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‘Grande ABC deve pensar o turismo de forma conjunta’, diz secretário de Turismo de São Paulo
Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
03/05/2021 | 07:00
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Divulgação


Ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), o secretário estadual de Turismo, Vinícius Lummertz, avalia que o Estado de São Paulo tem potencial para ser firmar como polo de turismo de natureza, e que no Grande ABC as políticas para o setor devem ser pensadas de forma conjunta. Estudos da pasta mostram perspectivas de crescimento vigoroso em todos os segmentos para o momento em que a vacinação avançar e a pandemia do novo coronavírus estiver sob controle. “O setor do turismo representa 10,4% do PIB mundial e pode deslanchar no Brasil.”

A pandemia de Covid-19 afetou fortemente as atividades do setor de turismo. Que tipo de apoio a secretaria tem prestado aos empresários, especialmente aos pequenos e médios?
Temos nos esforçado para apoiá-los financeiramente. O crédito turístico tem feito a diferença para manter negócios que, neste momento, estão com atividades suspensas ou parcialmente atingidas, como o setor de eventos. No ano passado, o governo do Estado de São Paulo liberou mais de R$ 2 bilhões para apoiar os setores mais atingidos, entre eles o turismo. Em 2021, o valor liberado já está em R$ 275 milhões. Com a aprovação recente, pela Assembleia Legislativa, da dispensa da necessidade da CND (Certidão Negativa de Débitos) e da possibilidade de utilização dos índices de faturamento pré-pandemia para a concessão de crédito, os bancos estaduais Desenvolve-SP e Banco do Povo estão oferecendo mais uma linha de crédito emergencial no valor de R$ 100 milhões. Dos recursos federais liberados pelo Fungetur (Fundo Geral do Turismo), do Ministério do Turismo, o Estado repassou R$ 410 milhões, que atenderam a mais de 1.500 empresas do setor, como bares, restaurantes e empresas de eventos. Esse resultado é 49% do repassado em todo o Brasil.

Cidades como Aparecida, que se sustentam exclusivamente do turismo, vivem uma grave crise financeira. Haverá algum tipo de apoio por parte do governo?
Temos apoiado os destinos com uma série de ações. Além do crédito turístico para o setor privado de todo o Estado, do curso de gestão de crise, lançamos, semana passada, uma plataforma eletrônica de boas práticas, um canal que reúne experiências bem-sucedidas de municípios de todo o Estado, e que pretende ser um local de inspiração para gestores públicos, já que as iniciativas podem ser replicadas, como estratégicas de isenção de impostos, e o Viva Rua SP, um projeto de ocupação de ruas e calçadas que pode beneficiar o comércio em ambientes abertos em um contexto de distanciamento social e retomada econômica. O trabalho do governo tem sido o de oferecer ferramentas para que os municípios encontrem as que mais se adequam à realidade local.

Qual o cenário atual do setor turístico?
O saldo de empregos, considerando janeiro e fevereiro, foi positivo em quase 600 vagas formais. Em março, com a necessidade de novas restrições, caímos novamente, embora ainda não haja a confirmação numérica. Isso mostra que o setor responde rápido, o que reforça a importância da vacinação. Estudos da Secretaria de Turismo apontam uma perspectiva de crescimento vigoroso em todos os segmentos quando a pandemia estiver controlada. O setor aéreo, por exemplo, não chegará de imediato aos índices de 2019, mas em fevereiro (antes do agravamento) indicava uma superação entre 500% e 600% na comparação com 2020, mais um exemplo de resposta rápida e consumo positivo de viagens.

Quanto o Estado repassou por meio do Dade (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias), aos municípios?
Em 2020 repassamos R$ 232 milhões, um recorde dos últimos seis anos. Este ano já foram R$ 50 milhões. Estamos refinando a seleção de projetos, tentando buscar cada vez mais a relação das iniciativas com a efetiva atração de turistas; discutindo em âmbito legislativo melhorias no Fumtur (Fundo de Melhoria dos Municípios Turísticos), para ampliar a natureza do uso dos recursos. Isso também envolve a plataforma de melhores práticas que já mencionamos.

Que medidas estão sendo planejadas para alavancar o turismo pós-pandemia?
Isso vem sendo feito em diferentes frentes. Desde 2019, quando lançamos o programa SP Para Todos, que incrementou o turismo no Estado em 5,12%, aumentou a oferta de voos em 700 por semana. O trabalho prosseguiu com a definição das rotas cênicas, que vão qualificar estradas e identificar pontos de contemplação, instalação de skywalks (passarelas elevadas), paradouros, mirantes e postos de informações no Vale do Ribeira. Também estamos fazendo um mapeamento de locais onde podem ser implementados resorts e parques temáticos; concessão de parques naturais para fomentar esse atrativo no Estado. Um projeto pesado de estruturação para fazer de São Paulo uma potência turística, atividade que responde por 10% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Com a vacinação avançando, estaremos prontos para a retomada das atividades e para a consolidação no turismo no Estado.

O Estado de São Paulo tem potencial para ofertar turismo de natureza?
O Brasil todo tem, mas São Paulo particularmente tem a maior parcela de Mata Atlântica preservada do País. Já somos o maior receptivo turístico do Brasil, também temos o maior número de turistas. Desde o início, o governo João Doria fez do turismo uma prioridade, é preciso reconhecer isso, e temos que aumentar a consciência e a percepção sobre o nosso potencial, estruturar os equipamentos, organizar calendários de eventos. A situação de São Paulo é a do cenário perfeito, temos que criar mobilização em torno das atividades que geram emprego. Melhorar as cidades, tanto para receber os turistas quanto para a população; fazer o embelezamento, a caracterização urbana, parques naturais bem receptivos, locais de contemplação.

Existem planos do governo para o turismo no Grande ABC?
O Grande ABC é uma região muito importante do Estado, um grande potencial de consumo, uma região que o governo do Estado tem um bom relacionamento. Precisamos sempre ampliar o diálogo e pensar e planejar o turismo na região de maneira conjunta, alinhando prioridades, prevendo orçamento para fazer da região também um polo turístico, como estamos fazendo em outras regiões do Estado.

A revitalização da Avenida dos Estados, que está em curso, pode potencializar a região?
Sem dúvida. É um eixo importante, que, junto com outros esforços, começa a mudar o cenário, torna as cidades convidativas. Quando a cidade tem um grande convívio público, restaurantes e bares em torno de uma avenida, tem um movimento de incentivar negócios privados, A Avenida dos Estados pode ser um qualificador dos negócios privados, e o plano diretor dos municípios deve levar essas coisas em conta. Assim como um plano diretor regional de turismo, para integrar as rotas cênicas, os programas de mapeamento imobiliário para locais com potencial de parques temáticos, tudo isso tem vantagem quando feito de forma simultânea. O investidor e o mercado percebem que existe um plano, uma prioridade.

Uma das grandes empresas de turismo do País, a CVC, que é do Grande ABC, viu a pandemia agravar ainda mais a crise que enfrentava. O governo pensa em articular, junto ao governo federal, algum plano de recuperação para setores mais atingidos?
Existe o crédito do governo federal e o esforço estadual, como disse anteriormente; porém, sabemos que não foram e ainda não são suficientes. Fizemos gestões junto ao governo federal, apelando principalmente para os recursos que estão represados na Caixa e no BNDES, além da linha Fungetur, que não atingiu 25% das liberações que foram anunciadas pelo Ministério do Turismo. Estamos em diálogo constante com o setor e com as entidades representativas dos agentes de viagem. Sabemos da gravidade da situação e estamos reunindo esforços para que o crédito turístico e as boas práticas cheguem a todos eles. Importante destacar que há excelentes ideias surgindo em meio à crise, antecipando tendências, e temos nos esforçado para que todos os segmentos avancem nesse sentido, o que pode garantir uma retomada consistente e progressiva.

O Parque Caminho do Mar, entre São Bernardo e Cubatão, foi concedido recentemente à iniciativa privada. O senhor acredita que, com essa mudança, o local tem possibilidade de se firmar como um dos principais destinos da Região Metropolitana?
Certamente. É um local de grande vocação turística, que abriga um patrimônio ambiental valioso, com Mata Atlântica exuberante e grande beleza cênica, além de um acervo histórico-cultural que marca períodos da história do desenvolvimento do Estado de São Paulo. São oito monumentos históricos construídos em 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo e pela Unesco como reserva da biosfera da Mata Atlântica.

Na sua avaliação, qual o futuro do setor?
O turismo tem força e potencial para deslanchar em nosso País. Temos riquezas naturais, muita história, cultura e gastronomia. Não nos faltam insumos. No entanto, precisamos de estratégia de longo prazo para estruturar e promover o turismo em nosso País. Aqui em São Paulo, temos o Plano 2020-2030, com todas as nossas bases e metas para a próxima década. O plano serve de fio condutor para nossas ações. Apostar no turismo é apostar no desenvolvimento sustentável, é integrar o País em um movimento de progresso, gerador de emprega e renda. O setor do turismo representa 10,4% do PIB mundial e tem tudo para deslanchar no Brasil.

RAIO X
Nome: Vinicius Lummertz
Estado civil: casado há 28 anos
Idade: 60 anos
Local de nascimento: Rio do Sul, Santa Catarina, e mora em São Paulo
Formação: ciências políticas na Universidade Americana de Paris
Hobby: cinema e caminhada
Local predileto: locais abertos e de contemplação
Livro que recomenda: 12 Regras Para a Vida, de Jordan Peterson
Artista que marcou sua vida: Robert de Niro
Profissão: especialista em administração pública
Onde trabalha: Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo




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