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Pessoas se espremem para tentar consulta em Mauá
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
07/04/2005 | 14:03
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Cerca de 500 pessoas se espremeram na USF (Unidade de Saúde da Família) do Jardim Zaíra, em Mauá, quarta-feira pela manhã, para marcar consulta ou passar pelo médico. Por volta das 11h, quem havia chegado antes do início do atendimento, às 7h, ainda aguardava de pé com a senha na mão. Os médicos não davam conta de atender o total de pacientes e os funcionários não conseguiam organizar a multidão na fila.

A situação se agravava cada vez que os funcionários precisavam utilizar a escada que dá acesso ao piso superior do posto, onde estão os consultórios médicos. “Tem de ir pelo cantinho. Hoje está difícil”, desabafou uma atendente sem perceber que estava ao lado da reportagem. Todos os degraus estavam lotados de pacientes que aguardavam na interminável fila.

Quem conseguia acesso ao balcão de marcação de consultas, após em média seis horas de espera, deixava o posto de saúde ainda mais decepcionado com a resposta. “Disseram que, antes de passar pelo especialista, a gente vai passar por uma enfermeira e que os casos mais urgentes passarão na frente. Quem precisa entregar exames, como eu, só vai conseguir consulta para junho ou julho”, reclamava a dona-de-casa Cileide Santos Pereira. Ela foi ao posto de saúde para tentar marcar com pediatra para a filha de 4 anos.

Na segunda fila, havia o grupo de pacientes que aguardava por consulta médica. A situação era igual. A diarista Elizabeth Dantas acompanhava sua filha de 13 anos. “A menina está com dor de ouvido. Cheguei aqui às 10h para passar pelo clínico-geral e agora me disseram que não tem previsão de quando ela será atendida. Isso é um absurdo. Mauá não tem prefeito e nem saúde”, reclamava, por volta das 11h.

Limite – Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que o atendimento na unidade do Zaíra “está no limite da capacidade e que por isso está prevista a construção de uma nova unidade”. Porém, não informou prazo de início e entrega da obra.

A nota diz ainda que o atual “critério de agendamento” (determinação de uma data por mês para a marcação de consultas) e “a necessidade de contratação de mais médicos ambulatoriais” serão “reavaliados” e que podem ser “feitas modificações”. Em nenhum momento, a nota da administração municipal informa o quadro de profissionais que trabalhavam na unidade de saúde do Jardim Zaíra quarta-feira.

Clima – Os poucos funcionários da unidade de saúde do bairro que trabalhavam quarta-feira pela manhã disseram que nunca tinham visto lotação como aquela. Atendentes disseram que a fila para a marcação de consulta começou de madrugada, por volta das 4h, ainda do lado de fora do posto. O serviço de agendamento funciona das 10h às 15h e o atendimento às consultas e emergências começa às 7h.

“A gente prefere dormir aqui na frente do posto para ver se consegue a vaga porque se deixar para chegar aqui na hora que eles mandam, fica impossível conseguir agendar a consulta. Não vim de madrugada, vim às 7h, mas minha senha é número 120 e ainda não cheguei à escada”, contou a estudante de 11 anos Diane Santos, enquanto aguardava na fila para tentar marcar consulta para a avó de 87 anos que não consegue caminhar

A fila para a marcação de consultas começava na recepção do posto, seguia pelo corredor do piso térreo, subia a escada e, no segundo andar, dava duas voltas em torno do hall da escada.

A babá Carminha Marques dos Santos segurava a senha de número 138. Ela carregava nos braços uma criança de quase dois anos. “Eu cuido dela e do irmão enquanto a mãe trabalha. Por isso ela teve de vir comigo.”

Já eram 11h e Carminha aguardava desde às 9h para agendar uma consulta com pediatra para o irmão da menina que carregava no colo. “Agora vou ter de voltar para casa e dizer para a mãe que não consegui marcar a consulta.”



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