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Mulheres aguardam
reprodução gratuita

As pacientes que não têm condições para bancar tratamento
esperam início do projeto, o que deveria ter ocorrido em 2010

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
23/09/2012 | 07:00
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O sonho de ser mãe é algo distante da realidade de pessoas como a auxiliar de unidade Regiane Silva Prudente, 26 anos. Não bastasse a dificuldade de engravidar naturalmente, a falta de condições financeiras a impedem de dar continuidade a tratamento por meio de técnicas de reprodução assistida.

O cenário de desilusão da moradora de Santo André poderia ser diferente, caso tivesse saído do papel projeto que garantiria a manutenção de ciclos de reprodução gratuitos a partir de fevereiro de 2010 para mulheres carentes. A proposta foi anunciada após acordo entre a Faculdade de Medicina do ABC, por meio do Instituto Ideia Fértil, e o Programa HCG, que coleta urina de gestantes de Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá há seis anos para produção de medicamento para tratamentos de infertilidade feminina na Holanda.

O último prazo dado para início do programa foi em julho e a expectativa era de que o cadastramento das mulheres carentes começasse em agosto, o que não ocorreu. Segundo o diretor clínico do Instituto Ideia Fértil, Caio Parente Barbosa, as conversas sobre o tema não avançaram desde então. Com isso, não há prazo para que mulheres como Regiane sejam beneficiadas de forma gratuita.

Apesar do Programa HCG afirmar que disponibiliza aportes financeiros mensais para a Faculdade de Medicina do ABC para ajudar na manutenção e ampliação dos serviços prestados à população desde 2008, Barbosa explica que o montante não supre sequer um ciclo de reprodução, que custa cerca de R$ 6.000 no instituto, um terço mais barato do que os procedimentos encontrados pelo mercado. Além da manutenção do programa no instituto, o dinheiro auxilia na assessoria médica prestada pela faculdade e na divulgação do projeto às pacientes, segundo Barbosa.

LONGA ESPERA
Enquanto não há fim de impasse para viabilização do tratamento gratuito, a única alternativa de Regiane é aguardar. Casada há quatro anos, ela ainda se recupera de empréstimos que precisou fazer para financiar uma tentativa de inseminação artificial e outra de fertilização in vitro. "Já gastei R$ 12 mil e não tenho mais de onde tirar dinheiro, mesmo os médicos afirmando que teria mais chance numa segunda vez", lamenta.

A vontade aflorada de ter um filho é compartilhada por toda a família, mas incompreendida pela sociedade, segundo ela. "Muita gente me fala que sou louca em gastar tanto e aconselha a desistir", revela.EM

Situação parecida vive a dona de casa Clélia Mendes Rodrigues, 38 anos. Depois de três inseminações artificiais feitas desde 2007, quando resolveu ter um segundo filho, este com o atual marido, com quem é casada há 17 anos, a esperança é a fertilização, a qual ela não tem como pagar.

Clélia chegou a engravidar, mas perdeu o bebê durante o terceiro mês de gestação, em 2010. Neste período, ela ressalta que doou urina para o Programa HCG. "A gente ajuda e não tem benefício nenhum", comenta.

Para piorar, a família do marido, um motorista de ônibus, não aprova o casamento e associa a dificuldade de ela engravidar a um castigo. O resultado de tanta pressão e sofrimento foi depressão, tratada nos últimos três anos. "O tempo está passando e fica cada vez mais difícil", destaca referindo-se à idade atual e à proximidade da menopausa.


Programa atinge 50% das mulheres que iniciam pré-natal

Somente em 2011, cerca de 8.500 gestantes do Grande ABC participaram da campanha e doaram urina ao Programa HCG. O número representa 50% das mulheres que iniciaram pré-natal nas redes municipais das quatro cidades.

Como contrapartida, os municípios recebem doações de testes rápidos de gravidez, material educativo sobre o programa, importância do pré-natal, amamentação, prevenção de gravidez na adolescência e planejamento familiar, auxílio em campanhas de Saúde para prevenção de HPV e câncer de cólo de útero, por exemplo, além de capacitação de equipes de Saúde para o atendimento às gestantes, fomento à formação de grupos de grávidas em unidades de Saúde e kits de enxoval de bebê.

O Programa HCG está no Brasil desde 1986 e se dedica à missão de identificar gestantes até o terceiro mês de gravidez e de convidá-las a se tornarem doadoras de hormônio HCG, produzido pelo organismo da gestante ao longo de todo período da gravidez e eliminado naturalmente na urina.




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