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Região carece de recursos para oncologia infantil
Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
23/11/2012 | 07:00
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André Henriques/DGABC


No Dia Nacional de Combate ao Câncer, lembrado hoje, a região tem pouco a comemorar. Segundo o presidente da Casa Ronald McDonald de Santo André, Jaime Guedes, instituição que oferece apoio a crianças com câncer e suas famílias, a região necessita de serviços especializados de oncologia infantil. No Grande ABC a unidade de referência para tratamento desses casos é o Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André.

O projeto de criação de ambulatório de oncologia pediátrica no hospital foi enviado ao governo estadual neste ano, mas segue em análise. A instituição afirma ter verba para implantação do serviço, mas necessita que o Estado pactue com a contratação de médicos e remédios. "Um dos nossos maiores problemas é depender de órgãos públicos e investimento. O câncer infantojuvenil não é tratado como prioridade no Grande ABC, por isso muitos pacientes ainda são encaminhados para tratamento em São Paulo", explica Guedes.

Os pacientes recebidos pela Casa Ronald Mc Donald são encaminhados pelas redes municipais de Saúde. Atualmente, 75 crianças de zero a 18 anos, além de suas famílias, são atendidas na unidade, sendo que seis pacientes moram no local com suas mães (leia abaixo). A casa oferece estadia, atendimento nutricional, refeições, atividades lúdicas com pedagogos, aulas de informática e outras atividades.

O tratamento e medicação são de responsabilidade do hospital. Porém, por conta da falta de recursos, de cada 100 casos que chegam das redes, apenas dez conseguem ser atendidos. Dos 22 apartamentos disponíveis na casa, apenas seis estão ocupados. "É fundamental que haja sensibilização dos gestores do governo estadual. Temos todas as condições de ampliar o serviço dentro do Hospital Mário Covas. Precisamos que o poder público abrace essa causa, pois é muito simples virar as costas quando não se tem um filho com câncer", diz a coordenadora do Projeto Diagnóstico Precoce da instituição, Janete Regina Figueiredo.

Procurada, a Secretaria Estadual da Saúde informou que o projeto segue sob análise, ainda sem previsão de resposta. A Pasta salientou que irá estudar a abertura do serviço se houver viabilidade.

MC DIA FELIZ
Hoje, a principal fonte de renda da Casa Ronald McDonald é o Mc Dia Feliz. Uma vez por ano a rede de lanchonetes destina o valor líquido da venda de um dos seus principais lanches ao tratamento de câncer infantil. A ação garante média de R$ 500 mil à causa.

As demais unidades da Casas Ronald McDonalds funcionam no Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas e Belém. Jaú, no Interior, receberá a sexta unidade ainda neste mês.


Programa capacita agentes das redes para identificar casos

A criança que recebe diagnóstico precoce de câncer tem até 90% de chances de cura com tratamento especializado. Visando ampliar o acesso do público infantil ao serviço, o Instituto Ronald Mc Donald criou, em 2009, o Programa Diagnóstico Precoce, coordenado por Janete Regina Figueiredo. O programa viabiliza a execução de projetos de capacitação de integrantes da ESF (Estratégia Saúde da Família), composta por equipes que atuam nos postos de Saúde da região.

Os profissionais, incluindo médicos, enfermeiros e agentes comunitários de Saúde, são capacitados para que aprendam a suspeitar e encaminhar para hospitais de referência potenciais casos de câncer em crianças e adolescentes. Até hoje, cerca de 1.000 profissionais da rede básica do Grande ABC receberam orientações. Neste ano os trabalhos foram concluídos em Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Os resultados são animadores. "Antes demorava, em média, três a quatro meses para que esse paciente chegasse ao tratamento. Hoje percebemos que esse período diminuiu para até 30 dias", explica.

Para o superintendente do Instituto Ronald McDonald no Brasil, Francisco Neves, é preciso que redes públicas de Saúde direcionem o investimento em diagnóstico precoce para economizar custo com tratamentos caros e que deixam sequelas. "Não há doença que mate mais jovens de 5 a 19 anos do que o câncer. Diagnóstico tardio significa tratamento prolongado, alto custo e índice de cura baixo. Buscamos justamente o contrário."

Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam a existência de 11 mil crianças e adolescentes com câncer no País - ou 3% do total.


Mãe boliviana traz filho para tratamento na região

Em um dos 22 apartamentos da Casa Ronald McDonald, em Santo André, mora Gabriel Valverde, 5 anos, que tem tumor no cérebro. A criança veio da Bolívia acompanhada da mãe, Yessenia Sancedo, 29, há três anos.

Por meio de contato de familiares que moram no Brasil, a família conseguiu que o garoto iniciasse tratamento no Hospital Estadual Mário Covas, referência para atendimento de crianças com câncer na região. "Na Bolívia havia recursos apenas para tratamento de câncer adulto", explica a mãe, que passou a morar com a criança na unidade. A família vai morar no local até que o tratamento de Gabriel complete cinco anos. "O tumor regrediu bastante e a quimioterapia já terminou", comemora Yessenia. Adaptada aos costumes brasileiros e ao idioma, a mãe ainda não sabe se retornará ao país de origem. "Será difícil decidir. Fiz duas famílias."

INICIATIVA MUNICIPAL
Na região, a Prefeitura de São Caetano auxilia pacientes com suporte clínico, laboratorial e radiológico no Hospital Infantil Márcia Braido. Depois do diagnóstico, é encaminhado ao Mário Covas ou Capital. A Prefeitura de Diadema informou que não conta com programa específico na área. As demais não responderam.




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