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Mãe lança livro com textos e poemas compostos pela filha, morta em setembro

Material escrito por Isabelli Borges retrata desde amizade e família até primeiro amor da jovem; obra busca homenagear memória da garota

Por Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
27/12/2021 | 05:21
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Celso Luiz/DGABC


Gentil, dedicada e caridosa. É assim que a mãe Cristiane Borges, 41 anos, descreve a filha Isabelli Borges Valentim, que morreu precocemente em setembro deste ano, em São Bernardo. A causa do óbito ainda é investigada – leia mais abaixo. Deixando a dor e a saudade de lado, Cristiane reuniu no livro Brilho e Luz alguns textos e poemas escritos por Isabelli e que nunca foram publicados. A homenagem busca manter viva a memória da filha, além de tentar acalentar amigos e familiares da adolescente, que sentem com a sua partida.

Os textos retratam situações e sentimentos vividos pela jovem ao longo dos seus 16 anos. Histórias como a de seu primeiro amor, relações de amizades, descobertas, luto e o carinho e a admiração pela família são alguns dos temas abordados nas 132 páginas da publicação.

O material foi descoberto por Cristiane no dia da morte da filha, quando a mãe decidiu procurar em seu quarto um caderno com músicas religiosas que a menina havia escrito. No primeiro momento, Cristiane ficou apreensiva em ler os textos, mas mudou de ideia quando leu publicação de Isabelli em sua conta no Twitter que dizia: “Gostaria de ter coragem para mostrar meus textos para o mundo”.

A escrita era o refúgio da adolescente, que mesmo muito extrovertida, preferia demonstrar seus sentimentos por meio de papel e caneta, conforme afirma Cristiane. “Ela conseguia transmitir em palavras tudo que estava sentindo. Descobri que ela viveu seu primeiro amor e que era muito amada pelos amigos. Mesmo ela não estando presente, continua me ensinando todos os dias”, desabafa a mãe, que ainda confessa que encontrou mais dois cadernos com novos textos da filha. 

Com a voz embargada, a mãe cita o seu texto favorito do livro. “Eu tenho muito orgulho de ser sua filha, tenho orgulho de você em cada uma das coisas que você faz e peço perdão se não demonstro tanto isso; afinal, eu sempre fui muito aberta, mas as palavras para demonstrar tamanho sentimento nunca parecem o suficiente”, termina Cristiane, sem, no entanto, conseguir conter a emoção durante a leitura. Ela explica que o texto foi escrito no Dia das Mães, mas que nunca leu. Isso porque a filha reescrevia o mesmo material diversas vezes e deixava guardado em seu quarto sem mostrar para ninguém. 

Ana Beatriz Rodrigues Vieira, 15, considerava Isabelli como irmã e não esconde o amor e o orgulho da amiga. “Saber que um livro com as histórias escritas por ela seria produzido e publicado foi um misto de emoções. Uma parte de mim ficou alegre e orgulhosa, por saber que as pessoas iriam ler e conhecer um pouco do lado sensível e de escritora da Isa, e, ao mesmo tempo, fiquei triste porque ela não estará ao nosso lado fisicamente para poder pular de alegria e desfrutar desse momento da forma que desejávamos. Aliás, esse também era um sonho dela”, confessa a melhor amiga. 

A obra será publicada pela Temática Publicações, editora de Porto Alegre, que realizou gratuitamente a revisão e diagramação do conteúdo, após se sensibilizar com o caso – que ganhou repercussão nacional. Cristiane arcou com o custo da gráfica, com os 100 exemplares do livro, que serão distribuídos para amigos e familiares de Isabelli. A mãe já recebeu pedidos de doação do livro para a biblioteca da antiga escola da adolescente e para a biblioteca municipal de São Bernardo.

Após a entrega para os mais próximos, Cristiane tem alguns planos para o futuro da obra da filha. “Não sei como nem quando irei fazer, mas se for colocar o livro para venda, todos os lucros serão destinados para alguma organização social, que, com certeza, seria o desejo da minha filha”, conta a mãe da garota, orgulhosa.

Causa da morte ainda está sendo investigada
O caso da jovem Isabelli Borges Valentim repercutiu em todo País por conta das incertezas que envolvem a causa da sua morte. A adolescente faleceu oito dias depois de tomar a primeira dose da vacina da Pfizer contra a Covid-19, em São Bernardo. Já o atestado de óbito mostra que a jovem morreu de três possíveis causas: choque cardiogênico, infarto agudo do miocárdio (ataque cardíaco) e anemia severa.

Na ocasião, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou, por meio de nota, que a morte da são-bernardense não teve “relação causal” com o imunizante. O órgão concluiu que os dados analisados em parceria com o governo de São Paulo “foram considerados consistentes e bem documentados”.

O Ministério da Saúde também chegou à conclusão de que a razão do óbito foi doença autoimune grave e rara chamada de PTT (Púrpura Trombocitopênica Trombótica), mesmo resultado obtido pelo governo do Estado após ouvir junta médica com 70 especialistas – até o fechamento desta edição o governo estadual não havia apresentado o laudo médico com a comprovação da doença autoimune e a causa da morte está sob segredo de Justiça.

“Para eles, ela era apenas um número, uma estatística, mas para mim era minha vida. Dói muito lembrar das últimas palavras que troquei com a minha filha: olhei nos olhos dela e prometi que iria ficar tudo bem, nem imaginava que seria a última vez”, desabafa a mãe.




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