O promotor da Infância e da
Juventude de Ribeirao Preto, Marcelo Pedroso Goulart, anunciou
nesta sexta-feira (13) que entrou com açao civil pública, por danos morais difusos
(coletivos), responsabilizando o governo estadual, a prefeitura
de Ribeirao Preto e a Fundaçao Estadual do Bem-Estar do Menor
(Febem) pelo assassinato de 107 jovens na cidade - 88
adolescentes e 19 adultos egressos da fundaçao -, entre o início
de 1995 e dezembro de 1998. Na açao, é pedida indenizaçao total
de R$ 7,276 milhoes - R$ 68 mil (500 salários mínimos) por jovem
morto. A proposta é reverter a quantia para o Fundo do Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
"Os réus da açao descumprem um projeto de pacto social
estabelecido pela Constituiçao de 1988", diz Goulart. Para ele,
as instituiçoes nao puseram em prática políticas sociais
básicas. "O próprio governador Mário Covas já reconheceu que o
governo nao cumpre o seu papel, que a estrutura está falida."
Até o fim do mês, o promotor deve entrar com outra açao na
Justiça Criminal de Ribeirao Preto, pedindo indenizaçao para as
famílias das vítimas.
A açao civil, movida pelo Ministério Público (MP), indica
que parte das 107 vítimas sofreu perseguiçao e violência de
policiais. A medida judicial tem como base pesquisa feita pelo
Departamento de Psicologia Social da Universidade de Sao Paulo
(USP), campus de Ribeirao Preto. O estudo irá integrar relatório
do Instituto Latino-Americano das Naçoes Unidas para Prevençao
do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud) e a campanha
Mutirao Contra Toda Forma de Violência, da arquidiocese da
cidade.
A pesquisa aponta que 68,32% dos jovens vítimas de
homicídios eram naturais de Ribeirao Preto e viviam em condiçao
de pobreza, o que descarta a hipótese de que a violência pode
ter migrado de outras regioes. "Há pouca criatividade do Poder
Judiciário em se apurar os casos", disse o professor de
Psicologia Social da USP, Sérgio Kodato. Segundo ele, os menores
além de servirem ao tráfico, tornaram-se escudos ou matadores
profissionais. "Nao é só guerra de gangues e 50% das mortes
foram praticadas entre os adolescentes."
Goulart, com base em relatos de parentes das vítimas, diz
que há evidências de que alguns setores da polícia estimulam ou
participam dos crimes contra jovens. Ele conta, por exemplo, que
menores sao levados para "desfilar" em carros da polícia,
perto de pontos de tráfico de drogas depois vistoriados. Os
jovens, soltos pela polícia, acabam espancados ou mortos por
rivais, que os têm como delatores. "Mas nao dá para afirmar que
existam grupos de extermínio dentro da polícia", disse o
promotor.
Segundo a Delegacia Seccional, só no 1.º semestre do ano 26
adolescentes foram mortos.