Cultura & Lazer Titulo
Final nada tradicional
Gabriela Germano
Da TV Press
25/07/2007 | 07:10
Compartilhar notícia


Debruçado sobre os últimos capítulos de Vidas Opostas, que termina em meados de agosto, o autor Marcílio Moraes comemora o resultado positivo da idéia ousada que teve. Na época da estréia da novela, muitas foram as críticas em relação ao universo que ela retrata: a favela, a violência urbana e o tráfico de drogas. Mas a trama se firmou, manteve a média de 14 pontos de audiência e, em alguns momentos, fez a Record alcançar a liderança no horário.

Como você analisa a trajetória da novela?
MARCÍLIO MORAES – A novela superou as minhas expectativas e a aceitação foi muito grande. No início, Vidas Opostas causou um certo susto, houve uma reação de uma parte dos telespectadores e da imprensa. Mas depois a história foi se impondo e nos primeiros dois meses se firmou. De lá para cá, todo o retorno que tive foi sempre positivo. É uma novela que atinge as camadas mais populares mas chega às classes altas também. No começo, mesmo dentro da emissora, pairava uma sensação de insegurança. Então, na altura do capítulo 20, sugeri uma pesquisa. Foi quando os telespectadores mostraram que gostavam do folhetim. E, mesmo uma parte das pessoas que disse não gostar, foi capturada pela história. Porque não há só violência. Tem história de amor e outras trama.

Mas o que parece é que a popularidade da novela está ligada ao núcleo da favela...
MORAES – Os personagens pobres chamaram mais a atenção porque são novidade. No entanto, eles não alcançaram a popularidade sozinhos. O sucesso aconteceu porque o universo deles foi contraposto a outro. Acho que se eu fizesse uma novela só na favela, não daria certo. Ficaria com cara de gueto. E talvez eu também tenha mais facilidade para desenhar personagens populares. O bandido, por exemplo, é sempre fascinante ficcionalmente.

Retratar o mundo dos pobres seria viável em outra emissora?
MORAES – Acho difícil. Pelo que conheci da Globo na época em que estive lá, haveria uma reação para fazer uma novela como essa. Os protagonistas são pessoas do povo, marginalizadas pela sociedade, e esse é um universo problemático quando você tem um compromisso comercial muito grande. É difícil fazer "merchandising" em "Vidas Opostas". Além disso, a Record está começando e pode arriscar mais. Há 30 anos, a Globo fazia novelas diferentes. Hoje não faz mais.

Os noticiários já tratam da violência urbana e do tráfico de drogas. Qual a vantagem de abordar esses assuntos na ficção?
MORAES - Todo mundo vê novela no Brasil. Quem não vê, sabe o que está acontecendo pelo menos de ouvir falar. Quando ela só tem glamour e fica muito ligada ao universo fantasioso, amortece a capacidade crítica das pessoas. Vidas Opostas desperta essa capacidade crítica já que as pessoas se vêem ali. Porque o brasileiro tem muita capacidade de não se ver e ficar olhando para o outro lado. Olhar no espelho é mais difícil. Esse folhetim mostra que as pessoas gostam de ver gente mais parecida com elas. Porque tem novela por aí que se passa em um mundo muito distante, só com gente bonita e carro bacana.

O final da novela também será ousado ou feliz, como tradicionalmente?
MORAES – A pergunta para o capítulo final não é quem fica com quem, mas quem vai tomar o Torto (risos). Minha idéia é transformar a comunidade do Torto em um emblema, um símbolo. Quero que o que acontecer ali represente a realidade atual do Brasil. Não será um final deprimente, mas também não terá casamento e nem nascimento. Apesar de toda a violência, terá uma conotação poética. É o que eu espero.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;