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Duas mulheres violentadas em 2h em S.Caetano
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
23/11/2004 | 09:06
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Sob o sol da tarde de domingo, em um intervalo de menos de duas horas, uma adolescente de 15 anos e uma mulher de 31 sofreram violência sexual em São Caetano. Provavelmente pelo mesmo homem, de acordo com a descrição das vítimas. Já são quatro casos de estupro registrados na cidade só neste mês. Segundo policiais da Delegacia Sede de São Caetano, não havia queixa de abuso sexual no município há mais de cinco meses. "São fatos que realmente chamam a atenção", disse o delegado titular de São Caetano, Adilson da Silva Aquino.

A cidade não possui delegacia da mulher. Há um ano, a Secretaria Estadual de Segurança Pública prometeu, mas não instalou, a primeira delegacia deste tipo no município. Assim, um serviço de plantão jurídico gratuito tenta atender a demanda de mulheres violentadas na cidade.

Uma das vítimas de domingo foi a estudante da 8ª série Adriana (nome fictício), de 15 anos. Moradora da Vila Gerty, ela foi estuprada por volta das 15h nas proximidades do estádio Anacleto Campanella, no bairro Olímpico. A menina diz ter sido violentada no meio da rua, na travessa Doutor Gastão Vidigal. "Foi o que mais me chocou. Como alguém chega ao ponto de estuprar uma garota durante a tarde e na rua", disse a tia da menina, a comerciante K.T., 34 anos.

Adriana foi atendida no Pronto-Socorro Municipal e nesta terça ainda tomou um coquetel de remédios para evitar a transmissão de doenças como Aids, hepatite C e tétano, e também gravidez. "Ela me disse que gritou muito, mas o homem só parou quando uma mulher passou com um bebê no colo e fez um escândalo", disse a tia. Em estado de choque, a adolescente apenas afirmou à polícia que o agressor tem cabelos compridos e vestia camiseta branca e bermuda escura.

Uma hora e meia depois, a empregada doméstica D.R.D., de 31 anos, também foi violentada por um homem com as mesmas características. Desta vez, o ataque foi no bairro Santo Antônio, onde mora. "Como a parte da frente da casa está sendo reformada, ele entrou com facilidade e se escondeu no quintal", disse. D. chegou do trabalho e o encontrou já "sem roupa" nos fundos. "Ele pegou uma faca e cortou o meu braço e tirou minha roupa." D., no entanto, não chegou a ser estuprada. Com sua reação, o homem decidiu ir embora, mas jurou que voltaria. D. descreveu o estuprador como um homem branco de cerca de 30 anos, cabelos compridos e vestido de camisa branca e bermuda preta. O delegado Aquino afirmou que tentará fazer um retrato falado do estuprador. As vítimas devem depor nos próximos dias.

Outros dois casos ocorreram em São Caetano. Um no dia 3, quando uma menina de 17 anos foi pega por dois homens também no bairro Santo Antonio. O outro foi na última quinta-feira, na estrada das Lágrimas, divisa com São Paulo.

Assistência - O Plajam (Plantão Jurídico de Assistência à Mulher), serviço gratuito no município, tem 11 advogados especializados e atende cerca de 20 mulheres por semana. "A maioria das mulheres violentadas na cidade nos procuram antes de ir a uma delegacia", disse a diretora do Plajam, Rosirene Rocha Stacciarini. Isso acontece porque a cidade ainda não tem uma delegacia da mulher.

Segundo ela, com o respaldo jurídico, as vítimas de violência doméstica ou sexual se encorajam a denunciar os maridos e demais agressores. "Acompanhamos as mulheres até as delegacias, mas geralmente vamos nos distritos convencionais aqui de São Caetano."

No Grande ABC, apenas São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não têm delegacia da mulher. Muitas das vítimas de violência em São Caetano são atendidas na delegacia da mulher de Rudge Ramos, em São Bernardo. Em setembro do ano passado, o delegado seccional de São Bernardo e que também atende São Caetano, Marco Antônio de Paula Santos, afirmou que a cidade teria sua DDM em um ano.

Nesta segunda, ele explicou que o projeto ainda está emperrado na direção da Polícia Civil. "Não é só uma questão de índices, mas de coeficiente populacional e disposição de policiais especializados. Estou aguardando uma pesquisa encomendada ao Departamento de Administração e Planejamento para verificar se a cidade tem necessidade ou não de uma delegacia da mulher", disse o seccional.

Segundo o assessor jurídico do gabinete do prefeito, Antonio Gusman Filho, a cidade pode ceder um terreno desde que o Estado anuncie a criação da DDM. A Secretaria Estadual de Segurança Pública não informou quantos casos de estupro em São Caetano foram registrados na delegacia de Rudge Ramos.




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