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Mauá precisa de menos pirotecnia e mais raiz
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
26/12/2004 | 14:51
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Há três anos, Mauá ergueu o primeiro teatro de sua história, o Municipal, que serviu para elevar a auto-estima da população e é utilizado atualmente com uma programação constante. O novo equipamento e a agenda de atrações têm sugerido uma evolução significativa do setor cultural na cidade. Mas nem todos concordam e apontam muitos ajustes. Nesta edição, a série de reportagens ouve as expectativas de artistas de Mauá sobre a próxima gestão pública de cultura.

A cidade vive um clima de indefinição. Enquanto nos outros municípios há sondagens sobre o nome de quem vai assumir a Pasta do setor, em Mauá ainda espera-se resolução da Justiça em relação à realização ou não do segundo turno das eleições para prefeito.

Márcio Chaves (PT) teve sua candidatura cassada por causa de propaganda irregular e Leonel Damo (PV) foi diplomado, mas teve a diplomação suspensa. Na quinta-feira passada, o TSE negou o recurso de Damo contra a suspensão. Se não houver reviravoltas até o fim do mês, em 1º de janeiro o presidente da Câmara deve assumir como prefeito interinamente.

O que se tem de certo é que a previsão orçamentária para 2005 reserva R$ 7,3 milhões para a função Cultura, que está inserida na Secretaria de Educação, Cultura e Esportes. O valor representa 1,96% do orçamento total do município (R$ 360 milhões).

Uma das grandes preocupações dos artistas que conhecem o setor em Mauá é que o departamento seja ocupado por profissionais da área. “Se não houver pessoas comprometidas com a cultura, tudo continuará caindo em política”, afirma o diretor artístico Ronaldo Morais, também presidente da ONG Espaço de Artes Quartum Crescente.

Os entrevistados criticam a opção – a mesma que se repete em várias cidades da região – de importar shows de apelo popular. “É inadmissível ver o poder público promover eventos e dizer que está fazendo cultura”, diz o dramaturgo e produtor de vídeo Alex Moletta. Ex-diretor do Teatro Municipal, Ednaldo Freire entende que a administração municipal deva “priorizar sempre o fomento e não a política rasa, fácil e suspeita do grande evento.”

A construção do Teatro Municipal, inaugurado em dezembro de 2001, abriu a cidade para uma programação variada. A vergonha do mauaense por não contar com um espaço adequado para espetáculos foi minimizada. O palco também tem servido para receber trabalhos de artistas locais, como aconteceu com a encenação das quatro versões da Ópera da Terra Pilar. A montagem reuniu artistas e gente do povo para contar a história da cidade por meio de um trabalho rotulado de “resgate da cidadania e auto-estima da população”.

Mas o Municipal não é o fim de todos os problemas de cultura. Insatisfações existem. Atores dizem que as oficinas de teatro são fracas, a agenda artística ainda deixa a desejar, o Fundo de Assistência à Cultura não funciona como deveria. Há vários ajustes a serem incluídos na pauta de trabalho do próximo dirigente do setor.

Há uma outra expectativa. Os artistas de cultura popular estão satisfeitos e querem a continuidade das ações que os privilegiam. “Não pode haver paralisação das coisas populares, isso já está no sangue do povo”, afirma o músico João de Deus, integrante da Orquestra de Violeiros de Mauá.

Um dos conjuntos que mais leva o nome da cidade Brasil afora é a Banda Marcial Lyra de Mauá, constantemente premiada em campeonatos de música instrumental. As vitórias são conquistas de meninos que quase sempre precisam superar as dificuldades financeiras para se dedicar à arte. Muitos deles não contam nem com o dinheiro para transporte até o local dos ensaios. Este é um dos motivos que leva os dirigentes da banda a reivindicarem a descentralização do ensino da música no município.

Colaborou Everaldo Fioravante




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