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A Educação brasileira está parada, diz especialista

Português defende modelo com mais participação e menos hierarquia

Por Natália Fernandjes
do Diário do Grande ABC
23/04/2012 | 07:00
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"Queremos que os alunos sejam felizes, mas também sejam sábios." Esta é a filosofia colocada em prática pelo mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, José Francisco Pacheco, há 37 anos, quando instituiu a Escola da Ponte, em Portugal. Na sexta-feira, ele esteve na USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e palestrou para estudantes e professores.

Em entrevista ao Diário, o considerado peregrino da Educação falou sobre o projeto inovador que serve de vitrine para o mundial e comentou sobre processo educacional do País.

A autonomia dos estudantes é o que move a Escola da Ponte, lugar sem salas de aula, sem divisão dos alunos por séries ou turmas, sem diretor e sem provas. As relações de ensino são horizontalizadas - ou seja, hierarquias e cargos têm pouco significado - e a comunidade é quem gere a instituição de ensino. Engana-se quem acredita que os resultados demoram a aparecer. "Os alunos aprendem muito mais rápido", explica Pacheco.

O conceito de escola livre se difundiu pelo mundo e pelo Brasil. Segundo Pacheco, pelo menos 1.000 instituições de ensino seguem esse modelo no mundo, cerca de cem no Brasil. "Não há réplicas, mas diferentes modos de se fazer uma Educação melhor", observa.

Para o educador, é inútil copiar o sistema adotado em Portugal, já que o projeto depende do lugar em que a unidade está inserida e das pessoas que participam. Em São Paulo, o professor cita dois exemplos de escolas cujos conceitos se baseiam nos adotados na Ponte, o Projeto Âncora, de Cotia, e a Escola Municipal Amorim Lima, no bairro Butantã, na Capital.

Apesar de garantir que não tem o desejo de ver a Escola da Ponte multiplicada, Pacheco afirma que as políticas públicas voltadas à Educação precisam mudar no Brasil. Segundo ele, enquanto os gestores públicos não compreenderem a necessidade de mudança, a ideia de escola livre continuará a ser exceção. "A Educação brasileira está parada em um modelo profundamente errado. Por mais dinheiro que se invista, se não mexer no modelo, nada muda", ressalta. Entre as mudanças sugeridas, destaque para a formação dos professores e a gestão das escolas.

Modernização

Para o especialista, conceitos arcaicos fazem com que aluno continue vendo a escola como ambiente chato, e o professor tem dificuldade para ensinar. Isso acontece, segundo Pacheco, porque a instituição de ensino não acompanhou a mudança vivenciada pela sociedade. Hoje as crianças estão na era digital e o ritual de ensino das escolas não mudou, na avaliação do educador.

Outro problema é o distanciamento observado entre escola e comunidade. De acordo com o educador, as famílias estão em crise profunda. "A Escola da Ponte é da rede pública e dirigida pelas famílias, mas é a única do mundo, infelizmente." No entanto, nem sempre foi assim. Demorou até que os pais começassem a participar da vida escolar e, segundo Pacheco, esse processo se deu quando percebeu-se que o espaço público vive da contribuição da família.

O professor vê melhorias no sistema educacional brasileiro. Ele cita o programa Mais Educação, do governo federal, como excelente proposta. Criado em 2008, o projeto aumenta o tempo de permanência nas escolas públicas por meio de atividades optativas, Na região, Diadema implantou o programa em 2009 e beneficia 6.000 crianças de 6, 7 e 8 anos que passaram a ficar até oito horas na escola.




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