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Passeata pela paz reune 500 no Rio
Por Do Diário do Grande ABC
31/01/1999 | 16:16
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No mesmo dia em que uma passeata contra a violência foi realizada em Ipanema, no Rio, os banhistas desta praia, de Copacabana e do Leblon testemunharam, cerca de uma hora antes, um tiroteio entre policiais militares e quatro assaltantes, numa perseguiçao pela orla da zona sul. A quadrilha foi presa sem ninguém ter se ferido. O pânico e a correria causados por mais esta demonstraçao da violência no Rio nao impediu que a manifestaçao reunisse pelo menos mais de 500 participantes.

Um dos manifestantes, o subsecretário de Segurança Pública do Estado do Rio, Luís Eduardo Soares, afirmou que a prisao da quadrilha foi uma "demonstraçao de que a polícia age rapidamente" e de que melhorou a segurança na regiao. A passeata Paz na Praia, Paz na Cidade reuniu representantes de parentes de vítimas assassinato, entidades de defesa dos homossexuais e outras organizaçoes nao-governamentais (ONGs), como o Movimento Viva Rio.

Os manifestantes saíram da altura da Rua Farme de Amoedo, em Ipanema, local que se tornou ponto de encontro de lutadores de jiu-jitsu que agridem outros freqüentadores da praia e aterrorizam moradores do bairro. Carregando faixas com dizeres "Cadeia para pobres e ricos", os manifestantes foram andando até a altura da Rua Maria Quitéria, orando em voz alta, a partir da passagem pela Rua Joana Angélica.

A frente do grupo, estavam os parentes e amigos de Frederico Guimaraes, o "Fredinho", assassinado em novembro, em Ipanema, crime pelo qual um dos integrantes da gangue do jiu-jitsu, Renato de Mendonça Júnior, de 21 anos, é acusado de ser o mandante. Ele está foragido e com prisao preventiva decretada. Apesar de ter se submetido há pouco tempo a uma cirurgia para curar a hérnia, a mae de "Fredinho", Eloyna Guimaraes, participou.

Eloyna explicou que foi à passeata como forma de demonstrar que nao está intimidada com as ameaças anônimas feitas contra o marido, Geraldo José Ferreira da Silva, e as testemunhas da morte do filho. "A maioria dos amigos do meu filho e meu marido foram ameaçados, mas nao vamos parar enquanto nao prenderem o Renato", avisou. A Polícia Civil prendeu Gustavo Lima de Oliveira, de 19 anos, acusado de ser o executor do crime.

No fim da manifestaçao, parte deles formou um círculo na areia e, em seguida, tomou um banho de mar. "O banho foi uma purificaçao, uma vontade de sair desta raiva, do desespero", afirmou o sociólogo Rubens Cézar Fernandes, do Movimento Viva Rio. Para Fernandes, a principal funçao da passeata foi de representar uma "força positiva" para se opor ao pessimismo e à aceitaçao passiva pelo carioca à violência. "Se nao houver um movimento como esse, fica só a força negativa", explicou. "É uma coisa inocente, mas muito verdadeira", definiu. A maior parte dos manifestantes nem chegou a testemunhar a prisao de uma suposta quadrilha formada por Antônio Freire Costa, de 20 anos, Francisco Valdemir Pinheiro de Paula, de 42 anos, Leonan Casimiro da Silva, de 33 anos, e Marcelo Alves, de 22 anos, no Posto 11, no Leblon , depois de trocas de tiros com policiais militares. Os quatro sao acusados de assaltar a Cantina e Restaurante do César, no fim de Copacabana, mas policiais do 19º Batalhao (Copacabana), que patrulhavam a pé o bairro, foram alertados pelo caixa do estabelecimento, que conseguiu fugir dos supostos ladroes.

Na saída da cantina, os PMs tentaram prender o bando, que reagiu a tiros. Policiais do 23º BPM (Leblon), que também estavam a pé nas proximidades, foram avisados pelo motorista de um Fiat que assistiu ao primeiro tiroteio. Eles entraram no Fiat e começaram a perseguir a quadrilha, que estava num Gol, alvejado pelo menos quatro vezes pelos policiais militares, nas Avenidas Vieira Souto e Delfim Moreira, na orla de Ipanema e do Leblon.

Depois de se chocar com um Voyage, os quatro abandonaram o carro na Avenida Delfim Moreira, tentaram fugir a pé pelo Leblon mas foram presos. Ao sair do carro, os quatro fizeram vários disparos contra os policiais, provocando uma correria dos banhistas. "Quando ouvi aquele barulho de tiros, até pensei que fosse a passeata da paz, que estaria começando com fogos", contou o professor de Agronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Silvestre Fernandes, que testemunhou o tiroteio.




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