Cultura & Lazer Titulo
Mudança de hábito
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
04/05/2007 | 07:00
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A primeira vez a gente nunca esquece, tamanho o sabor da surpresa. A segunda é ainda mais inesquecível, porque não só consolidou, como apurou o gosto. Já a terceira vez tem um indisfarçável gosto amanhecido embora arrisque ingredientes inéditos. Mais esperado que torta da vovó na tarde de sábado, Homem-Aranha 3 estréia em boa parte do mundo nesta sexta-feira, Brasil inclusive. No Grande ABC, que dispõe de 33 salas de exibição, são 19 as reservadas para o filme – o maior número destinado a um só longa na região, superior às 16 salas que exibiram Homem-Aranha 2 (2004) e Paixão de Cristo (2004) quando de suas estréias.

Sim, um novo recorde foi estabelecido. E Homem-Aranha 3 já está se acostumando. Estreou dia 1º na Itália, na França, no Japão, na Coréia do Sul, em Hong Kong, Tailândia, Malásia, Cingapura... Em todos os países, sem exceção, quebrou recordes de bilheteria para o dia de estréia. Nos Estados Unidos, a mãe de todas as bilheterias, também entra em cartaz nesta sexta-feira. Titanic que se cuide.

A excitação é justificável até certo ponto. Não é o melhor dos três, como recomendavam internautas que o tinham visto em pré-estréias. Por outro lado, não se trata de filme ruim, pois conclui com sensatez e desafios um ciclo estético e temático nesta que deve ser a primeira de duas trilogias cinematográficas sobre o herói criado para os quadrinhos por Stan Lee e Steve Ditko em 1962.

A palavra de ordem neste Homem-Aranha 3 é provação, com direito a tentações e soberba. Suas primeiras imagens reincidem o metabolismo audiovisual que o diretor Sam Raimi determinou para os dois primeiros filmes, com as inconfundíveis acrobacias nos céus de Nova York. E eis uma surpresa: essas cenas iniciais são reproduzidas num telão publicitário, confirmam o status de celebridade do super-herói e são assistidas na rua pelo alter ego do herói, Peter Parker (Tobey Maguire), admirando os próprios feitos. Um grupo de garotos que passa diante do telão já o ignora, tão acostumados que estão à presença do Homem-Aranha.

Assim, Raimi expõe seu ponto de vista para o terceiro filme. O que mais pode ser interessante sobre o Homem-Aranha depois que este já se viu obrigado a administrar seus poderes, sua responsabilidade e sua adolescência (no primeiro filme) e a questionar seu próprio papel de herói junto a uma comunidade (no segundo filme)? Explicitar seus defeitos, sua porção “pecador”, nas palavras do próprio diretor.

Homem-Aranha 3 é quase como a Paixão do Aranha, sua “cristianização”. Ele nunca apanhou tanto, nunca sofreu tanto e nunca se mostrou tão petulante quanto agora. E nunca perdoou tanto.

Tudo parece às mil maravilhas a princípio. Parker e sua namorada, Mary Jane (Kirsten Dunst), estão aos beijos e abraços, a meio caminho do altar. O Aranha é uma celebridade cultuada. Contudo, o sucesso lhe sobe à cabeça, as atenções à namorada passam a escassear e ele descobre que o verdadeiro assassino de seu tio Ben continua à solta e agora atende pela alcunha de Homem-Areia (Thomas Haden Church). E Harry Osborn (Hames Franco), filho do Duende Verde (morto no primeiro filme), assume a armadura e os poderes do pai para caçar o herói, a quem responsabiliza pela orfandade.

Paralelamente, um meteoro cai na Terra e dele sai uma criatura pegajosa que adere ao corpo do herói, modifica as cores de seu uniforme para uma tonalidade de preto “nem-vem-que-não-tem” e amplifica seus poderes. Não só: amplifica também sua soberba e seu desejo de vingança. A propósito, vingança é o que também ronda as idéias do fotógrafo Eddie Brock (Topher Grace), que acredita que Parker lhe roubou o emprego e as admirações da namorada, Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard). Não se desespere com esse enredo que parece samba de aracnídeo doido; tudo está submetido à vontade de Raimi de arruinar seu herói para então fazê-lo renascer ciente de seu papel e de suas limitações.

Porque é isso que o diretor quer demonstrar, que heroísmo não é questão de vingança e, sim, de justiça. Existe até uma passagem que evoca a justiça divina, e, implicitamente, confronta o Aranha a Deus, em analogia à mitologia antiga e seus embates entre mortais e imortais. Confrontado com a providência divina, o herói renasce, pela vontade própria e pela vontade popular – como atestam as inúmeras e emocionais tomadas em que multidões o aplaudem. Passa a entender de fato seu papel como mito e imagem, como homem e exemplo, como herói e projeção das esperanças de seus protegidos. Amadurece, e junto com ele amadurece Raimi como diretor de cinema de ação, ao apostar as fichas mais graúdas nos personagens. Esta trilogia acaba bem. Que venha a seguinte.

HOMEM-ARANHA 3 (Spider-Man 3, EUA, 2007). Dir.: Sam Raimi. Com Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Topher Grace, Thomas Haden Church, Bryce Dallas Howard. Estréia nesta sexta-feira no ABC Plaza 1, 4, 5, 6 e 7, Shopping ABC 2, 3, 4 e 5, Extra Anchieta 3, 4, 5, 6 e 9, Metrópole 3, Mauá Plaza 1, 2, 4 e 5, Central Plaza 1, 2, 9 e 10 e circuito. Duração: 140 minutos. Classificação indicativa: 12 anos.



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