradas estaduais e federais, pois os produtores mais próximos estão a 100 quilômetros de distância”, por isso o desbloqueio das rodovias da região não muda o cenário. Ele, inclusive, recebeu a informação de que caminhoneiros que tentarem trazer mercadorias do Interior terão seus veículos invadidos e incendiados. Isso porque eles acreditam ainda não terem garantias da redução do preço do diesel, o que motivou greve iniciada no dia 14 em todo o País, e que chegou ao Grande ABC um dia depois. “Neste cenário, acredito que ainda teremos dificuldade para voltar ao normal. O índice de entrada de produtos deve ser baixo nesta madrugada.”

A estimativa do setor supermercadista é de que o abastecimento será normalizado em até dez dias, conforme apontou a Abras (Associação Brasileira de Supermercados).

Para o presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABCDMRR), Wagner de Souza, se o movimento seguir perdendo força, a tendência é a de que em uma semana tudo volte ao normal. “Até porque a demanda vai diminuir, algumas pessoas já vão ter abastecido e aos poucos vai se normalizando”, disse. “(Ontem) Foi um dia corrido, a distribuição atingiu 30% dos postos, com as quatro bandeiras. Acho que vai ter evolução para amanhã (hoje), creio que vai atingir 40%. Cerca de 100 postos já receberam hoje (ontem) e eu acho que isso se repete amanhã (hoje). Foram 15 mil litros para cada posto e isso acaba em um só dia mesmo. Era de se esperar que não ia durar mais do que isso.”

INDÚSTRIA - Em relação ao tempo estimado para que a produção industrial, fortemente impactada, seja retomada, representantes dos Ciesps (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) na região acreditam que dentro de quatro ou cinco dias isso deva ocorrer. “Temos ainda que contar com um feriado e a greve dos petroleiros (que começou hoje, leia mais abaixo), porém, acredito que na segunda já poderemos observar pequeno aumento de atividade nas indústrias regionais”, disse o diretor do Ciesp Santo André, Norberto Perrela.

Um dos problemas apontados por Perrela é a dificuldade em escoar produtos que fazem parte de operação industrial. “O abastecimento de combustível pode estar ocorrendo, mas nem todos os caminhões ainda estão circulando.”

Anuar Dequech Jr., diretor do Ciesp de Diadema, explicou que toda a situação ainda é confusa, e que isso dificulta análise de conjuntura. “Nós acreditamos que a greve dos caminhoneiros tenha chegado ao fim, já que as reivindicações foram acatadas. Esperamos que as coisas comecem a entrar nos eixos daqui a quatro ou cinco dias”, disse.

“Acreditamos que na quarta-feira (dia 6) algumas atividades poderão ser retomadas”, disse o vice-diretor Mauro Miaguti, do Ciesp de São Bernardo. O diretor ainda avalia que possível greve dos petroleiros beira o oportunismo, já que a camada mais atingida é a população, que poderá ficar ainda mais desabastecida.

As montadoras da região continuam sem atividade total ou parcial, devido à dificuldade em obter peças para a produção.


Combustível começa a chegar em postos do Grande ABC

A população da região contou ontem com a volta do combustível em alguns postos do Grande ABC. Isto porque eles foram abastecidos por caminhões das distribuidoras durante o dia, formando longas filas. Carros, motos e pedestres, com galões em punho, já que os veículos não tinham mais como rodar, se aglomeraram nos revendedores.

No Auto Posto Gravatinha, em Santo André, às 14h de ontem foram recebidos 25 mil litros, o que, segundo o posto, duraria até às 22h. Às 20h, no entanto, o combustível já havia acabado. O local só não abastecia quem tinha galão. Diante da negativa, a padeira Veneranda Carvalho, 40, não pensou duas vezes, atravessou a rua e foi até o Pianoro Auto Posto. “Eu uso minha moto, mas como ela já está sem combustível, estou utilizando a bicicleta. Inclusive, levei minha filha para trabalhar hoje nela.”

Nos Três Postos, em São Bernardo, porém, a situação era diferente, já que quem estava na fila ainda esperava pelo abastecimento, que não tinha previsão de ser feito. Primeiro da fila e dormindo dentro do carro, o motorista de Uber Jeferson Morais, 51, contou como isso está prejudicando seu trabalho. “Cheguei aqui às 8h e não vou sair enquanto não abastecer. Estou há dois dias sem trabalhar, e deixei de faturar cerca de R$ 1.000. Se contabilizar isso, vai pesar muito. Vou continuar dormindo aqui porque é a única forma de descansar em meio a tudo isso que está acontecendo”, disse.

A expectativa dos donos dos postos, porém, é que a situação já esteja normal durante o feriado, uma vez que devem chegar mais caminhões para abastecer hoje. “Tenho certeza que vai ficar tudo normal a partir de hoje (ontem). Amanhã já deve chegar mais, e a tendência é normalizar”, disse Toninho Gonzalez, 58, dono do posto Don Pepe, da Avenida Atlântica, em Santo André.

Mesmo com o abastecimento sendo normalizado em alguns postos, ainda existem lugares que só abastecem automóveis específicos. Isso porque, quando os postos pedem a carreta para distribuidora, ela precisa ser escoltada e, com isso, a alegação é que só podem servir viaturas e carros oficiais. Esse pedido não tem custo, e o valor da carga para abastecer 30 mil litros fica entre R$ 90 mil e R$ 100 mil.

IMPOSTOS - O Senado aprovou, na noite de ontem, projeto de lei que reonera 28 setores da Economia, como contraponto à redução de R$ 0,46 no preço do diesel até o fim deste ano.

Com a reoneração, as empresas deixarão de pagar a contribuição previdenciária baseada na receita bruta, o que era feito desde 2011, e passarão a pagar com base na folha de pagamento dos funcionários. Essa mudança deve gerar montante extra de cerca de R$ 3 bilhões neste ano.

O texto segue agora para sanção presidencial.


Petroleiros iniciam paralisação por 72 horas

Os petroleiros, que reúnem 1.250 trabalhadores na região, divididos entre a Recap (Refinaria de Capuava), em Mauá, e o CD (Centro de Distribuição) em São Caetano, estão em greve. A paralisação, que tem caráter de advertência, começou à 0h de hoje e se estende até as 23h59 de sexta-feira.

A AGU (Advocacia-Geral da União) e a Petrobras ajuizaram ação para pedir ao TST (Tribunal Superior do Trabalho) liminar impedindo a greve de petroleiros, o que foi acatado, com multa diária de R$ 500 mil em caso de descumprimento. De acordo com a AGU, a ação tem como objetivo evitar que a paralisação da categoria prejudique ainda mais a sociedade.

Segundo o coordenador geral do Sindipetro-SP (Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo), Juliano Deptula, até o fim da tarde de ontem o sindicato ainda não havia sido notificado.

“Eles alegam que a greve não é lícita por não ser motivada por questão salarial, e sim pela política de preços da Petrobras, que afeta todo mundo, já que com o diesel nas alturas, que varia conforme o dólar e o barril de petróleo, tudo o que consumimos, especialmente no supermercado, fica mais caro. E se a empresa for privatizada, não sabemos o que acontecerá com os trabalhadores, que são concursados”, afirma Deptula, ao estimar que o impacto maior será na produção e nos terminais da Transpetro, uma vez que os profissionais das unidades de distribuição de combustíveis integram outra categoria de trabalhadores e não serão paralisados.


Verduras desaparecem das prateleiras

A paralisação dos caminhoneiros também deixou consumidores sem pães e hortifrúti nas prateleiras de mercados da região. Entre os produtos não encontrados, destacam-se verduras, como alface, e os pães de fôrma. Além disso, itens como batata e cebola continuam com os preços em alta, podendo ser encontrados por até R$ 7,99 o quilo.

Na Coop do Parque das Nações, em Santo André, um aviso impresso aos clientes alertava que o fornecimento de frutas, legumes e verduras estava limitado em cinco quilos ou cinco unidades. No local, o quilo da cebola saia por R$ 6,99 e, o da batata, por R$ 7,99. “Percebi que legumes e verduras estão mais caros. Só deixei de comprar a alface, que estava por R$ 3,99”, afirmou a dona de casa andreense Shirlei Souza Queiroz, 53 anos.

Já no Supermercado Bem Barato, no Rudge Ramos, apesar de a alface ter preço de R$ 2,99, praticamente não havia mais verduras nas prateleiras. “Senti que está mais difícil de encontrar legumes e verduras”, afirmou a professora são-bernardense Geny Andreoli, 69.

O diretor de RH (Recursos Humanos) da rede Joanin, Alécio Castaldelli Júnior, destacou que a maior dificuldade está sendo com carne bovina e arroz, além da preocupação com a possível falta de farinha de trigo e, com isso, toda a produção de pães. Fornecedores já começam a sinalizar possível falta de produtos.

“No setor de FLV (Frutas, Legumes e Verduras) conseguimos repor a maioria dos itens, mas com quantidade reduzida. Batata teve aumento absurdo e, devido a isso, nosso comprador não fez a compra”, destacou ele, ao contar que antes o saco saia por R$ 80 e, agora, é vendido por R$ 300.

A Apas (Associação Paulista de Supermercados) confirmou que a paralisação dos caminhoneiros autônomos tem causado desabastecimento nos supermercados, em especial itens de FLV, que são perecíveis e dependem de abastecimento diário. Produtos como carnes, leite e derivados, panificação congelada e produtos industrializados que levam proteínas no processo de fabricação também estão com as entregas comprometidas.

“Alguns supermercados já realizam ações de contramedida para não faltar produtos, limitando a venda a uma quantidade máxima por consumidor. Grande parte das lojas, no entanto, trabalha com estoque, especialmente de itens de mercearia. A entidade espera resoluções imediatas e, de fato, eficazes do governo para que os empresários não sejam impactados e, principalmente, que a população não sofra com a falta de produtos de necessidade básica”, disse, em nota. 




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