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UFABC cria teste de baixo custo para Covid

Kit já é utilizado pela comunidade acadêmica; valor de fabricação é até 75% menor do que os PCRs

Por Aline Melo
30/05/2021 | 07:03
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Reprodução/DGABC


A comunidade acadêmica da UFABC (Universidade Federal do ABC) que precisa comparecer aos campi da instituição em Santo André e São Bernardo está sendo submetida a testes para Covid com kit desenvolvido pela própria universidade. Semelhante ao teste PCR, aquele em que com um cotonete o profissional de saúde coleta material da faringe, o sistema desenvolvido utiliza a saliva do paciente para identificar a doença, tornando a coleta mais simples e menos desconfortável.

Com a finalidade de monitorar a situação epidemiológica no âmbito da universidade, a instituição estabeleceu o protocolo de testar, semanalmente, integrantes da comunidade universitária que, mediante apresentação de justificativa, necessitem comparecer aos campi.

“Atualmente a UFABC está com atividades presenciais suspensas. Portanto, o número de pessoas que têm frequentado os campi é bastante baixo e restrito”, destacou a instituição. Os testes começaram a ser feitos na semana passada e a cada 15 dias serão divulgados boletins, mas os resultados ficam prontos em até 24 horas. A capacidade é de até 300 testes por semana.

Pesquisadora e coordenadora do grupo de pesquisadores que desenvolveu o teste, a professora Márcia Aparecida Sperança explicou que o exame pode ser coletado em casa, dispensando a presença de um profissional de saúde, e que, se houver interesse do governo para produção em massa, o kit já está em condições de ser fabricado e atender à necessidade de testagem da população. Além da facilidade de coleta, o teste tem custo de produção de R$ 20, até 75% menor do que os PCRs, que custam entre R$ 70 e R$ 80 para serem fabricados.

O valor mais acessível se deve ao fato de que todos os componentes do teste são nacionais e com registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Márcia relatou que os exames começaram a ser desenvolvidos entre julho e agosto do ano passado e que contaram com colaboração científica da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), que atuou na validação dos testes e também no estudo comparativo dos resultados entre os kits desenvolvidos pela UFABC e os outros, atestando a sua eficácia.

De acordo com a pesquisadora, caso houvesse condições de promover parcerias com laboratórios especializados e garantir mais recursos operacionais, este modelo de testagem poderia ser ampliado e aplicado em diversas outras esferas da sociedade. O exame não será vendido pela UFABC ao público geral. A instituição pretende transferir o desenvolvimento para empresas do setor ou para o governo.

COMBATE À COVID
Série de pesquisas que vêm sendo realizadas desde o ano passado por pesquisadores da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Rede Humanidades Covid-19, ligada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostra falhas no combate à pandemia que afetam diretamente quem está na linha de frente: os profissionais de saúde. Uma das pesquisadoras, a professora da FGV Gabriela Lotta é docente licenciada da UFABC e explicou que, embora os resultados das pesquisas tenham melhorado pouco desde o ano passado, no que se refere à oferta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para os profissionais de saúde, os dados mais recentes, de abril de 2021, mostram que 50% dos trabalhadores não recebem os materiais adequados.

Outros indicadores também chamam a atenção, como o fato de que, no início da pandemia, a taxa de testagem entre os profissionais de saúde era de 35%. No último levantamento, caiu para 15%. “Testar os profissionais de saúde deve ser prática constante, porque aquela pessoa está sempre em contato com pacientes contaminados”, apontou Gabriela.

Os dados das pesquisas têm sido usado para embasar questionamentos na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado, que apura possíveis responsabilidades do governo federal no combate à pandemia.

Universidade continua com verbas bloqueadas

O Diário mostrou em 13 de maio que a UFABC (Universidade Federal do ABC) teme não conseguir manter as atividades até o segundo semestre de 2021 por falta de verbas. Até a data em que a reportagem foi publicada, o governo federal havia liberado 44% do orçamento da instituição, que já é 18% menor do que o de 2020 – no ano passado a verba foi de R$ 53,1 milhões. Dos R$ 43,6 milhões do orçamento deste ano, haviam sido depositados R$ 19,3 milhões. O restante, R$ 24,3 milhões, aguardava chancela do Congresso Nacional.

O recurso é utilizado para o custeio de contas básicas, como água, luz, internet, disponibilidade para aulas remotas, empresas terceiras de segurança e limpeza, além das bolsas estudantis socioeconômicas destinadas a pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade. Segundo o conselho universitário, para dar conta de manter toda a estrutura, a UFABC precisaria de R$ 90,3 milhões, ou seja, mais do que o dobro dos R$ 43,6 milhões que constam no orçamento.

Após mobilização da instituição, o governo federal liberou, em maio, R$ 18,3 milhões, o que equivale a mais 42% do orçamento, mas ainda existem cerca de R$ 6 milhões (14%) contingenciados. Além da liberação total do recurso, a instituição também pleiteia a recomposição dos 18% no orçamento. Segundo a instituição, os R$ 37,7 milhões liberados não cobrem dez meses dos gastos da universidade. “Os dirigentes das instituições federais permanecem mobilizados, buscando agendas com parlamentares e com o governo federal para tentar reverter a situação. Além de desbloquear os valores indisponíveis de 2021, é ainda mais urgente garantir a recomposição dos 18% em relação a 2020”, informou em nota a UFABC.

A instituição ressalta que sem a recomposição do orçamento do ano passado e a liberação total dos recursos deste ano, a UFABC vai enfrentar um cenário de muitas dificuldades nos próximos meses. “Trata-se de realidade que coloca em risco a manutenção de serviços básicos da universidade. Não se trata de novas ações e investimentos em expansão, mas sim de condições básicas para continuidade. Por isso é tão urgentes a recomposição e liberação desses valores.”

Em nota, o MEC (Ministério da Educação) informou que a redução nos orçamentos das instituições federais ocorre devido à necessidade de observância do teto de gastos, mas que não tem medido esforços nas tentativas de recomposição e/ou mitigação das reduções orçamentárias. Que está atento à situação que preocupa suas unidades vinculadas e, na expectativa de evolução positiva do cenário fiscal, seguirá envidando esforços para reduzir o máximo que for possível os impactos na LOA (Lei Orçamentária Anual) 2021.




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