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Era sólido, desmanchou no ar

Um carro vazio deve estacionar hoje à porta da Câmara dos Deputados, em Brasília. Dele descerá o ministro da Justiça

Do Diário do Grande ABC
29/04/2015 | 07:00
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1 – Um carro vazio deve estacionar hoje à porta da Câmara dos Deputados, em Brasília. Dele descerá o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Foi convocado para explicar suas reuniões com advogados de empreiteiras do Lava Jato.
2 – A presidente enfim calçou as sandálias da humildade. Continua arroganta, prepotenta, mas se curvou ante a força dos fatos: desistiu de ir à TV no Dia 1º de Maio. Faltou-lhe estofo para enfrentar mais um panelaço. Falta-lhe estofo, também, para admitir que não vai à TV porque não pode. Diz que prefere a internet.
3 – Michel Temer nem é do PT: é do PMDB. E escorregadio como ninguém. Mas é vice de Dilma. Na Agrishow de Ribeirão Preto, na segunda-feira, buzinaço o impediu de falar e de dar entrevista, mesmo tendo ao lado a ministra Kátia Abreu, ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura, estrela do agronegócio (ou era, até virar ministra de Dilma). Temer saiu discretamente, em silêncio.
4 – Ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi aquele que proclamou “eu amo Dilma” antes de ser posto no olho da rua, disse publicamente que o PT exagerou no roubo. Se Lupi diz, deve ser verdade. É político há muito tempo. Entende.
5 – O fato é que Lupi disse que o PT roubou demais, em excesso. A reação do PT se traduziu em estrondoso, ensurdecedor, ribombante silêncio. Como decretou o papa Bonifácio 8º, que reinou entre 1294 e 1303, quem cala consente.
O PT venceu quatro eleições presidenciais e parecia imbatível. Em quatro meses de 2015, seu prestígio que era sólido se desmanchou no ar. Quem governa?

O dia simbólico
Ministro da Comunicação Social, Edinho Silva disse que Dilma não é obrigada a falar em rede de TV no Dia do Trabalho. É verdade: não está escrito em lei nenhuma. Mas no ano passado Dilma dizia que o discurso na TV no Dia do Trabalho é “típico e tradicional”. E discursou em todo o seu mandato: em 2011, louvou o aumento do emprego e prometeu continuar a elevar o salário mínimo; em 2012, exigiu que os bancos privados reduzissem os juros; em 2013, prometeu não descuidar do controle da inflação e reduzir impostos; em 2014, anunciou reajuste superior à inflação da Bolsa Família e correção (inferior à inflação) da tabela do Imposto de Renda. Em 2015 – bem, se é para fazer discurso prometendo o que não vai cumprir, é melhor poupar as panelas da população.

Dúvida pertinente
Um dos políticos mais próximos de Dilma e Lula, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini (PT), diz que o escândalo da Petrobras decorre de “sistema de corrupção que opera há muito tempo e que busca, de tempos em tempos, se aproximar de agentes políticos para os seus objetivos”. Completa, pensando certamente nas estatais dos governos tucanos: será que isso acontece só na Petrobras? A pergunta do ministro é corretíssima: há os fundos de pensão, o BNDES, a Eletrobrás, a Itaipu Binacional. Será que isso acontece só na Petrobras?

Os vermelhos...
Mas não imagine que o PT, vendo esboroar-se seu comando, vá aceitar pacificamente a alternância no poder. A reação deve ocorrer em duas frentes: a primeira, política, visando dividir o PMDB, que é visto (corretamente) como o principal adversário do partido. Há clara tentativa de separar os dois dirigentes que levaram o PMDB para a oposição (embora dentro do governo, que boquinha nunca se rejeita): tenta-se jogar Renan Calheiros, presidente do Senado, contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Manobrando entre os dois, o PT talvez consiga recuperar alguma força no Congresso (mesmo tendo de abandonar o incrível Sibá Machado, um Eduardo Suplicy que não deu certo). E Temer ficaria como coringa, para avalizar o vencedor da disputa. Mas se alguém acha que Michel Temer vai botar azeitona na empada dos outros pode ir mudando de ideia.

...e os negros
A segunda frente é aquela que Lula já citou, “o exército do Stedile”. Talvez não seja o MST, talvez nem seja Stedile. Mas, aproveitando que há professores em greve em São Paulo e Paraná, Estados governados pelo PSDB, em ambos os casos liderados por sindicatos que acham Fidel Castro direitista demais, é botar os black-blocs nas ruas. A tentativa de invasão da Secretaria da Educação de São Paulo, com equipamentos de arrombamento à disposição, foi um exemplo. No Paraná, o Sindicato rompeu o diálogo com o governo e se disse preparado para a invasão e ocupação da Assembléia. As mensagens aos grevistas, pela internet, incluem até o uniforme a ser usado nas operações: lenço no rosto e, para evitar outras formas de identificação, tatuagens cobertas. A tática é a de sempre, da equivalência: nosso Governo vai mal, mas seus Governos também vão. 




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