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‘Não é possível colocar um policial em cada esquina’

O comando da Polícia Militar do Grande ABC está, desde 28 de abril, sob a responsabilidade do coronel Ronaldo Gonçalves Faro, 51 anos.

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
13/05/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


  O comando da Polícia Militar do Grande ABC está, desde 28 de abril, sob a responsabilidade do coronel Ronaldo Gonçalves Faro, 51 anos.

Com mais de 32 anos na corporação, ele deixou o 6º Batalhão, em São Bernardo (onde ficou por oito anos), para assumir o CPAM-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitana 6), em substituição ao coronel Paulo Henrique Fontoura Faria, que permaneceu pouco mais de um ano no cargo e agora passa a ser responsável pelo comando da Polícia Metropolitana – além da região, ele também estará à frente do Alto Tietê (Suzano e Mogi das Cruzes).

Faro comandará efetivo de 3.500 policiais. Apesar de o número ser considerado defasado, conforme o que preconiza a ONU (Organização das Nações Unidas), o comandante diz que a Segurança Pública “não é só a polícia” e que, com a estrutura existente, tem de “fazer o melhor trabalho possível”.

Para combater os crimes com maior incidência na região (furto e roubo), Faro pretende continuar com as operações.

O senhor vai comandar efetivo de quantos policiais e como desenvolverá o trabalho com eles?

Por volta de 3.500 homens. É um efetivo grande, o trabalho é árduo. Temos as nossas conversas com o efetivo e procuro conversar sempre, chamamos de reuniões bimensais. Acho que é importante essa aproximação do comandante com a tropa. Temos de verificar quais os problemas que o policial enfrenta. Vou ao batalhão para fazer reunião e passar orientações do comando geral, de que hoje nosso lema é servir e proteger.

O senhor disse que a quantidade de policiais militares que atuam nas sete cidades – 3.500 – é um número grande. Porém, a ONU (Organização das Nações Unidas) preconiza a existência de um policial para cada grupo de 250 indivíduos. Considerando a população da região, de 2,7 milhões de moradores, temos um policial para cada 771 habitantes. Como o senhor avalia isso?

Temos que entender que a força de Segurança é composta por Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Científica e, às vezes, pelas Guardas Civis Municipais. Então, temos de somar todo esse efetivo e verificar se estamos dentro do que a ONU preconiza. A gente precisa tomar cuidado com esses posicionamentos e tem que somar os efetivos. Em outro ponto, temos que pensar que a Segurança pública não é só polícia. Tenho que me preocupar com outras coisas e é o que eu sempre converso com os prefeitos e com os secretários municipais, quando tenho contato com eles, sobre o que estamos fazendo para aquelas pessoas que estão em situação vulnerável, o que leva aquela pessoa a fazer o crime.

O número é suficiente?

A polícia tem efetivo que é distribuído para o Estado equitativamente. Se faltam, por exemplo, 10% em Ribeirão Preto, vão faltar 10% no efetivo da instituição. O que a instituição tem distribui, então não posso reclamar em relação ao efetivo. Com aquilo que eu tenho, tenho de fazer o melhor trabalho possível.

Há previsão de chegada de mais homens para reforçar o efetivo?

Vamos receber 90 alunos, em 4 de junho, que serão formados ainda e auxiliarão aqui. Depois, eles são restituídos para a nossa escola de formação e serão distribuídos para o Estado todo. Eles ficam aqui em torno de quatro a cinco meses. Isso auxilia muito na nossa atividade. Temos um prazo de validade, policial com mais de 30 anos de serviço, principalmente na atividade de rua, não suporta mais. Só de equipamento, ele carrega de sete a oito quilos a mais. Há estudos que mostram que o policial militar, quando se aposenta, por volta dos 50 anos, começa a ter problemas de saúde que outras pessoas da sociedade civil só terão com 75 anos. Mas nosso efetivo não diminui. Os policiais estão se aposentado e a gente precisa repor. Quando esses alunos se formam é a reposição.

Com relação à estrutura da Polícia Militar na região, ela atende a contento para o desempenho do trabalho? No mês passado, reportagem do Diário flagrou ao menos 35 viaturas paradas no setor de gerenciamento e manutenção da frota do CPAM-6.

Somos uma entidade pública e temos normas a serem cumpridas. Temos que entender que as viaturas são veículos comuns, que têm desgaste natural. Quando quebra, temos de fazer um orçamento, licitação e arrumar, e isso leva um pouco de tempo. Muitas vezes, fazemos remanejamento de viaturas, (usando) veículos administrativos, não falta material. A Polícia Militar do Estado é grande: temos uma frota estadual de 15 mil viaturas (no Grande ABC são 580), 83 mil homens, precisamos fornecer fardamento, colete, arma, munição e isso é caro. O que temos que entender é: hoje, não há nenhum problema em relação a isso. E o Estado renova, a cada ano, em média , 20% das viaturas do rádiopatrulhamento.

Quais os principais problemas da região hoje quanto à criminalidade?

Temos de fazer frente aos roubos de veículos e roubos outros. A gente percebe o modus operandi: as pessoas estão no ponto de ônibus, por exemplo, e acabam sendo roubadas. Temos que fazer análise do que acontece e direcionar o policiamento para aquilo ali e envolver operações para que a população veja mais a polícia. O bem que mais é roubado hoje é o celular, porque as pessoas estão usando o aparelho na rua, no ponto de ônibus, desatentos. Não é culpa do cidadão ser vítima, mas na sociedade em que vivemos precisamos nos precaver. Se a pessoa tem garagem com portão automático, coloque o carro de ré, por exemplo. São coisas simples, mas que às vezes ele deixa de ser vítima em razão disso e ajuda a polícia. Não é possível colocar um policial em cada esquina, em lugar nenhum do mundo. O que vai conseguir é minimizar o problema através de sistemas inteligentes de planejamento, que temos, analisando o que está acontecendo no dia a dia. Através dessas ferramentas faço o meu planejamento e a sociedade pode me ajudar.

E de que outras maneiras a população pode auxiliar a polícia?

Uma das coisas é fazer o boletim de ocorrência e se a pessoa achar que no DP (Distrito Policial) vai perder muito tempo, faz pela internet. Aquilo que não chega para mim é desconhecido. Preciso saber o que está acontecendo para que faça o planejamento e atenda a demanda. Não significa que em um lugar que nunca aconteceu um crime a viatura não vai passar. Ela passa com menor frequência. Onde está acontecendo mais, precisamos estar mais ali.

Como o senhor pretende desenvolver o trabalho à frente do CPAM-6?

As operações que estavam sendo desencadeadas continuarão, com enfoque naquilo que mais tem incomodado a comunidade do Grande ABC, principalmente os crimes ao patrimônio, que são roubo, roubo a veículos e à residência. Algumas questões a gente precisa tratar e se aprofundar. A gente vê o aumento de estupros e vi uma reportagem no Diário sobre isso. Verificamos que a maioria dos casos ocorre dentro de casa. Não é aquilo que, como policial, a gente pode enfrentar, que é a pessoa que está na rua, mas vamos buscar saber qual foi o modus operandi, se existe alguma característica específica para que a gente atue naquilo, para que não ocorra mais.

Há algum projeto que pretende desenvolver?

Tudo o que já estava (sendo desenvolvido) são projetos que, muitas vezes, participei. Colaboramos com o comandante que estava, então, os que existem são os principais. Claro, talvez tenha que fazer algumas operações, mas são pontuais. De repente (em relação a) essa questão de roubo com motos precise fazer ações. Preciso pedir apoio para o 2º Batalhão de Choque, que tem as Rocams (Rondas Ostensiva Com Apoio de Motocicletas). Não que eu não tenha, mas é bom reforçar. Mas isso também já estava sendo feito. Não vou inventar moda, precisamos aprimorar algumas coisas. A gente costuma fazer muitas operações e temos várias, como a Operação Metropolitana Integrada, Força Total e as chamadas operações Fecha Quartel, onde pegamos todo o efetivo administrativo e colocamos para auxiliar a parte operacional. São essas as formas que temos de enfrentar a criminalidade.

Hoje, os criminosos estão cada vez mais ágeis. Como fazer frente à essa audácia?

A gente percebe a habilidade do furtador, por exemplo. Verificamos que ele leva, no máximo, 50 segundos para furtar um veículo e o que me espanta é a questão de furtar veículos novos, que têm chaves codificadas, sistemas de travas de segurança, diferente dos de antigamente, que eram mais simples. Mas eles desenvolvem tanta habilidade, através do bloqueador de alarme, da troca do módulo do veículo, que é uma coisa que também temos que combater (o furto) através do sistema inteligente, do policiamento preventivo, são essas as formas que a gente pretende atuar. Quando se tem alguns projetos, como o Estado tem o Detecta (sistema de monitoramento inteligente por câmeras), em parceria com os municípios, isso inibe o roubo, porque a vítima acaba dando informações daquele veículo e, ao serem registradas nos nossos sistemas inteligentes e o veículo passar por uma câmera de radar que estiver  dentro do projeto, vai emitir alerta para as viaturas. A possibilidade de ele ser preso é maior. Espero que possamos ampliar esse projeto para dar uma melhor  resposta à comunidade. A gente sabe que depende de investimento e temos que entender as limitações financeiras das prefeituras em um período muito crítico. Mas, pelo o que a gente vai acompanhando, vemos o andamento de obras, o investimento em algumas áreas, e acho que a Segurança também é uma das preocupações dos prefeitos da região.




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