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Serviço secreto em debate em São Bernardo
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
15/07/2005 | 08:34
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O serviço secreto acabou escancarado nas manchetes dos jornais. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) esteve envolvida em pelo menos 15 recentes escândalos nacionais, incluindo o grampo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em 1998, que pegou o então presidente Fernando Henrique Cardoso numa suspeita conversa sobre a privatização da Telebrás, ou as imagens do assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, pedindo propina ao empresário de jogos eletrônicos Carlinhos Cachoeira ano passado (o vídeo que mostra o embolso da propina de R$ 3 mil no caso dos Correios em maio passado também teria dedo da Abin). Quarta-feira, caiu seu diretor geral, Mauro Marcelo Lima e Silva. Quarta-feira, o serviço secreto brasileiro foi debatido no lançamento do livro Ministério do Silêncio (Record, 590 págs., R$ 55,90), na Livraria Siciliano do Shopping Metrópole, em São Bernardo.

Lucas Figueiredo, jornalista e autor deste registro histórico dos 78 anos do serviço brasileiro de inteligência, ou secreto, oficialmente criado em 1956, um estranho híbrido de entidade civil subordinada aos militares (hoje, ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix), conversou com o público presente e com a diretora de Redação do Diário, Paula Fontenelle. Autora de Iraque - A Guerra pelas Mentes (2004, Sapienza, 208 págs.), Paula questionou a relação dos presidentes com o serviço secreto. "Medo e conveniência", respondeu Figueiredo. "Toda vez que um presidente tentou enquadrá-lo, teve problemas. O governo morre de medo, pois o serviço secreto pode acabar com ele em uma semana".

Nos países que resolveram bem o que vem a ser serviço secreto, este investiga a ação de espiões estrangeiros dentro das fronteiras e as ameaças externas ao Estado. No Brasil, segundo Figueiredo, sua razão histórica de existência é "controlar os movimentos sociais. O militar é treinado a enfrentar um inimigo. Sem inimigos reais, os buscou nos movimentos sociais. Lula, por exemplo, simboliza o inimigo número um do serviço secreto, que chegou ao poder".

Para Figueiredo, o foco sempre foi o inimigo interno, enquanto espiões estrangeiros fazem biopirataria na Amazônia, por exemplo. "Se for para gastar energia investigando cidadãos comuns não precisamos de serviço secreto. A Abin precisa é de algum mecanismo de controle, como a corregedoria de polícia. Mas não há. Nem a comissão mista parlamentar encarregada desse controle (comandada pelo senador Cristovam Buarque, PT-DF) foi regulamentada", disse.




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