A imprensa espanhola criticou nesta sexta-feira, de forma contundente, o jornal francês Le Monde por ter atacado "sem provas" o futebol espanhol por supostas relações com o polêmico médico Eufemiano Fuentes, acusado de ser o centro de um enorme escândalo de doping no ciclismo.

"Que seja demonstrado ou que nos deixem em paz", afirmou o jornal Marca, próximo do Real Madrid, um dos quatro clubes que, segundo o Le Monde (os outros seriam o Barcelona, o Real Betis e o Valencia), teriam solicitado os polêmicos serviços de Fuentes.

Os supostos planos de preparação das equipes, "que não foram publicados" e "que o Le Monde considera como sendo as provas, imagino ser apócrifos, entre outras coisas porque uma prostituta que revelasse seus clientes ficaria sem trabalho", disse, por sua vez, um comentarista do jornal AS.

O diário catalão El Periódico admitiu sua decepção ao verificar as 'provas' indicadas pelo Le Monde. "Para que um meio tão prestigioso como o Le Monde aponte o dedo a equipes como o Real Madrid, o Barça, o Valencia e o Betis, é preciso ter algo mais sólido que algumas fotocópias de certos apontamentos feitos a mão sobre uma programação física desenhada por um médico indicado como sendo desonesto".

Já o periódico conservador ABC, assim como outros meios de comunicação locais, interpretou a investigação do Le Monde como o último episódio de uma "obsessão" francesa com o esporte espanhol. "Não é a primeira vez nem a última. Tem algo da imprensa francesa com o esporte espanhol, uma espécie de obsessão pessoal", afirmou o jornal. O ABC ainda recordou as suspeitas de doping feitas pela imprensa francesa contra os ciclistas espanhóis Pedro Delgado e Miguel Indurain, assim como contra o tenista Rafael Nadal.

Outros jornais nacionais, como El País e El Mundo, dedicaram generosos espaços à polêmica em suas páginas internas, mas sem tomar partido, apenas publicando as denúncias do Le Monde e os desmentidos dos clubes.

Desde a implementação na Espanha dos testes feitos de surpresa em maio de 1998, pouco antes do Mundial da França, "nenhum jogador deu positivo na Espanha", afirma o jornal Marca. Em 11 casos os testes de jogadores deram positivo na Espanha desde 1995, cinco deles para nandrolona, acrescenta o jornal.

Segundo o Le Monde em sua edição desta sexta, o Real Madrid e o Barcelona teriam solicitado os serviços do médico espanhol Eufemiano Fuentes, que está no centro de um enorme escândalo de doping. "Os clientes do médico, que a justiça espanhola considera o instigador de uma rede de doping sangüíneo, não se limitam unicamente ao mundo dos ciclistas", assegurou o diário.

"Clubes de futebol como Barcelona (onde atuam Ronaldinho, Eto'o, Deco) e o Real Madrid (Zinedine Zidane até junho último, Ronaldo, Roberto Carlos, David Beckham, Raúl) também teriam solicitado os serviços do médico espanhol", segundo Le Monde.

O jornal francês afirma "ter tido acesso a uma série de documentos confidenciais" (os planos de preparação dos clubes redigidos com o próprio punho por Fuentes em uma folha de papel), que detalham a programação para a temporada 2005-2006 no 'Barça' e Real Madrid.

"Inscrições codificadas" - que segundo um primeiro relatório das investigações da polícia espanhola serve para esconder produtos não autorizados - estão nestes documentos, afirmou Le Monde. Entre estes sinais se incluem um círculo e as letras 'IG', que já tinham sido identificadas em documentos relativos aos ciclistas da equipe Liberty Seguros.

Segundo a interpretação, o círculo corresponderia à administração de esteróides anabolizantes, e as letras 'IG' a 'Insulin Growth Factor', um precursor não detectável dos hormônios de crescimento. Uma letra 'e' indicaria a extração ou re-injeção de sangue já processado, enquanto que um ponto dentro de um círculo seria uma referência à administração de "eritropoietina" (EPO). Esses manuscritos correspondem "aos períodos de preparação e de recuperação dos clubes", precisou o jornal francês.

Em seus comentários, Le Monde afirma que o ciclista Jesus Manzano confirmou a seu enviado especial que, numa ocasião, reconheceu "um jogador do Real Madrid entre os que se submetiam ao tratamento, mas se negou a identificá-lo".

Le Monde assegurou também que o Barcelona tentou em duas oportunidades contratar Fuentes para seu departamento médico. A primeira vez foi em 1996, quando Fuentes trabalhava com o Elche, outro clube espanhol, e depois em fins de 2002.

Os documentos do médico espanhol implicariam o Valencia e o Betis, segundo o jornal francês. "A Guarda Civil não apreendeu os documentos aos quais Le Monde acesso, e que além do Barcelona e Real Madrid, se referem ao Valencia e ao Real Betis", assegurou o diário.

Na Espanha, representantes dos clubes mencionados reagiram de forma enérgica para desmentir qualquer ligação com Fuentes.

A famosa 'Operação Porto' começou em maio de 2006 com a descoberta de material para doping sangüíneo e os registros, com nomes codificados, de numerosos atletas, e o médico espanhol ficou desde o primeiro momento no centro das investigações deste escândalo. Em razão destas explosivas investigações, dois astros do ciclismo mundial, o alemão Jan Ullrich e o italiano Ivan Basso, foram afastados do Tour da França de 2006.