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Mercosul faz 19 anos, mas já não demonstra mais a mesma força
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
10/01/2010 | 07:16
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A força econômica observada a partir de 1991, quando foi criado o Mercosul (Mercado Comum do Sul) não é mais a mesma hoje, depois de quase 19 anos da implementação do bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A avaliação é de especialistas em relações latino-americanas.

Em 26 de março de 1991, foi assinado o Tratado de Assunção, que deu origem ao grupo de países interessados em ampliar a dimensão das negociações comerciais entre si e, consequentemente, difundir a integração regional para o desenvolvimento mútuo.

A partir do Mercosul, foi constituído mercado comum entre os quatro países, com premissas que variam desde a livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre as partes até o estabelecimento de tarifa externa única e adoção de política comercial conjunta. Deu certo.

"A união dos países resultou em maior aproximação nos planos social e econômico. Até 1998, observamos veloz evolução. Passamos dos US$ 5 bilhões em relações comerciais sul-americanas no fim da década de 1980 para US$ 20 bilhões dez anos mais tarde", salienta o professor Alberto Pfeifer, integrante do grupo de análise de conjuntura internacional da USP (Universidade de São Paulo).

O coordenador de Políticas Internacionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Giorgio Romano Schutte, tem a mesma opinião. "Com o Mercosul, a integração regional e as relações comerciais apresentaram avanços importantes num primeiro momento. Mas depois isso diminuiu um pouco. Ainda assim, há forte reconhecimento internacional como bloco que deu certo", considera.

Nos últimos anos, porém, o grupo de quatro países demonstra diminuição na velocidade de crescimento, ao mesmo tempo em que o Brasil desponta como liderança do bloco. "Isso ocorre porque a proteção para investimentos, a bitributação e a flexibilização de relações de trabalho ainda caminham lentamente", avalia Pfeifer. "É normal essa desaceleração. Apesar de não ser como antes, o crescimento continua", completa Schutte.

De acordo com os especialistas, a solução para garantir a retomada do vigor de crescimento passa pela introdução de projetos produtivos. "Tem de reconhecer as potencialidades legítimas de outros países. As empresas devem investir numa ajuda mútua, para troca de experiências, tecnologias, geração de emprego. A fórmula é complementar sistemas e crescer juntos", analisa o coordenador do Ipea.

Venezuela aguarda permissão para entrar no bloco
O grupo formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai aguarda por um novo integrante desde julho de 2006. A Venezuela é aspirante ao bloco (veja arte à esquerda). O país comandado por Hugo Chávez precisa apenas de autorização do Congresso Paraguaio para ingressar, já que os parlamentos da Argentina, Brasil e Uruguai já avalizaram o acesso.

Segundo o professor Alberto Pfeifer, existem duas correntes sobre a entrada da Venezuela no Mercosul: uma otimista e outra cautelosa, que considera a postura do mandatário do país, radical à esquerda, de certa forma incompatível. "Uma das alas preconiza que a Venezuela aumentaria o grau de controle na região e outra acha que, nesse momento, adicionaria instabilidade ao conjunto", enfatiza.

O integrante do grupo de análise de conjuntura internacional da USP ressalta ainda que um quinto elemento no Mercosul pode atrasar a execução de ações, já que o processo de decisões fica mais complexo. "É preciso acelerar prazos e tempos. Chamar mais membros, se não consegue nem acertar cronograma atual entre os quatro, não é viável hoje", pontua.

Já Giorgio Romano Schutte acredita que a Venezuela pode reforçar a aliança regional, mesmo economicamente, principalmente para o Brasil. "Seria bom porque trata-se de uma potência energética (rica em campos de petróleo, por exemplo). Novas aberturas são interessantes."

Mercocidades - A Rede de Mercocidades foi criada em 1995. Trata-se de ramificação do Mercosul, pela qual os municípios pretendem ser protagonistas, deixando de lado ações ministeriais entre os países do bloco. O núcleo de cidades tem mais de 200 associadas. Dos sete municípios do Grande ABC, cinco são integrantes: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá. Entretanto, o órgão que nasceu para facilitar as relações e tornar os caminhos comerciais mais diretos não prospera.

São poucas as iniciativas realizadas na região pela Mercocidades. As experiências ficam resumidas a raras ações culturais.

A região teve maior participação no grupo de municípios quando Santo André liderou a aliança. São Caetano também esteve mais presente no cenário sul-americano quando funcionava a Casa do Mercosul. No Grande ABC, São Bernardo é a única que mantém Secretaria de Relações Internacionais.

"Há somente iniciativas culturais, artísticas, científicas e acadêmicas que são apenas cadernos de boas intenções e não chegam à sociedade. Tem de haver operadores preparados para gerir negócios comerciais diretos", finaliza Pfeifer.




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