Entusiasmado com as 47 propostas do G-20 contra a crise? Esqueça: o G-20 esqueceu de combinar o jogo com o novo dono da bola, Barack Obama. E Barack Obama, aparentemente, não tem a menor intenção de evitar medidas protecionistas, conforme propõe o documento do G-20: ao contrário, já disse que pretende proteger a indústria automobilística americana, que vai mal.
Seria preciso também convencer Barack Obama a contrariar os produtores americanos de milho, reduzindo as tarifas do álcool brasileiro; a contrariar os produtores de suco de laranja da Flórida, reduzindo as sobretaxas (que hoje alcançam até 60%) sobre a importação de suco brasileiro; a contrariar os produtores siderúrgicos, reduzindo as taxas sobre importação de aço brasileiro.
Aliás, o próprio G-20 também não acredita muito naquilo que propõe. Mais comércio internacional? Brasil e Argentina já concordaram em propor aos demais países do Mercosul (Uruguai e Paraguai) o aumento da Tarifa Externa Comum para produtos de couro, móveis de madeira, frutas, vinhos e derivados de leite. Traduzindo em português: vai ficar mais difícil importar esses produtos de países de fora do Mercosul. Traduzindo em diplomatiquês, de acordo com a explicação da Secretaria da Indústria da Argentina: "Não se trata de protecionismo, mas sim de defender nossa produção". Simples, não é?
Se resta alguma dúvida sobre a importância do G-20, as propostas estão sendo relatadas por três países. São presididos pelo ministro Guido Mantega, do Brasil.

AGORA VAI!
Mas, se o G-20 não desperta tanto entusiasmo, outra iniciativa internacional tem tudo para causar espanto: a Alba (Alternativa Bolivariana de las Américas), comandada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, que reúne gigantes internacionais como Bolívia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Dominica, estuda alternativas para a crise. Por exemplo, substituir o capitalismo e a economia de mercado pelo bolivarianismo, ou "socialismo do século 21", seja lá isso o que for.

QUEM GANHA
Dois governos, o federal e o paulista, liberaram R$ 8 bilhões, no total, para facilitar a venda de automóveis. Uma importadora coreana de carros de luxo está anunciando que, com subsídios do governo, pode oferecer juros mais baixos. Ou seja, o dinheiro público brasileiro está sendo utilizado para facilitar a venda de carros importados, criando empregos do outro lado do mundo. Isso está certo?

AGRICULTURA EM CRISE...
Um bom número de agricultores parou de pagar as prestações de suas máquinas. Segundo o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, ele mesmo grande fazendeiro de soja, a escassez de crédito secou o caixa dos produtores rurais - que, sem financiamento, difícil não apenas nos bancos mas também nas multinacionais que compram safras inteiras, estão atrasando o plantio. Verdade ou não? A coisa parece séria - já há agroempresas em concordata (ou, na linguagem atual, em recuperação judicial). Mas, como observou certa vez o ex-ministro Delfim Netto a um grupo de cafeicultores que pedia mais crédito, "seus pais plantaram café, reclamaram da crise, ampliaram as fazendas, vocês plantam café, reclamam da crise e mandam os filhos estudar no Exterior". E completou: "E estão aqui para quê? Pedindo crédito para plantar mais café".

...OU NÃO
Mas é difícil saber como está a agricultura, de verdade, sem conhecer a situação de perto. No governo Collor, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, foi responsabilizada pelo fracasso do plantio, por ter atrasado em um mês a liberação do crédito agrícola. Atribuiu-se a ela a reclamação: "O atraso foi só de um mês!" Tinha razão - só que era exatamente o mês em que se devia plantar.