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'Bodas de Papel' exorciza a dor da tragédia pessoal
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16/05/2008 | 07:10
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Helena Ranaldi não se esquece de seus primeiros anos, como atriz de Antunes Filho. Ela era terrivelmente tímida e o grande diretor de teatro, ao perceber isso, a incumbiu de, todo dia, em Macunaíma, atravessar o palco cacarejando e depois pôr um ovo. "Eu me sentia humilhada, confusa, envergonhada, mas no limite ele conseguiu o que queria - me desinibiu."

Passaram-se muitos anos, ao teatro Helena somou a carreira na TV e só agora ela realiza o sonho de fazer cinema. Estréia nesta sexta-feira Bodas de Papel, segundo longa de André Sturm. O filme conta, à moda antiga, uma história de amor. Helena apaixona-se por Dario Grandinetti, como um arquiteto argentino que vive no Brasil e vai a esta pequena cidade para encontrar o amor de sua vida, como ele dirá mais tarde.

No recente Cine PE, onde recebeu o prêmio do público e também as Calungas de melhor som e melhor atriz coadjuvante - para a veterana Cleyde Yáconis -, Bodas de Papel não provocou muito entusiasmo na crítica. Seria um filme pequeno, no mau sentido, apenas um melodrama obsoleto.

Seria - é bom colocar no passado imperfeito, porque não é. André Sturm sabia que estava contando uma história antiga, uma história sem fim, daquelas que são sempre recontadas, como diz o avô à personagem de Helena quando menina. A questão é como recontar esta história, imprimindo-lhe alguma coisa de pessoal.

Admirador do cinema de autor europeu, André distribui uma série de signos pelo filme. Numa das cenas, Cleyde Yáconis fala de sua preferência pelo antigo coador de pano, em vez do moderno, de papel, para fazer café. São coisas, assim, pequenas, mas que enriquecem a mise-en-scène de Bodas.

Sem invadir a privacidade de André Sturm, é bom acrescentar que ele viveu uma tragédia pessoal, quando sua mulher morreu em trabalho de parto. Ele fez Bodas de Papel para exorcizar a experiência dolorosa. O próprio diretor espera que ninguém fique preso a isso para assistir e valorizar seu pequeno belo filme. "Falar de amor, de sentimentos, virou luxo no cinema", ele reflete.




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