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Em Santo André, palhaço homenageia Vila Mansuetto

Alexandre Vendruscolo batizou seu colorido personagem com o nome do comendador que fundou as moradias para operários

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
12/08/2014 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


A histórica Vila Mansuetto, próxima a avenidas importantes de Santo André, como Pereira Barreto e João Ramalho, tem seu próprio palhaço. Alexandre Menghi Vendruscolo, 34 anos, batizou o personagem que é seu ganha-pão de Palhaço Mansuetto, em homenagem ao comendador que fundou a antiga vila de operários. Até hoje as casas históricas resistem, dando ao local ar interiorano.

Segundo Vendruscolo, seu nome de palhaço foi escolhido para homenagear o lugar onde ele cresceu. “Decidi fazer escola de Clowns com 21 anos e o primeiro nome que me veio na cabeça foi Mansuetto, que foi o comendador italiano que construiu essa vila e a que fica próxima ao bairro Santa Terezinha. A minha professora brigava comigo e dizia que isso não era nome de palhaço, mas nunca pensei em mudar”, disse.

Mesmo jovem, a vocação para animar o respeitável público veio cedo. “Aos 20 anos não tinha a mínima ideia de qual profissão seguir. Pelo contrário, me sentia um idiota com um acúmulo de ridículo muito grande, que precisava ser externado de alguma forma. Hoje vejo que o palhaço tem um papel importante espiritualmente, para mim e para as outras pessoas, já que levo alegria a todos. Ele é alguém que vê graça na desgraça”, afirmou.

As roupas do Palhaço Mansuetto carregam a história de sua família e da cidade. O colete foi usado por seu pai para se casar e ajustado para caber nele. A família mora no bairro há 35 anos e lá ele guarda as melhores lembranças da sua vida. “Tinha muitos amigos e jogávamos muita bola aqui. A vizinhança era muito unida, fazíamos festas juninas, sendo que cada casa ficava responsável por um determinado quitute.”

O par de tênis que o palhaço usa pertenceu ao prefeito Celso Daniel, morto em 2002, a quem Vendruscolo admira muito por causa do incentivo à cultura na época em que administrou a cidade. “Tenho mais de 80 certificados de cursos que fiz enquanto ele era prefeito. Como a minha mãe era empregada doméstica da irmã dele, a patroa a presenteou e, desde então, os tênis fazem parte do meu figurino”, explicou.

A maquiagem também evidencia os traços do rosto, sendo que somente os olhos levam maquiagem. “Prefiro não maquiar a boca, como outros palhaços fazem, por exemplo.”

O Palhaço Mansuetto trabalhou muito com animações em hotéis e festas infantis, porém, atualmente, mantém o projeto Cortejo do Mansuetto, que conta com diversos artistas circenses que cantam e dançam.

“Trabalhamos com o improviso, então não tem nenhum roteiro: nos reunimos e decidimos o que vamos fazer na hora. Costumo apresentar o cortejo na Rua Coronel Oliveira Lima, mas já fomos em outras cidades da região e do Interior.”

Ele também mantém a empresa Ócio Criativo Produções Artísticas, que ajuda no financiamento de produções culturais. “Ela tem apenas três meses, mas já temos muitos projetos interessantes, como artistas que fazem malabares na Fundação Casa, e também uma professora de expressão teatral. A empresa é nova, mas quero ampliar e ajudar o mundo artístico.”

Bairro também tem mestre de cerimônia

Além do palhaço, a Vila Mansuetto tem outro morador com papel fundamental em festas e eventos. Edson Tauhyl, 63 anos, é mestre de cerimônia e mora no bairro há 34 anos.

Ele é natural de Porto Feliz, no interior paulista, e se mudou para a vila em 1961 por achar que ali também havia tranquilidade interiorana. “Tenho muito carinho pelo bairro, principalmente por ele me lembrar minha cidade de origem.”

Tauhyl afirmou que os moradores já foram mais unidos. “Já tentamos fechar o bairro como um condomínio, mas não deu certo. Antigamente a gente se unia para mudar as coisas, o que não acontece hoje. Ainda é um lugar tranquilo, mas muitas pessoas acabam usando o acesso para cortar caminho até o Shopping ABC, o que gera trânsito.”

Em 30 anos de profissão, Tauhyl garante que a vocação começou cedo. “Quando eu era pequeno, meu pai me levava às rádios. Essas foram minhas primeiras experiências como locutor. Hoje fiz cursos e sou profissional. O mestre de cerimônia é aquele que dá o tom do evento, mas que não aparece. Ele tem que fazer com que as autoridades sejam as figuras principais”, explicou.

Ele destacou que o mestre também é responsável pela organização da mesa do evento. “Por exemplo, já aconteceu de eu chegar em um lugar e as bandeiras estarem do lado errado. Elas sempre têm que ficar no lugar de honra, que é o lado direito à mesa. A ordem também é iniciada pela bandeira nacional, estadual, de modo que se tiver a de alguma empresa, ela é a última.”

Entre as principais cerimônias realizadas pelo mestre está a inauguração do Parque Gráfico do Diário, em 1995. “Lembro que estavam presentes os fundadores Edson Dotto e Fausto Polesi, e também o filho do Edson, o Evenson Dotto. Foi um grande evento que mobilizou Santo André, por se tratar de uma nova unidade fabril”, recordou.

Ele também é o mestre de cerimônias da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Paulo. “O primeiro evento que fiz lá foi um dos mais emocionantes, porque alguns meninos me abraçavam e diziam que queriam ser mestres quando crescessem.”

Árvores, plantas e flores colorem ruas

As ruas da Vila Mansuetto se destacam não só pelas pequenas casas históricas, mas pelo verde. Uma das responsáveis por manter a natureza viva é a moradora do bairro há 35 anos Cleide Guezile Borelli, 56.

Ela plantou um canteiro de orquídeas no fim da rua para ter sossego para a filha pequena. “Como aqui é o fim de uma rua sem saída, a meninada ficava chutando aquela bola pesada e acabava pegando no meu portão. Plantei o canteiro com a árvore e as orquídeas e, assim, eles começaram a respeitar e a jogar futebol mais para a frente”, disse.

Segundo a moradora, há hoje 37 qualidades de orquídeas na árvore e as flores viraram cartão-postal da vila. “Tem muitas pessoas que me pedem uma muda para plantar a orquídea em casa e dou sem problemas. Já vi gente pegando escondido, mas avisei que não tenho problema nenhum em ceder uma muda”, afirmou.

Cleide, que é viúva há oito meses, também viu no amor às plantas uma forma de terapia. Ela auxiliou outras vizinhas no projeto de plantar uma trepadeira no arco de entrada da vila. “Quando deram a ideia, fui uma das primeiras pessoas a ajudar, pois gosto muito de plantas. Além disso, as trepadeiras fazem parte de um projeto em que todos os moradores colaboraram, o que reforça a união entre os vizinhos.”

Ela mora até hoje na mesma casa em que criou toda a família e afirmou que pensou em sair de lá depois que o marido morreu, porém, o filho, que mora em imóvel ao lado, a fez mudar de ideia. “O que eu gastaria em uma quitinete não compensa. Outra coisa é que aqui tenho tranquilidade, vou ao banco a pé, por exemplo, e deixo o feijão no fogo de tão rápido que é. Se for para outro lugar, vou depender de transporte e trânsito e não quero isso.”




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