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Professor ameaça processar pais
Marco Borba
Do Diário do Grande ABC
28/07/2006 | 08:16
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O professor de Matemática Adonis Viveira de Souza, da Escola Estadual Professora Maria da Conceição Moura Branco, situada no bairro Olímpico, em São Caetano, ameaça processar os pais de alunos que o acusam de coagir e agredir verbalmente os estudantes. Ele está afastado da sala de aula desde meados de junho porque a Secretaria de Educação do Estado abriu processo administrativo para apurar as denúncias.

“Vou processar os pais desses alunos por calúnia e também o jornal, se continuar publicando matérias que agridem a minha imagem”, ameaçou o professor quinta-feira pela manhã, por telefone, ao saber que falava com o repórter do Diário. Em seguida, bateu o telefone.

O processo, que determinou o afastamento de Souza por 30 dias, foi concluído na semana passada. Porém, a comissão que avaliou o caso ainda não divulgou o parecer. A Secretaria da Educação não definiu prazos. Apenas informou que o resultado do processo deverá sair nos próximos dias.

Na ocasião da denúncia ao Diário, em junho, os alunos – da 7ª série – disseram que Souza se refere a eles como “vagabundos”, “inúteis”, “débeis mentais” e recusa-se a tirar dúvidas da classe.

Ainda segundo relatos dos estudantes, com um dos adolescentes o professor teria ido além dos xingamentos e levado um menino para fora da sala apertando-o pelo braço. A família do garoto registrou boletim de ocorrência, e o aluno foi submetido a exame de corpo de delito. Os alunos se queixaram ainda que há dois anos vinham reclamando do professor à diretoria da escola, sem sucesso.

Os pais, por sua vez, temem o retorno do professor na próxima segunda-feira, fim do período de recesso escolar. Receosos de eventuais represálias, pediram para que os nomes dos filhos não sejam citados. “Pouco antes da Copa, ele (Souza) mandou e-mail para alguns alunos com tabela dos jogos e, na mensagem, despediu-se dizendo ‘a gente se vê em agosto‘. Se voltar mesmo, justiça não terá sido feita”, avaliou Luiz Carlos Kazlauskas Valdo, 40, pai de uma estudante.

A esteticista Lucimara Menegon, mãe de outra aluna, dá como certa a retomada dos conflitos. “Se ele voltar, vai se sentir intocável e continuar maltratando as crianças. Deve ser transferido ou exonerado, porque pode fazer o mesmo em outra escola.”

A dona-de-casa Marli Ferreira de Souza ameaça processar o Estado caso o professor retorne e crie novos problemas com sua filha, de 12 anos. A menina, diz a mãe, é diabética, e teve a taxa de glicose no sangue aumentada por conta da tensão em sala de aula. “Ela nem perguntava mais nada, com medo de ser humilhada. Tive de aumentar a dosagem de insulina. Esse quadro pode afetar alguns órgãos como rins e pâncreas. Após o afastamento dele, a taxa de glicose voltou ao normal. Se ela voltar a ter problemas, pego os exames médicos feitos nesse período de tensão, contrato um advogado e processo o Estado.”

“Estressado” – A presidente em exercício da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado), Maria Izabel Azevedo Noronha, disse concordar com o afastamento, mas fez ressalvas. “O professor também vem sendo agredido em sala de aula. Essa agressão mútua ocorre por conta da sobrecarga, pois alguns professores têm de dar aula em mais de uma unidade escolar para reforçar a renda. São elementos que levam a reações de violência, mas isso não justifica o alegado tom agressivo do professor com os alunos”, avalia.

Para Maria Izabel, a postura de Souza não caracteriza um “desvio de comportamento”. “Talvez ele (Souza) necessite mais tempo para se recompor. O Estado deveria conceder um afastamento adicional remunerado. Creio até que ele deveria passar por uma perícia médica. Pode estar estressado e não sabe.”




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