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Agricultura resiste no Grande ABC
William Glauber
Do Diário do Grande ABC
11/09/2005 | 07:45
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Uma pequena produção agrícola resiste à alta concentração de indústrias na era da automação industrial e da robótica no Grande ABC. Entre fábricas do setor automotivo, cosmético e petroquímico, propriedades rurais mantêm cultivo de hortaliças, flores e shitaki e também a criação de cabras leiteiras.

Até meados dos anos 70, municípios da região integraram o cinturão verde da Grande São Paulo, por conta da expressiva produção agrícola. Atualmente, embora não existam números oficiais que ilustrem essa queda de participação do setor, a agricultura e a agropecuária são consideradas insignificantes na economia da região.

No entanto, bravos produtores relutam em permanecer na terra. Um exemplo é o produtor de hortaliças Tomio Kajiya, de 47 anos, que cresceu em meio à lavoura em Ribeirão Pires. Num pequeno sítio de quatro alqueires, Kajiya produz couve, alface, almeirão, cebolinha, escarola, entre outras hortaliças.

Os produtos são escoados para restaurantes industriais da região de empresas como Firestone, Valisère e Lorenzetti. Mensalmente, o produtor agrícola distribui 1,2 mil quilos de couve, 1,5 mil quilos de alface, 2 mil quilos de repolho, entre outras variedades. O quilo de alface custa R$ 1 e tem em média quatro pés da hortaliça.

A tradição de trabalho com a terra foi mantida na família por meio de Kajiya. "Dei continuidade ao trabalho do meu pai. Aprendi tudo com ele", diz o produtor. O alto custo da produção é um dos obstáculos para a agricultura. "Tudo custa caro e é cotado em dólar", explica Kajiya. Para garantir a produção da propriedade, ele conta com a colaboração de dois funcionários e da mãe, de 84 anos de idade. Os filhos estudam em escola técnica e pouco ajudam na lavoura.

Mantendo também uma tradição familiar, o produtor rural Luís Nishikawa, de Ribeirão Pires, conta que a família trabalha com o cultivo de flores desde 1954. Atualmente, ele abastece, três vezes por semana, a Ceagesp, em São Paulo, e a companhia de abastecimento de Campinas com 150 caixa de flores, com dez vasos cada. A produção de poinsettia, crisântemo e orquídeas ganha diversos destinos.

O forte dos irmãos Nishikawa é a produção de poinsettia, que corresponde a 70% dos negócios. Cada vaso custa, em média, R$ 3,50. A maturação da planta desde o enraizamento até a venda dura quatro meses. Para manter os estoques, a propriedade tem 30 mil m² de estufas. A produção do Natal já está sendo preparada e, nesta época do ano, 200 mil vasos são vendidos.

Luís Nishikawa explica que a produção na região diminuiu devido à baixa lucratividade. "Se a lavoura desse mais retorno, talvez as pessoas ficassem nas propriedades. A maioria aqui era de imigrantes japoneses. Os filhos estudaram e foram para outras áreas."

Em Rio Grande da Serra, a produção de shitaki (cogumelos) ganha destaque na área rural do município. Maria Aparecida Fausetti começou a produzir shitaki há nove anos, após assistir a uma reportagem na TV. Hoje, ela abastece o mercado consumidor de São Paulo.

Nos tempos de floração do cogumelo (maio e setembro), a agricultora chega a entregar uma tonelada de shitaki ao custo de R$ 14 o quilo. "Tudo o que produzimos é vendido. Esse produto vai parar nos restaurantes de públicos das classes A e B."

Na redondeza de empresas como Basf e Acrilex, um agropecuarista de sucesso se destaca em São Bernardo, berço da indústria automobilística. Jaime Peres Dias é proprietário da Pecuária Albatroz, onde cria atualmente 400 cabras leiteiras e 60 bodes reprodutores das raças saneen, toggenburg e alpina.

O leite de cabra é matéria-prima para produzir 12 variedades de queijos franceses como camembert, saint maure, crottin, brick e pyramide. Entre os clientes ilustres estão os hotéis Gran Meliá e Intercontinental, o Empório Santa Maria, a Casa Santa Luzia e o chef de cozinha Olivier Anquier, todos da capital.

A produção média é de 150 queijos por dia. Os queijos levam a marca DMAS (Dimensão Máxima em Aroma e Sabor). Dias conta que o quilo do queijo mofado é vendido ao custo de R$ 75, e, na região dos Jardins, na capital, tem acréscimo de até 40% para revenda. Para manter a produção, Dias mantém 12 funcionários contratados.

A produção se iniciou há cinco anos, quando Dias começou a criar cabras e bodes de raça para competição em torneios. Com o crescimento do rebanho, a produção de queijos se tornou o principal negócio do empreendedor, que passou para segundo plano a empresa de consultoria contábil. "É uma paixão que começou como hobby. Quando comecei a ganhar dinheiro, tive a aceitação da família. Hoje estou muito satisfeito", conta.




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