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Jundiaí abre as portas para amantes da uva e do vinho

Passeio de trem leva visitantes a conhecer história da cidade, que se transformou após uma mutação genética

Por Anderson Fattori
Marcela Ibelli
Do Diário do Grande ABC
23/01/2020 | 00:58
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Divulgação


Amantes de vinho e de comida gostosa têm destino certo nos dois próximos sábados. Sai da Estação Luz, em São Paulo, o Expresso Turístico que leva para a tradicional Festa da Uva de Jundiaí, organizada neste ano pela 37ª vez, mas que, na verdade, acontece desde a década de 1930. Mais do que passeio, é um mergulho na história da cidade, que se transformou a partir da mutação genética natural das uvas Niágara e Niágara branca, dando origem à Niágara rosada, orgulho para o povo jundiaiense. No espaço onde normalmente funciona um parque, expositores mostram com satisfação seus produtos, como se fossem tesouros, cultivados cuidadosamente e que proporcionam experiência gastronômica inesquecível.

O passeio começa a bordo de locomotiva construída nos anos 1950, reformada, que sai da Estação Luz direto para Jundiaí. Os bancos largos, almofadados e confortáveis minimizam os efeitos do percurso de uma hora e meia, que corta a cidade de São Paulo. O pacote completo, que custa R$ 150 (veja ao lado), inclui translado com serviço de bordo, no qual é servido suco de uva Niágara rosada integral e a famosa coxinha de queijo, patrimônio imaterial de Jundiaí, antes de seguir para passeio de degustação de uvas e vinhos em parreiral em propriedade rural (leia abaixo), última parada antes de desembarcar na tão esperada Festa da Uva.

No local, os visitantes são convidados a seguir percurso que expõe exemplares de uvas premiadas antes de chegar à vila onde atores simulam italianos em parreirais, fazendo pães e vendendo os produtos. Eles interagem com turistas, oferecem uvas e contam parte da história da festa. Na sequência, os visitantes chegam a pavilhão cercado por fabricantes de vinhos, todos eles produzidos em Jundiaí. Para manter viva a história, no Centro está exposto caminhãozinho da Família Furlan, veículo que participou do primeiro encontro entre produtores, em 1934.

Além de degustar vinhos com os mais variados sabores – difícil escolher qual trazer para casa –, os visitantes têm a oportunidade de participar da pisa da uva. São três grandes tinas, com capacidade para 12 pessoas cada uma, na qual os turistas simulam o antigo processo de macerar os cachos com os pés para que o suco, depois de fermentado, se transforme em vinho. A técnica não é mais utilizada nas grandes adegas, mas ainda resiste nas menores e mais tradicionais.

Pouco à frente galpões oferecem produtos artesanais produzidos pela comunidade, com destaque para os feitos com garrafas PET. Em outro espaço é possível encontrar frutas exóticas em abundância. Tem ainda local com produtores de cervejas artesanais, para agradar a todos os gostos.

A festa é bem estruturada, com espaços amplos. Além do palco central, existe outro na parte externa, com mesas e cadeiras. A praça de alimentação é enorme, com barracas sinalizadas com nomes de bairros de Jundiaí para fortalecer o comércio local. Ali o prato mais pedido é a combinação do frango frito com polenta.

Passeio de um dia, tão intenso que as horas passam depressa e logo está na hora de reembarcar na locomotiva e pegar o caminho de volta. Depois de tanto vinho, o balanço do trem é um convite perfeito aos mais dorminhocos.

Experiência começa na colheita

Pede licença para as abelhas, sobe no carrinho e corta suavemente o cacho até ele cair nas mãos. Cheirinho e gosto de uva doce colhida na hora são impagáveis. A experiência de adentrar um parreiral e cortar as próprias uvas é daquelas que se deve ter, ao menos, uma vez na vida. Em Jundiaí, especialmente durante a Festa da Uva, vinícolas ofertam a oportunidade. Algumas colheitas estão inclusas nos pacotes.

A Saccomani (vinicolasaccomani.com.br), uma das mais tradicionais da região, faz o passeio também fora de temporada. Basta agendar (97351-4359). Eles cobram R$ 35 por pessoa com direito a provar vinho e petiscos depois. Cada quilo de uva colhida custa R$ 7. O principal tipo de lá é a catawba rosa, mas eles também têm vermont, Bordeaux e Santa Isabel.

Durante a colheita, o guia conta histórias da vinícola – começou em 1885 com a vinda de Luize Saccomani e a mulher, Pellegrina Saccomani, da Itália ao Brasil; eles trouxeram mudas de uvas – e também curiosidades, como o plantio de roseiras ao redor dos parreiras. “É porque as rosas morrem antes de atingir as uvas caso peguem algum tipo de praga”, explica Guilherme Gomes. “É interessante como as pessoas interagem e têm o contato com a fruta.”

Danlara Figueira já participou da colheita em São Roque – cidadezinha perto da Capital – e fez questão de repetir a experiência em Jundiaí. “A sensação é ótima, a beleza da natureza é indescritível”, conta. Depois da colheita, é possível experimentar os produtos feitos com elas. “A uva é monitorada diariamente. Quando está com o brix – quantidade de açúcar – ideal para cada produto, nós colhemos. Tem suco, espumante, vinho e até conhaque. Totalmente naturais”, conta José Eduardo Saccomani. Eles não trabalham com cartão, mas aceita-se o pagamento por transação bancária. Tudo na confiança de bons colegas que dividem a mesa.

Bebidas servidas aos dois últimos papas são jundiaienses

Um dos pontos altos da Festa da Uva é a degustação de vinhos. Para conseguir ter um espaço no badalado pavilhão central do evento uma regra é clara: os produtos precisam ser produzidos em Jundiaí. Entre os expositores, um chama atenção. A Adega Maziero ostenta com orgulho o rótulo de ter sido escolhida como fornecedora de vinho na visita dos dois últimos papas ao Brasil.

A história começou há muito tempo. Criada por Pedro Maziero em 1954, em Jundiaí, a adega começou vendendo o vinho que sobrava da produção artesanal, que a princípio era para consumo próprio. A bebida fez sucesso e se tornou fonte de renda da família, que também comercializava uva.

Logo a bebida produzida pelos Maziero chegou aos padres de Jundiaí e região. Era usada, inclusive, na celebração das missas. Na visita do papa Bento XVI ao Brasil, em 2007, foi indicada para participar de concurso com outras adegas do Brasil e acabou escolhida para servir ao pontífice.

“Tinha de ser vinho sem adição de açúcar, como é o nosso, só com a fermentação natural. Eles (comitiva do papa) escolheram as melhores adegas que faziam esse tipo de vinho, entre elas relacionaram os dez que mais agradaram. Conseguimos entrar com três rótulos: o bordô, o rosé e o branco suave. O papa levou 80 caixas para o Vaticano”, recordou Ronaldo Maziero, responsável pela loja da família na Festa da Uva.

Bento XVI usou o vinho rosé suave na celebração das missas em São Paulo e também em Aparecida. Isso acabou influenciando a escolha do papa Francisco, que também optou pela bebida da Adega Maziero quando esteve no Brasil, em 2013. “Depois o Francisco veio, fez a mesma coisa e ganhamos novamente”, explicou Ronaldo. Desta vez, os vinhos servidos foram o moscato seco e o bordô seco para o almoço e o rosé para a celebração das missas.

Mas quem quiser provar da bebida terá de ir até Jundiaí. Como a produção continua sendo artesanal, a venda é exclusiva na adega, que fica na Avenida Maria Negrini Negro, 2.051, no Caxambu. Administrador dos negócios da família, Clemente Maziero disse que não daria conta de distribuir para outros locais. “Produzimos apenas 60 mil litros por ano. Não daria para abastecer um mês a região. Então optamos por vender apenas aqui na adega mesmo”, explicou.

Mas o passeio acaba valendo a pena. A Adega Maziero abre gratuitamente as portas todos os dias, das 8h às 18h – domingo fecha às 16h – e proporciona aos turistas visita aos parreirais da família, além de degustação das bebidas produzidas. Os vinhos do papa custam R$ 25 a garrafa de 720 ml. Mas vale a dica, o pagamento é apenas em dinheiro.

Circuito das Frutas tem festas em outras nove cidades do Estado

Jundiaí é apenas uma das cidades que compõem o Circuito das Frutas. Criado em 2002, tem o intuito de facilitar a integração entre os famosos municípios vizinhos localizados no Sudeste do Estado de São Paulo que cultivam espécies como uva, figo, caqui, goiaba e morango. Uma das ideias é produzir programação para atrair turistas durante o ano todo. Estão no grupo Atibaia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Louveira, Morungaba, Valinhos e Vinhedo.

Juntas essas cidades produziram calendário anual com eventos para todos os gostos. A Festa da Uva, de Jundiaí, abre a temporada, assim como a 69ª Festa do Figo e a 24ª Expogoiaba, em Valinhos, que começou sábado e vai até o dia 4. Em fevereiro, acontece outra festa da uva, desta vez em Vinhedo, entre os dias 8 e 25 – já é a 58ª edição do evento. Março é o único mês do ano em que não tem nenhuma festa programada no circuito.

Em abril acontecem a 17ª Festa do Caqui, em Itatiba, ainda sem data definida, e também a sétima edição da Festa das Frutas e Hortaliças, em Indaiatuba. Na sequência, em maio, é a vez da 53ª Festa da Uva de Louveira e da 33ª Festa Italiana, outra vez em Jundiaí.

Junho é o mês com mais eventos previstos no calendário do circuito. Tem a 53ª Festa de Santo Antonio, em Louveira, 24ª Festa de São Pedro, em Itatiba, 40ª Festa do Morango, em Atibaia, e a 37ª edição de Jarinu, além de seguir com a Festa Italiana, em Jundiaí.

Nas férias de julho, a dica é conhecer a 22ª Festa das Nações Unidas, em Indaiatuba, e a 109ª Festa do Caxambu e do Vinho Artesanal, em Jundiaí. Agosto é a vez da 44ª Festa da Tradição da Colônia Suíça, em Indaiatuba. Setembro tem a famosa Festa das Flores e do Morango de Atibaia, que neste ano chega à 40ª edição, além da 30ª Festa Portuguesa, também em Jundiaí.

Por fim, em outubro acontece a 20ª Festa de San Gennaro, em Itatiba. Novembro é a vez da Cavalgada do Circuito das Frutas, evento comemorativo que ainda não tem cidade definida neste ano. Dezembro, fecha o calendário de eventos a 14ª Expo Uva, em Itupeva.<TL> 




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