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Em Diadema, Jd.Canhema tem expert em pular corda

Na Santa Casa da cidade, Angélica Lopes mostra que prática vai além da brincadeira

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
23/05/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Pular corda, para muitos uma clássica brincadeira de criança, é atividade que oferece mais. Além de ser também prática esportiva, virou trabalho de gente grande para a treinadora das cordas Angélica Cristina de Souza Lopes, 30 anos, que dá aula a crianças e adolescentes de 6 a 15 anos por meio do projeto social Toninhos, promovido pela Santa Casa de Diadema no Jardim Canhema.

De segunda a sexta-feira, das 8h às 15h, 250 alunos, divididos em dois períodos, aprendem duas modalidades. Uma delas é chamada de rope skipping (pular corda, em inglês) e é praticada individualmente; a outra é denominada double dutch, onde a primeira palavra significa duplo e a segunda, o nome da língua holandesa, já que os holandeses usavam duplo dialeto para confundir os ingleses durante negociações em feiras que aconteciam nos portos de Nova Amsterdam – atual Nova York. Nesta modalidade, são utilizadas duas cordas, cada uma delas medindo de cinco a seis metros de comprimento.

Em ambas as formas, porém, o ato de pular vem acompanhado de variadas manobras. “Não tem segredo nenhum, a gente vai desenvolvendo. A questão é sempre arriscar. Se já sei pular, então vou rodar na corda, pular com um pé sim, outro não, fazer flexão dentro ou um espacate (abrir as pernas de modo que estas formem um ângulo de 180º e fiquem paralelas ao solo)”, elenca Angélica. Esta repórter tentou o double dutch e viu que, sim, é mesmo possível arriscar e não fazer feio.

A treinadora conheceu os modelos diferenciados do que, até então, achava serem apenas uma forma de entretenimento aos 27 anos, com um grupo de norte-americanos que, em excursão ao Brasil, se hospedou na igreja que ela frequenta. “Pediram para que eu os ajudasse em algumas apresentações que fariam em escolas. Me deram uma corda individual e de double. Comecei a buscar vídeos na internet de outros grupos e acabei me apaixonando”, conta.

Angélica aprendeu os passos e começou a ensinar 50 crianças e adolescentes, parte da própria igreja e a outra parcela das instituições de ensino visitadas pelos estrangeiros. Ela também montou uma equipe – a Jump Rope For Life (Pular Corda para a Vida), que possui sete atletas e foi campeã do World Jump Rope – Arnold Classic Brasil, evento promovido pelo ator austríaco e ex-governador da Califórnia, nos Estados Unidos, Arnold Schwarzenegger. Nos dias 29, 30 e 31, o grupo estará no Rio de Janeiro, onde acontecerá mais uma edição da competição, para tentar outra medalha de ouro. Em julho, a tentativa será em concurso na cidade de Orlando, também nos Estados Unidos.

A atuação com as cordas a incentivou a ingressar na faculdade de Educação Física, na qual está no 3º semestre. O estágio desenvolvido há um mês na Santa Casa ajuda Angélica profissionalmente e ela, em contrapartida, dá grande contribuição para a comunidade. “Tudo o que tira as crianças da rua é importante. Na minha equipe, um dos melhores puladores era envolvido com drogas e largou o vício após começar a atividade conosco. Se os alunos tiverem conduta e disciplina, não vão se deixar levar pelas más influências e as cordas podem ajudar nisso”, fala ela, concluindo: “Quando você faz aquilo que gosta, não trabalha, se diverte.”

Voluntário, mestre ensina arte da capoeira em espaço cultural

Formado em Administração de Empresas e Direito e pós-graduado em Gestão Empresarial, Eider Junio Taciano, 36 anos, desenvolve suas atividades profissionais durante o dia. Já à noite, às terças e às quintas-feiras, mestre Preá, como é conhecido, faz trabalho voluntário na Casa do Hip Hop – Centro Cultural Canhema, onde ensina capoeira a pessoas de todas as idades. “Na capoeira todos têm um apelido. Quando criança, era muito magrinho, pequenininho, aí meu mestre falou que eu parecia um preá e pegou”, lembra ele.

O capoeirista conheceu a arte aos 8 anos, ao assistir a uma apresentação na escola em que estudava. Apaixonando-se pelo que viu, começou a treinar no mesmo espaço no qual hoje é o professor. “Aqui se chamava Centro Juvenil e eu treinava com o mestre Amendoim. Depois, treinei com o mestre Schumacher, no Jardim Campanário, e me formei em São Bernardo com o mestre Jabuticaba. Comecei a dar aulas por volta de 1996, no Jardim Canhema, em uma academia chamada Combat”, recorda.

A oportunidade de lecionar onde tudo começou surgiu da necessidade de alguns alunos. “Algumas pessoas para quem eu dava aula na academia pediram outra opção de horário. Conversei com a coordenação do Centro Cultural e abriram às terças e às quintas. Mais gente começou a migrar para cá, porque era mais perto para eles e, então, fiquei só por aqui.”

Mestre Preá tem 25 alunos,mas o local tem espaço para atender o dobro. “Temos capacidade para 50 pessoas. Quem quiser participar, basta se inscrever na secretaria. Simples assim.”

O professor destaca os ganhos com a capoeira, ao longo de sua trajetória. “Ela nos ensina cidadania, respeito ao próximo, à nossa arte e à família, que é a base de tudo. A capoeira me deu o caráter que tenho hoje.”

O esporte lhe trouxe também o amor, já que ele conheceu sua mulher, com quem está casado há oito anos, em uma roda de capoeira. “Gosto muito de estar aqui ensinando essa arte. A capoeira já me deu tanto, agora é a minha hora de retribuir um pouco.”

Bairro tem xilogravurista conhecido em diversos países

As mais variadas situações retratadas em imagens talhadas em madeira. Esta é a arte da xilogravura e é no Jardim Canhema que vive, há mais de 30 anos, um dos maiores nomes do gênero em todo o mundo: Jeronimo Soares, que na sexta-feira completa 80 anos.

O xilogravurista nasceu na cidade de Esperança, no Estado da Paraíba, e é filho de José Soares, cordelista conhecido como ‘o poeta repórter’. Aos 12 anos, quando visitava o patriarca em Recife, Pernambuco, foi apresentado por ele à xilogravura e começou a fazer suas primeiras ilustrações nos folhetos que continham os poemas de cordel. “A partir dali, não parei mais”, fala.

O talento foi reconhecido por um dos mais famosos escritores brasileiros, o baiano Jorge Amado. “Não o conheci pessoalmente, mas ele acompanhava os meus trabalhos e, em 1977, fez uma citação sobre mim.” No texto, o escritor salienta que “Jeronimo Soares é um dos mais notáveis gravadores populares do Brasil” e que “suas madeiras para as capas de folhetos de cordel são de real beleza, poderosas e poéticas.”

Jeronimo seguiu fazendo sua arte, mas queria criar uma marca. Em 1978, ele inventou uma agulha especial feita de aço com a qual ‘costura’ a madeira para dar origem aos mais variados personagens e paisagens. “O pontilhado que se vê nas minhas obras é único graças à ferramenta que criei”, orgulha-se.

Por 15 anos, o artista expôs seu trabalho na Praça da República, o que ampliou a divulgação de seus feitos. “Peguei amizade com muitos turistas estrangeiros que levaram minhas obras.”

Graças a isso, hoje muitas delas estão espalhadas por Portugal, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Suíça, Japão e França, participando também de exposições fora do País. Em Diadema, 25 quadros podem ser vistos no MAP (Museu de Arte Popular), no Centro.

Jeronimo foi sanfoneiro por quase quatro décadas. “Cheguei a tocar com Luiz Gonzaga em um programa de rádio que ele tinha no Rio de Janeiro, mas acabei ficando só com a xilogravura e, graças a Deus, deu certinho.” 




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