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Tradição e insegurança marcam Vila Pires
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
07/11/2011 | 07:09
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Os moradores da Vila Pires, em Santo André, são predominantemente da terceira idade. Bairro antigo de Santo André, abriga quase dez mil pessoas e ostenta fama de ser muito maior que suas dimensões geográficas. Quem mora e trabalha por lá denuncia o problema da falta de segurança nos comércios e na avenida que atravessa o bairro, a D. Pedro I. A via, inclusive, passa por pelo menos três vilas diferentes.

Enquanto alguns comerciantes demonstram ter se acostumado às ocorrências de assaltos na região, outros tomam medidas para evitar as abordagens. Mesmo quem trabalha há 40 ou 50 anos no mesmo ponto e já foi vítima da violência acha que não vale a pena trocar de endereço. "Criamos vínculo com a clientela e às vezes até fechamos mais cedo. Só pedimos paz para trabalhar", disse a dona de uma assistência elétrica Clélia Almeida, 54 anos, há quase 30 no bairro.

O reforço no patrulhamento policial, segundo comerciantes, só é realizado a partir de dezembro e apenas no trecho da avenida que comporta cinco agências bancárias. "Quando não há rondas sofremos o reflexo dos assaltos próximos aos bancos porque muitos suspeitos circulam por aqui. À noite a avenida fica um breu. Vários carros de clientes já foram assaltados. Temos sempre de estar atentos. Sou do bairro há 50 anos e a situação só piorou", disse a dona de uma loja de bijuterias Sandra Teixeira, 38.

Um comércio de motos foi assaltado duas vezes esse ano e funcionários trabalham com medo. "Se do lado do DP (Distrito Policial) os bandidos roubam, imagina sem eles por perto", observou o vendedor Renato Silva, 42. Postos de combustíveis também viraram presas fáceis de ladrões, principalmente à noite. "Aqui a segurança é de Deus", disse um funcionários, que preferiu não se identificar.

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, de janeiro a setembro 494 ocorrências de roubo de veículos foram registradas no 3º Distrito Policial, que fica no bairro. Outros 398 boletins foram feitos por furto de auto.

EXPLOSÃO - A Vila Pires ganhou triste repercussão nacional em setembro de 2009, quando duas pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas após explosão em loja de fogos de artifício na rua Américo Guazelli. Quinze carros ficaram destruídos e até 30 imóveis foram atingidos.

Segundo vizinhos, a explosão na loja Pipas e Cia ocorreu quando o proprietário de um bar fazia reparos em uma antena. Desde então, moradores convivem com estresse causado pelas lembranças. Alguns, inclusive, desenvolveram doenças por conta do excesso de nervosismo acumulado.

 

Moradores ainda têm dúvidas quanto à localização do bairro

Vila Leopoldina, Vila América, Vila Humaitá, Vila Helena, Vila Marina, Bairro Silveira, entre outros. Todos esses bairros circundam a Vila Pires, pelo menos geograficamente. Em menos de 30 metros é possível andar por até três bairros diferentes.

O curioso é que mesmo quem vive há décadas no bairro tem dificuldades para responder onde moram ou trabalham por causa da indefinição dos nomes. "Se eu falar Vila América dificilmente alguém saberá onde fica. Vila Pires é mais famosa, apesar de não ser grande", disse o farmacêutico Emerson Borges Lourenço, 40 anos. Ele trabalha em uma drogaria que leva o nome da Vila Pires. Curiosamente, nas contas de consumo o endereço que consta pertence à Vila América e do outro lado da rua a placa indica o mesmo logradouro como bairro Silveira. "Deve ser porque o nome pegou mais rápido. Mas ninguém sabe explicar o motivo e todos têm a mesma dificuldade .Talvez porque seja o bairro mais antigo entre os outros", arriscou o dono de uma papelaria, Carlos Roberto de Souza, 58.

Há quem também tenha problemas para se localizar até na própria Vila Pires, apesar de ser relativamente pequena e situada ao lado da região central da cidade. O dono de uma banca de jornal próxima à Rua Miguel Couto, José Pataro Netto, 67, acha que falta placas de sinalização e mais organização no trânsito. "Virei ponto de referência para os motoristas e pedestres. Não tem placa indicando onde fica o cemitério ou hospitais próximos. Todos se perdem", observou.

 

Comissário de café loteou chácara na década de 1920

Vila Pires figura entre os primeiros bairros urbanos de Santo André. O loteamento alcança a bacia do Guarará e expande a cidade em direção à Serra do Mar, quebrando o eixo tradicional entre a estação ferroviária, a rua Coronel Oliveira Lima e o histórico bairro do Ipiranguinha.

O nome ‘Pires' perpetua o do loteador, Jorge de Barros Pires, filho de Francisco de Barros Pires, que era comissário de café em Santos e foi dono da primitiva Chácara Pires, conforme apurou a pesquisadora Shirley Folchi. A área, de 47 alqueires, foi adquirida pelos Pires junto à família Guazzelli. Ao mesmo tempo em que venderam as terras, os Guazzelli adquiriram outros 16 alqueires próximos, pertencentes a Antonio Queirós dos Santos, para abrir um bairro próprio, Vila América, nome escolhido para homenagear um dos irmãos Guazzelli, Américo, falecido em 1928, aos 41 anos.

Vila Pires nasce como um bairro bem traçado, cortado pelas linhas de energia elétrica da Light and Power e com 79 quadras. E com intensa publicidade. Há um anúncio de página inteira que foi publicado no jornal local Folha do Povo (1928) que traz a planta da ‘Villa' Pires. Entre os qualificativos da propaganda, o anúncio destaca a salubridade do lugar.

Naquele tempo, Santo André - pelo seu clima serrano - era indicado inclusive pelos médicos. E os moradores de Santos subiam a Serra do Mar em busca deste recanto, o que atraiu a atenção de vários empreendedores locais, em vários espaços regionais.

Em 1976 entrevistamos Júlio Amalio Guazzelli, irmão de Américo. Segundo ele, Jorge de Barros Pires de fato abriu a Vila Pires, emprestou seu nome ao empreendimento, vendeu os primeiros lotes, mas não resistiu à crise do café. Acabou hipotecando as áreas não vendidas a F. Cuoco & Cia.

Os desdobramentos do loteamento aconteceram pelos anos afora, como se pode observar num anúncio publicado pelo semanário News Seller, antecessor do Diário, em 16 de outubro de 1960: "Novo loteamento na Vila Pires. Realmente residencial. Próximo ao Estádio Municipal (na verdade, o ginásio Pedro Dell'Antonia). Ônibus a Vila Luzita a uma quadra. Luz elétrica. Água encanada. Preços e condições excepcionais. Terreno plano".

Esta área estava sendo loteada por J. Zanetti e Filhos. Era o espaço junto às ruas Cisplatina, Imirim, Clélia e Icaraí. Ou seja: 40 anos depois de sua abertura, nos anos 20, Vila Pires ainda tinha lotes para vender nos anos 60.

FAMÍLIA PIRES - A pesquisadora Shirley Folchi apurou que o patriarca Francisco de Barros Pires era casado com Zulmira de Barros Pires.

Além de Jorge, o primogênito, o casal teve 11 filhos, sendo caçula dona Edith, ouvida pela pesquisadora. (Ademir Médici)




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