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Agravante à Covid, tabaco tem aumento do consumo na região

Gasto com o tabagismo subiu 16% em um ano; de R$ 392 milhões em 2020, despesa pode saltar a R$ 439 milhões no Grande ABC até dezembro

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
29/08/2021 | 00:01
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André Henriques/DGABC


Hoje comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Fumo, data instituída em 1986 pela Lei Federal 7.488. A celebração foi criada com objetivo de “reforçar as ações de conscientização sobre danos sociais, de saúde, econômicos e ambientais causados pelo tabaco”, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), vinculado ao Ministério da Saúde. 

E nesta pandemia o tabagismo mostrou-se ainda mais danoso e prejudicial à saúde, sendo, inclusive, considerado por especialistas fator de risco para a propagação e o agravamento de sintomas da Covid-19. Assim, parar de fumar deveria se tornar iniciativa de proteção à saúde do fumante e de todos em seu entorno.

Mas não é o que tem acontecido no Grande ABC, em particular, e no Brasil, de modo geral. Mesmo o tabagismo sendo uma das causas de mortes evitáveis em todo o mundo e estar na origem de diferentes tipos de câncer, não há consciência sobre seus malefícios.

É isso que mostra pesquisa do IPC Maps, especializado em potencial de consumo, que revela haver na região acréscimo de 16% nos dispêndios relacionados ao fumo, com salto de R$ 392,01 milhões com os produtos em 2020 para R$ 439,28 milhões neste ano. No cálculo são levados em consideração gastos com charutos, fumo para cachimbo e para cigarros e outros artigos para fumantes, como fósforos, isqueiros etc. Os índices mostram reversão da tendência, já que as sete cidades da região haviam diminuído o consumo quando comparado 2020 com o ano imediatamente anterior. A cifra por aqui havia sido de R$ 558,04 milhões em 2019.

Outro levantamento que ratifica a elevação, este do Inpes-USCS (Instituto de Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano), de 2019, o último sobre o tema, aponta que havia ao menos 578,3 mil indivíduos acima de 18 anos adeptos do cigarro entre os 2.825.048 habitantes dos sete municípios, volume correspondente a 21,7% do total de moradores da região.

SEGUINDO OS PASSOS

O ‘não’ ao vício deveria ser única escolha, entretanto, índices do IPC Maps mostram que a região segue passos do Brasil, que apresenta acréscimo nominal de 16% nos gastos com tabaco em relação ao ano passado. Previsão é a de que o consumo no País ultrapasse R$ 21 bilhões neste ano – pesquisas do instituto referem-se ao consolidado de janeiro a dezembro. 

Mais um estudo, o Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, divulgado em abril e realizado em 26 capitais e o Distrito Federal, com maiores de 18, indica que, em 2019, 9,85% dos entrevistados declararam-se ainda fumantes, 0,5% a mais do que um ano antes.

Para Marcos Pazzini, responsável pelo IPC Maps, mesmo com a quarentena, que impôs às pessoas o confinamento, o brasileiro ainda não se conscientizou dos problemas decorrentes do vício. “Apesar de a pandemia estar em curso e de o brasileiro ter reduzido suas despesas em alguns itens de consumo, infelizmente as despesas com fumo continuam em alta, o que é sintoma de que o vício e o prazer superam qualquer adversidade.” 

‘Tira o estresse’

Parte desse contingente de apreciadores do fumo, a cabeleireira Patrícia de Arruda, 44, de Santo André, fuma desde os 13 anos. Iniciou quando os pais, fumantes, pediam que acendesse o cigarro deles no fogão. Gostou tanto que hoje consome um maço ao dia. “Se saio com as amigas, fumo até dois maços por noite.” Gasta, em média, R$ 300 mensais com tabaco. Viciada assumida e consciente quanto aos problemas que o fumo acarreta, confidencia que sabe do prejuízo a outras pessoas “por tabela”, mas não tem intenção de parar, porque “o vício é maior”. “Além de gostar, o cigarro me acalma quando estou nervosa. Para me acalmar mais rápido às vezes fumo dois em seguida. É como se fosse calmante, tira o estresse. Sou viciada.” 

‘Meu refúgio’ 

“Naquela época (quando começou) era chique fumar, a mulherada gostava dos meninos que fumavam”, afirma Marcos Antônio Nogueira, 54, autônomo de serviços gerais, de Santo André, para justificar o começo do vício, aos 14 anos, que perdura até a atualidade. Um maço é a quantidade diária para ele, que diz gastar, em média, R$ 200 com o vício. Nunca, acrescenta ele, procurou tratamento para se livrar do tabagismo, mas diz ter consciência de que, se quisesse, “pararia no mesmo dia”. “Se eu disser que vou parar de fumar, paro. Mas enquanto não tiver problemas de doenças, não tenho pretensão, porque é meu refúgio, me tranquiliza.”

‘Me alivia’

Outra adepta, Angélica Dardin, 41, professora e fotógrafa de eventos, de Santo André, é contumaz consumidora, prática que teve início aos 13 anos. Por curiosidade, aproveitava as ‘bitucas’ dos tios quando estes deixavam no cinzeiro parte do cigarro acesa. “Pegava e fumava escondido.” A professora reforça que tem ideia do mal do vício, mas não de quanto gasta, porque nunca fez as contas para, segundo ela, “não entrar em desespero, surtar, por ver o quanto gasto em tabaco para me matar (risos)”. Parar sempre povoou aos pensamentos dela, mas, completa, “só pensei, nunca procurei, nunca quis”. Fuma de dez a 15 cigarros por dia. Se diz fumante consciente, porque sabe que faz mal e as pessoas reprovam, mas que a ansiedade por não saber “o dia de amanhã”, o estresse, filhos, marido, contas e a falta de eventos para atuar como fotógrafa fazem com que se torne mais distante o dia do fim do vício. “Meus filhos, meu marido, meus pais não gostam que eu fume. A sociedade não gosta que eu fume (risos). Mas eu gosto. Sei que é ruim, mas é uma coisa que me alivia.”




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