Automóveis Titulo Segurança
Agora é a vez dos pedestres
Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
16/09/2009 | 07:00
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Durante muitos anos, a indústria automobilística mundial investiu montanhas de dinheiro no desenvolvimento de tecnologias que garantissem a segurança de motoristas e passageiros em casos de acidente. Air bags, freios ABS, cinto de segurança são apenas algumas dessa invenções. De uns anos para cá, no entanto, os pedestres, ciclistas e motociclistas passaram a ganhar as atenções dos engenheiros, que iniciaram o desenvolvimento de veículos com novos sistemas que amenizam - ou mesmo evitam - atropelamentos com vítimas fatais.

O mais moderno de que temos notícia deve ganhar as ruas em 2010. A Volvo aperfeiçoa o Collision Warning with Full Auto Brake and Pedestrian Detection (Alerta de Colisão com Freio Automático Completo e Detecção de Pedestres), que equipará o novo S60. Por meio de radares e câmeras, o veículo detecta a presença de pessoas à frente e inicia a frenagem automaticamente, sem a interferência do motorista.

"Quando o veículo está abaixo de 20 km/h, o acidente é evitado por completo", revela Leandro Oliveira, consultor técnico da Volvo Cars. "Já em velocidades superiores, o sistema pode reduzir a força da colisão em até 75%", completa.

E apenas a título de curiosidade, para desenvolver essa tecnologia, a montadora de origem sueca inventou o Bob, dummy (boneco de crash-test) que faz o papel de pedestre. Detalhe: um dummy custa cerca de US$ 200 mil - caro, né?

Esse sistema é considerado uma evolução do City Safety, presente no utilitário da Volvo XC60. Este sistema impede colisões somente com outros carros em velocidades inferiores a 20 km/h. Não tem a capacidade de identificar pessoas.

O QUE JÁ TEMOS... - Não somente a Volvo trabalha na segurança de quem está do lado de fora dos veículos. Muitas montadoras já adotam medidas que minimizam ferimentos - e evitam mortes - em atropelamentos. A maioria dessas tecnologias está incorporada na parte dianteira dos veículos.

Há algum tempo as montadoras adotam o soft-nose (nariz macio), utilizando no capô e para-choques materiais com maior capacidade de deformação - alumínio, por exemplo -, diminuindo o grau de lesões, especialmente nos membros inferiores.

Os chamados cantos vivos também foram eliminados. Outra ação é a elevação do capô em relação ao motor, ampliando a área de deformação e reduzindo riscos de fraturas.

Na traseira dos carros encontramos o sensor de estacionamento, que pode impedir o atropelamento de um pedestre, por exemplo, que esteja passando atrás do automóvel e fora do campo de visão do veículo, o popular ponto cego.

Parece que a vez dos pedestres chegou para ficar. E essa evolução tecnológica não pode parar!

Conheça outras inovações

Atualmente, o mundo a a chamada Onda Verde - movimento que busca desenvolver carros ecologicamente corretos. Nunca se falou tanto em emissão zero de poluentes, motores elétricos, energias alternativas e veículos híbridos.

Porém, com o advento dessas novas tecnologias, nasceu um novo problema de segurança: carros silenciosos. Pedestres idosos ou com deficiências visuais não conseguem identificar a presença de um veículo elétrico ao atravessar a rua.

O governo do Japão - país onde o ideal dos carros híbridos, equipados com propulsores elétricos, é uma realidade - já estuda a obrigatoriedade de as montadoras criarem sistemas sonoros para esses veículos, com o objetivo de evitar atropelamentos. Até o fim do ano, as fabricantes deverão apresentar alternativas.

Segundo estudo feito por psicólogos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, pessoas com dificuldades visuais têm somente um segundo para identificar a presença de um veículo elétrico trafegando em baixa velocidade. Acima de 40 km/h, no entanto, o barulho dos pneus possibilita a percepção do automóvel com maior facilidade.

AIR BAG DE CAPÔ - Uma das tecnologias que podem aparecer em breve é o air bag de capô - que ainda passa por desenvolvimento.

O princípio do funcionamento é o mesmo do air bag tradicional. A partir de uma colisão, bolsas infláveis são acionadas no capô e na coluna A, ajudando a evitar ferimentos.

‘Todo mundo é pedestre'

As ruas e avenidas das grandes cidades brasileiras são verdadeira selva com leis que não são respeitadas. Quem nunca ouviu falar que nosso trânsito mata mais do que a guerra? Carros, caminhões, ônibus, motos, bicicletas e pedestres disputam cada centímetro de espaço.

Somente na cidade de São Paulo, por exemplo, 1.463 pessoas perderam a vida em acidentes no ano passado, segundo informações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Deste total, 670 foram pedestres, 478 motociclistas e 69 ciclistas - números que revelam a fragilidade destes três grupos.

De acordo com Júlia Greve, professora associada do departamento de ortopedia e traumatologia da Faculdade de Medicina da USP, a imprudência dos motoristas não é a única causadora de atropelamentos no Brasil. "O desrespeito dos pedestres às leis de trânsito também provoca diversas mortes", revela Júlia, lembrando que muitos atropelados encontravam-se alcoolizados.

Segundo ela, a única saída para a diminuição de tantos acidentes fatais é a reeducação a partir da utilização de veículos de comunicação como ferramenta de divulgação e fiscalização rígida das autoridades, já que a sensação de impunidade no tráfego brasileiro é grande.

FERIMENTOS - Júlia Greve explica ainda que as vítimas que mais sofrem com os atropelamentos são mesmo os pedestres. "Dependendo da velocidade do veículo - acima de 50 km/h -, o acidente pode ser fatal", revela a especialista. "E caso a pessoa sobreviva, as partes mais afetadas são as pernas e os órgãos internos".

Motociclistas e ciclistas apresentam os mesmos tipos de ferimentos em casos de atropelamento. "Em colisões em baixas velocidades, os membros inferiores são os que mais sofrem. Normalmente há perda de pele e fraturas expostas".

Júlia lembra que o Código Nacional de Trânsito determina que o pedestre tem sempre a preferência. "Os condutores devem dirigir de forma defensiva pensando nos outros veículos e também nos pedestres", exalta. "Nem todos são motoristas ou motociclistas, mas todos são pedestres", finaliza.




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