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A Copa de 50 e um livro essencial

O escritor e crítico José Armando Pereira da Silva (ex-News Seller e ex-Diário) relembra um jogo e reaviva um livro fundamental na história esportiva e social brasileira num bate-bola com o professor Antonio de Andrade

Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
25/07/2020 | 00:01
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Descomemoração

Texto: José Armando Pereira da Silva 

16 de julho de 1950. Há 70 anos. Um dia que ninguém neste País esqueceu. Eu tinha 12 anos, estava no Seminário de Campinas.

Naquele domingo, os padres armaram um enorme rádio no pátio coberto para que os seminaristas pudessem assistir ao jogo final da Copa Mundial, transmitido diretamente do Maracanã. 

Fomos ao refeitório, apanhamos as cadeiras e nos pusemos ali a escutar a narração disparada do locutor (provavelmente da Rádio Nacional) dos lances da partida. Vibramos com o gol do Brasil. Silenciamos com o primeiro gol do Uruguai. Mas ainda a taça era nossa com o empate.

Aí veio o momento fatal: o gol de Ghiggia. Silêncio absoluto. A expectativa de uma desgraça nacional que não podia acontecer, o tempo passando e... o apito final. 

O rádio foi desligado e fomos recolhendo as cadeiras, em movimentos que pareciam em câmera lenta, e as retornando aos seus lugares.

Para quem se interessar por uma análise histórico-sociológica dessa “tragédia nacional” recomendo o livro de Paulo Perdigão, onde existe a transcrição completa dos lances da partida. Paulo Perdigão (já falecido), crítico de cinema e tradutor de Sartre, e assistiu ao jogo, aos 11 anos. 

Baseado em seu livro, Jorge Furtado fez um curta com Antônio Fagundes, Barbosa – A Anatomia de uma Derrota, que pode ser visto no YouTube. Vale a pena. 

Tem cenas da época, incluindo o gol final.

Do futebol ao cinema

Texto: Antonio de Andrade

Deliciosa a crônica do Zé. Das Copas lembro apenas daquela da Suécia, em 1958. O que ficou registrada na minha memória foi a enorme quantidade de balões coloridos, lançados ao final do jogo, e festas... muitas festas.

Tenho o livro do Paulo Perdigão e assisti, várias vezes, o curta do Jorge Furtado. O Antônio Fagundes faz o papel do repórter que estava atrás da meta defendida por Barbosa e, inadvertidamente, acaba distraindo nosso ‘goalkeeper’ no momento fatal. 

Perdigão era um cinéfilo de primeira. Durante anos foi o responsável pela programação de filmes da TV Globo. Durante a madrugada preenchia o vazio do horário com o ‘filet mignon’ dos westerns, dos noir e a fina flor da produção B. Transformou a madrugada inóspita em autêntica filmoteca. Nunca escondeu sua paixão por Shane, aquele incrível western dirigido, em 1953, por George Stevens e que, no Brasil, recebeu um título que hoje poderíamos classificar, tranquilamente, como mais uma pérola bolsonariana: Os Brutos Também Amam.

Além do título imbecil, Perdigão não se conformava com o desfecho no tiroteio entre Jack Palace e Allan Ladd. Sonhava ainda com um final feliz para o, nada sutil, triângulo amoroso entre Allan Ladd, Jean Arthur e Van Heflin, mediado pelo garoto Brandon de Wilde, filho de Jean e Van na película. 

Em síntese, Perdigão queria mudar quase tudo. Não teve dúvidas. Seguiu para Wyoming a fim de filmar, in loco, o final que achava correto. Gostava de reunir amigos e exibir sua versão do final de Shane.

Carlos Heitor Cony, grande amigo de Perdigão, tratou, em uma de suas crônicas, a paixão de Perdigão pelo filme. Da crônica de Cony:

Ele (Perdigão) foi diversas vezes entrevistar George Stevens, que, não fosse pelo Perdigão, talvez nem se lembrasse mais que havia feito aquele filme que ele, Perdigão, já viu 99 vezes e fez uma clonagem do mesmo, introduzindo-se como personagem no duelo entre Alan Ladd e Jack Palance (uma obra-prima de mistificação cinematográfica).

Lembranças

Texto: José Armando Pereira da Silva

Minhas singelas lembranças reavivaram em vocês histórias do Perdigão e memórias da Copa, minuciosamente inventariadas por Gustavo de Carvalho. Fico grato pelo retorno mais do que esclarecedor.

Cheguei a fazer um contato com o Perdigão. Penso que foi quando estava escrevendo Província e Vanguarda (*), e queria falar com ele sobre as revistas de cinema de Minas, onde ele iniciou. Atendeu à minha chamada por telefone, passou as informações que pedi, mas de uma forma muito seca, que cortou outros possíveis encontros. 

Mas os livros dele são ótimos. Esse sobre a Copa e também livrinho sobre Shane, que também é dos meus filmes favoritos. Não assisti 99 vezes, mas devo estar chegando perto de dez. E a Beth sempre reclama: “Outra Vez!”

Província e Vanguarda: Apontamentos e Memória de Influências Culturais: 1954-1964</CF>, de José Armando Pereira da Silva, PMSA, 2000.

Municípios brasileiros

- Hoje é o aniversário de Águas de São Pedro. Elevado a município em 1949, quando se separa de São Pedro. Fonte:IBGE.

Hoje

- Dia do Motorista

- Dia do Taxista

- Dia do Escritor. Data instituída em 1960 pela União Brasileira de Escritores.


Em 25 de julho de...

1920 – No campo da AA Palmeiras, em São Paulo: Paulistas 2 x 2 Cariocas, em disputa da Taça Rodrigues Alves.

1924 – Revolução em São Paulo. Manchete do Estadão: Grande batalha em toda a frente; aumenta de intensidade o bombardeio.

Granadas caem sobre vários pontos da Capital e fazem numerosas vítimas.

Diário há meio século...

Sábado, 25 de julho de 1970 – ano 13, edição 1292

Santo André –  Iniciadas as obras de urbanização e paisagismo no Centro Cívico do Paço Municipal.

Busto do Senador Flaquer deixa o Largo da Estátua e vai para a Rua Senador Flaquer, em frente à agencia do Banco do Brasil e ao lado da fachada do Cine Carlos Gomes.

Santos do dia

- Tiago de Zebedeu. Ou Giacomo Il Maggiore. Faz parte da lista dos 12 apóstolos de Jesus. Ele é chamado de “Major” para distingui-lo do apóstolo do mesmo nome, Tiago de Alfeu, chamado de “Menor” ou “o irmão do Senhor”.

- Cristóvão. Um dos santos mais antigos e populares da Igreja, tanto do Oriente como do Ocidente.

- Valentina. Mártir.




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