Economia Titulo Após a pandemia
Como será o amanhã?

Bares da região sofrem com queda de movimentação e previsão é a de que muitos fecharão

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
19/04/2020 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Destino de reunião de grupos de colegas de trabalho após uma semana cansativa na sexta-feira ou de amigos no fim de semana, os bares estão no coração das cidades do Grande ABC. Em muitos destes locais é impossível conseguir uma mesa ou até mesmo passar nas calçadas em tempos normais. Porém, com a adoção da quarentena para reduzir o contágio da Covid-19, a situação mudou drasticamente. Impedidos de abrir ao público, boa parte sobrevive com delivery, mas outra não conseguiu resistir e precisou encerrar as atividades.

Entre eles está a Casa Amarela, que ficava na travessa da Avenida Kennedy, em São Bernardo. O proprietário, Leandro Tiol, que tinha se mudado para o novo endereço havia um ano, já tinha o negócio há seis, que era especializado em música undeground. “Já estava difícil, mas apesar de ali na Kennedy não ter uma cena tão forte para o nosso público, estávamos conseguindo nos manter. Era um ponto bem movimentado, então tinha essa vantagem. Mas, infelizmente, acabamos optando por entregar o imóvel. A gente não sabe quanto tempo vai ficar nessa situação (quarentena por causa da pandemia) e é complicado porque precisamos de movimento para o bar e também para os shows. Então foi uma situação complicada”, afirmou ele, dizendo que as contas também pesaram. “O dono do espaço estava aberto a negociar o aluguel, mas mesmo conseguindo alguma redução, teríamos que arcar com o que ficasse para trás”, apontou.

O proprietário afirmou que no último fim de semana em que o bar funcionou, em um domingo, 15 de março, a pandemia já começou a dar reflexos no movimento. Eram 520 pessoas confirmadas no evento, mas compareceram apenas 20 pagantes. “Com o dinheiro do evento, conseguimos praticamente zerar o nosso caixa.” Segundo o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação), são aproximadamente 9.500 estabelecimentos – incluindo lanchonetes – na região, que empregam cerca de 60 mil pessoas. O presidente da entidade, Beto Pereira, acredita que os desligados podem chegar a 30% do efetivo. “É um setor que depende de aglomeração. As pessoas também querem frequentar um lugar cheio”, disse.

De acordo com ele, muitos trabalhadores possuem contrato informal, caso do chapeiro que Tiol precisou dispensar do bar – era o único funcionário, já que o restante eram familiares que ajudavam. Mas, mesmo assim, este número “vai se reduzir até 30% e isso deve acontecer num prazo mais esticado, até depois da quarentena. Não temos estimativa, até porque é algo muito singular, que depende de cada negócio, mas acreditamos que muitos vão fechar neste período. Principalmente se ampliar a quarentena, porque quando não se tem data específica, é um problema planejar o negócio”, avaliou Beto Pereira.

Porém, mesmo com queda brusca no faturamento, alguns estabelecimentos conseguem se manter oferecendo serviços como o delivery. Caso do Mocergo, localizado no Centro de Santo André, que também participa de uma ação de venda de vouchers pela internet (leia mais abaixo).

“Aumentou a quantidade de lanches vendida, mas o nosso forte não é a cozinha. E sim as cervejas e os drinks. Mesmo assim, estamos levando na casa das pessoas, mas ainda são poucos pedidos. Estamos trabalhando com um quinto do faturamento, que é o mínimo para conseguir pagar as contas. Mas nós agimos rápido e estamos felizes porque o pessoal está ajudando”, disse o proprietário, Carlos Eduardo Motta, que também é o encarregado de fazer as entregas. Tiol afirmou que, mesmo com a qualidade dos lanches que vendia, como eram de 15 a 20, e sem local para preparo, a entrega não compensava. Porém, ele se mantém otimista, mesmo com a parada forçada. “Nós não desistimos”, disse.

Marcas realizam ações pela internet
Grandes marcas também realizam ações importantes para ajudar os estabelecimentos a superar este período. Caso da Heineken e da Stella Artois, que disponibilizam vouchers para os usuários aproveitarem o espaço depois da quarentena, com desconto.

A Heineken lançou o Brinde do Bem (www.brindedobem.com), onde os empreendedores criam gratuitamente uma campanha de arrecadação. O consumidor, por sua vez, poderá escolher um estabelecimento de sua preferência e contribuir com os valores predefinidos na página: R$ 25, R$ 50, R$ 75 e R$ 100. O valor será dobrado pela marca.

Entre os participantes está o Mocergo, localizado no Centro de Santo André. “As pessoas estão sentindo falta, então muita gente está colaborando. Isso dá uma aquecida no coração porque não sei quanto este período vai durar. Não digo que é relação de estabelecimento e cliente, mas sim de família”, disse o proprietário Carlos Eduardo Motta.

O Apoie um Restaurante (www.apoieumrestaurante.com.br) é da Stella Artois. São 3.600 estabelecimentos participantes, entre eles bares, restaurantes, confeitarias e cafeterias. No Grande ABC são 54 estabelecimentos, até a última semana. A ação também é apoiada pela Nestlé e Nespresso e os vouchers têm desconto de 50%. As verbas são creditadas diretamente na conta dos restaurantes sem cobrança de taxa.

Prefeituras dizem manter fiscalização constante sobre respeito às regras
As prefeituras do Grande ABC são unânimes em afirmar que os bares devem ficar com portas fechadas, mas que podem realizar delivery, estando atentos às regras de higiene e limpeza. Há operações regulares que fiscalizam se a quarentena é cumprida.

Santo André afirmou que desde o início da pandemia já promoveu mais de 20 operações, que abrangem todos os bairros e núcleos habitacionais. As ações ocorrem nos períodos diurno e noturno. “Desde o início do decreto já foram emitidas mais de 100 notificações de caráter orientativo e punitivo. Destes locais, 12 foram interditados por serem reincidentes ou por haver aglomeração significativa constatada em flagrante durante as operações”, afirmou, em nota.

Em São Bernardo, a fiscalização é feita por equipes da Vigilância Sanitária, com apoio da guarda civil. Em caso de desrespeito às regras, o estabelecimento é orientado e notificado, podendo até ser lacrado. Mais de 300 estabelecimentos já foram vistoriados.

Em São Caetano já são 25 os bares lacrados pela fiscalização desde 22 de março. Em Diadema, a fiscalização tem priorizado orientar e conscientizar os comerciantes a permanecerem fechados para colaborar no combate ao coronavírus. “Mas se houver reincidência o estabelecimento é penalizado com lacração temporária”, informou, em nota.

Mauá iniciou neste mês a operação de autuação direcionada e, desde então, já foram emitidos 109 autos de notificação e três multas devido ao não cumprimento de normas de contenção à Covid-19.

Em Ribeirão Pires ainda não houve lacração de estabelecimento, mas a Prefeitura realiza fiscalização de forma permanente. O descumprimento das medidas pode gerar multa de R$ 10 mil.




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