Setecidades Titulo
Empresária investigada por máfia acusa extorsão e policiais são presos
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
04/08/2005 | 08:26
Compartilhar notícia


A empresária de Santo André Yan Fuan acusa a Polícia Civil de extorsão. Ela é investigada pela Polícia Federal por suposto envolvimento com a Máfia Chinesa, que age na região da rua 25 de Março, no Centro de São Paulo. A empresária diz que na semana anterior à Páscoa, sua cunhada, apontada pela polícia como braço-direito de Yan no esquema de lavagem de dinheiro, foi seqüestrada por quatro policiais civis. Eles teriam agido à paisana, ficado oito horas com a mulher e pedido R$ 2 milhões para evitar a prisão dos investigados. Três dos quatro policiais foram presos e a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo informou que determinou a prisão porque “o inquérito foi concluído e a Justiça acatou a denúncia” da empresária. A Corregedoria diz ainda que paralelamente “abriu um procedimento administrativo para a expulsão dos policiais”.

Yan nega ter pago qualquer quantia. No entanto, um policial civil confirmou nesta quarta ao Diário a extorsão. Segundo ele, os policiais receberam R$ 740 mil com a promessa de que o restante seria pago no dia seguinte. A empresária não cumpriu o acordo e procurou a Corregedoria da Polícia no dia seguinte. No Boletim de Ocorrência registrado no Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), Yan informou apenas a entrega de R$ 32 mil.

Para tentar se livrar da acusação de extorsão, eles teriam dito à Corregedoria que abordaram a cunhada de Yan para prendê-la em flagrante. De acordo com a polícia, ela era responsável por fazer o recolhimento diário do dinheiro dos lojistas da rua 25 de Março. Os policiais teriam ficado impressionados com a quantidade de dinheiro que a mulher tinha no carro (R$ 1,5 milhão) e resolveram suborná-la. De acordo com a investigação, Yan repassaria o dinheiro para doleiros encarregados de enviar o montante para uma conta na China. Por dia, a polícia acredita que o volume recolhido na região da rua 25 de Março beirasse a R$ 1,9 milhão, além do montante em dólares que seria guardado em uma apartamento no bairro da Liberdade, na capital.

Entre os argumentos apresentados à Corregedoria, os policiais teriam alegado que além de lavar o dinheiro arrecadado com venda ilegal na 25 de Março, a empresária de Santo André também teria envolvimento com tráfico de drogas e de chineses (vindos clandestinamente para o Brasil). No entanto, os policiais não conseguiram se livrar da punição.

“Ficaram enrolados porque usaram um carro particular para fazer o seqüestro e porque um deles não atuava em Santo André. Ele trabalhava em São Bernardo. Não havia lógica estar em operação em outra cidade”, disse um policial. Os outros dois detidos eram investigadores do 4º Distrito Policial de Santo André, no bairro Jardim.

Nesta quarta, Yan concedeu entrevista com exclusividade ao Diário. Ela negou qualquer envolvimento com a Máfia Chinesa e supôs que a megaoperação realizada na última segunda-feira pela Polícia Federal em endereços relacionados a ela tenha sido “vingança”. O encontro contou com a presença de dois advogados da empresária, José Carlos Chibily e a ex-delegada de polícia de Santo André Heloni Haesbaert. A defesa abraça a mesma hipótese. “A operação aconteceu com base em uma denúncia anônima composta pelas mesmas alegações que os policiais usaram de defesa. Possivelmente a denúncia foi plantada pela Polícia Civil”, disseram os advogados.

Procurada, a Polícia Federal disse que não irá se pronunciar sobre a origem da operação. Na última segunda-feira, 30 agentes da PF, munidos de mandados de segurança, revistaram o restaurante Tai-Chi, a agência de turismo de mesmo nome e a casa da braço-direito de Yan, todos em Santo André, além de outros dois endereços de possíveis envolvidos com a empresária, na região central de São Paulo. A PF não informou o que foi apreendido. Extraoficialmente, a informação é de que documentos que comprovam a movimentação ilegal de dinheiro em contas na China foram localizados em um dos estabelecimentos.

Paraná – Nesta quarta, Yan assumiu estar envolvida em uma investigação e afirmou que desde que chegou ao Brasil, em 1977, nunca teve restrições ao seu nome. O processo tramita na Justiça desde 1997. Ela é acusada por lavagem de dinheiro. “Entrei no esquema sem saber o que era. Acreditei que ia ganhar dinheiro, mas não imaginei que usassem minha conta corrente para lavar dinheiro”, justificou.

À Justiça, o banco nega que tenha envolvido a empresária em esquema ilícito e afirma que toda a operação foi feita pela própria correntista. Os advogados de Yan, porém, se apóiam na baixa instrução escolar da empresária e na sua dificuldade em falar, escrever e interpretar a língua portuguesa para alegar que ela serviu de laranja para uma quadrilha do banco que praticou crimes contra o sistema financeiro. Yan trabalhava com o banco desde os anos 80. “Só soube do problema quando a Polícia Federal baixou no restaurante, em 1997”, afirmou Yan. Três anos depois, ela foi para a cadeia. “Fiquei presa por 24 dias.” Saiu porque os advogados conseguiram um habeas-corpus.

O processo impetrado pelas Comarcas de Foz do Iguaçu e Cascavel, no Paraná, indicia Yan e seis diretores do banco América do Sul por mandar dinheiro para fora do país. Os documentos da Promotoria da República de Santo André apontam movimentação irregular de mais de R$ 112 milhões. Na época, Yan mantinha uma conta pessoal e outra em nome da agência de turismo Tai-Chi, cuja sede funcionava na rua Senador Flaquer, no Centro da cidade. “Ela tinha permissão do Banco Central para trabalhar com câmbio de moedas e, talvez, seja por isso que se tornou boa isca para eles”, explica o advogado Chibily.

Além da agência, Yan mantém um restaurante na rua Artur de Queiróz, também no Centro da cidade. A polícia afirma que o Palácio Tai-Chi é apenas fachada para as operações ilícitas. “De forma alguma. O restaurante existe há 18 anos. Hoje o responsável é do meu irmão. O local sempre foi conceituado e comecei a fazer propaganda porque preciso voltar a ganhar dinheiro”, alega a empresária. Desde o problema judicial, a Receita Federal penhorou os bens de Yan. Ao Diário ela disse que seu patrimônio gira em torno de R$ 800 mil, incluindo o apartamento no qual mora, no Centro de Santo André, mas que atualmente ela está “falida”.

Law Kin Chong – Yan confirmou que conhece Law Kin Chong, preso e conhecido como o maior contrabandista no país, mas ao ser questionada sobre detalhes da sua relação com ele preferiu ficar calada. “Eu que o ajudei a subir e depois ele me quebrou”, limitou-se a contar. Apesar de confirmar a convivência com Chong, a empresária nega que tenha contatos na rua 25 de Março, mas sua advogada a contradiz ao dizer que a braço-direito de Yan seqüestrada pelos policiais no início do ano: “Ela é cabeleireira e vive da venda de muambas.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;