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Queda da taxa de juros veio tarde
Por Frederico Rebello Nehme
Do Diário do Grande ABC
25/11/2005 | 08:43
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O processo de redução da taxa de juros Selic, iniciado em setembro, veio tarde e será insuficiente para uma recuperação significativa da atividade econômica em 2005, na avaliação de empresários e economistas. A redução de 19% para 18,5% ao ano anunciada quarta-feira pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, além de decepcionar o setor produtivo, confirma que a diminuição da taxa acontecerá num ritmo inferior ao esperado e possivelmente só surtirá efeitos em 2006.

A falta de consistência na redução dos juros também alimenta a expectativa de que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresça menos que 3% em 2005 – um resultado inferior aos 3,5% previstos inicialmente pelo governo federal.

Além de influenciar o valor do crédito a ser obtido por empresários para o financiamento de investimentos, a taxa Selic guarda relação com o câmbio brasileiro, que tem prejudicado a rentabilidade das exportações. Uma redução da taxa – que é de 13,1% ao ano, em valores reais – também poderia elevar a cotação do dólar, o que aumentaria a viabilidade das vendas para o exterior.

"As altas taxas de juros foram responsáveis pela estagnação da economia, por todos os efeitos que acompanham a Selic. Tivemos outros fatores positivos que de certa forma ‘amorteceram’ a questão dos juros, como o aumento da concessão de crédito e a manutenção das exportações, mas que não foram capazes de eliminar o seu peso sobre a produção", afirmou o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Na avaliação do empresário Mauro Miaguti, diretor-titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, os juros altos também contaminaram o "humor" da indústria, o que se refletiria em baixos investimentos e em redução de produção.

"A indústria normalmente tem uma perspectiva melhor no segundo semestre, por causa das vendas para o final de ano, o que gera avaliações mais positivas. Isso não está acontecendo em 2005. Os empresários sabem que a queda de juros não surtirá efeitos agora, porque ainda é muito pequena. Só repercutirá em 2006", afirmou.

Motivação – O presidente do Sincomércio-ABC (Sindicato do Comércio Varejista do Grande ABC), José Carlos Buchala, acredita que os juros altos também surtem efeitos sobre o "ânimo" do consumidor, que se sentiria menos à vontade para gastar.

"O consumo tem uma ligação direta com a motivação dos consumidores. Se há um ambiente negativo na economia endossado com uma crise política que dura meses, as pessoas terão mais restrições para gastar", afirmou

O fator psicológico também é lembrado por Almeida, do Iedi. "Se o Banco Central tivesse reduzido neste mês 0,75 ponto percentual, a mudança seria quase a mesma, mas haveria uma sinalização mais forte de que os juros realmente irão cair com consistência."

Atraso – Para Shotoku Yamamoto, direto-adjunto do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, a redução da Selic deveria ter começado entre maio e junho, quando a taxa alcançou o seu patamar mais elevado no ano (19,75%), permanecendo inalterada por quatro meses.

"Possivelmente poderíamos sentir a redução já no final do ano. O que vimos, ao contrário, foi uma política absurda de juros para controlar a inflação e a tentativa do governo federal de aumentar o seu superávit, o que induz a novos aumentos dos juros", afirmou.




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