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Mesmo após chuvas, nível de reservatórios segue em queda

Três dos quatro mananciais que abastecem a região têm menos água do que no início do mês

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
30/12/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


Três dos quatro reservatórios de água que abastecem o Grande ABC estão com o nível de água menor do que o registrado no início de dezembro, mesmo após as fortes chuvas que atingiram a região neste mês. O Sistema Rio Grande, que abastece 1,2 milhão de pessoas em Santo André, São Bernardo e Diadema, passou de 78,4% para 78,2% da sua capacidade. Já o Rio Claro, que abastece cerca de 1,5 milhão de moradores de Diadema, São Bernardo e parte de Santo André, passou de 48,8% para 43,9%.

O Sistema Alto Tietê, que também abastece os mais de 472 mil habitantes de Mauá, entre outros municípios da Região Metropolitana, passou de 53,7% para 42%. Para os especialistas, o momento é de atenção e de atuação do poder público, na fiscalização das áreas no entorno dos mananciais, garantindo sua conservação e proteção; colaboração da população, com o consumo consciente, para que seja evitada crise hídrica como a de 2014 e 2015.

Arquiteto urbanista e consultor nas áreas de sustentabilidade e saneamento, Carlos Henrique de Oliveira avalia que os dados dos níveis dos mananciais de São Paulo são indicativos de que há risco de outra situação delicada no abastecimento. Segundo o especialista, as projeções de climatologistas e meteorologistas são de que as mudanças do clima alterem o regime de chuvas na região Sudeste do País. Estas chuvas serão mais fortes e concentradas, maior volume em menor espaço de tempo, e haverá períodos maiores de dias sem precipitação. “Com este cenário, não temos garantia de que as chuvas mais fortes e concentradas caiam sobre as represas ou os rios que abastecem estas represas.”

Oliveira apontou que é preciso ação por parte da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), como aumentar o controle de perdas, atuar na conservação e recuperação dos mananciais, além de uma cobrança mais efetiva dos grandes consumidores.“O governo estadual também precisa adotar medidas no sentido de garantir o uso racional da água pelos produtores agrícolas (maiores usuários de água) e a proteção das áreas produtoras de água. Em 2020, tivemos ocorrência de grandes incêndios florestais em unidades de conservação estaduais, que são responsáveis por cerca de 60% de toda água que corre pelos rios em território paulista”, destacou.

O consultor afirmou que, na Região Metropolitana, o abastecimento de água continua a depender do Sistema Cantareira, o que significa buscar o produto cada vez mais longe. “Continuamos a ‘importar água’, pois não são águas ‘nossas’, e sim da região de Campinas/Piracicaba. Estamos indo buscar água cada vez mais longe e o Sistema São Lourenço é outro exemplo de ‘importação’. Continuamos com mananciais sendo ocupados e poluídos e com altos índices de perda”, concluiu o especialista.

Professor de recursos hídricos da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política), Antonio Eduardo Giansante avaliou que após a grave crise hídrica que atingiu o Estado em 2014 e 2015 e as obras que deixaram os sistemas mais redundantes, com comunicação entre os reservatórios, há mais segurança para o abastecimento de água na Região Metropolitana. “Mas não significa que não temos que continuar com políticas permanentes de redução de perdas e uso mais consciente nas residências”, afirmou.

Giansante lembrou que embora as cidades tenham sido atingidas por fortes chuvas recentemente, a impermeabilidade do solo atrapalha a recomposição dos lençóis freáticos e dos reservatórios. “É responsabilidade do poder público preservar as matas ciliares, realizar recomposições florestais. Se não podemos controlar onde nem o quanto vai chover, podemos e devemos garantir que essa água não seja perdida e apenas ocasione enchentes”, finalizou.

Sistemas são interligados, alega Sabesp

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informou, por meio de nota, que a Região Metropolitana de São Paulo é abastecida pelo sistema integrado, composto por sete mananciais e que esse sistema é flexível, permitindo transferências de água de forma rotineira entre os sistemas produtores para abastecer diferentes regiões. E, consequentemente, dando mais segurança ao abastecimento.

Segundo a empresa, isso é possível atualmente porque obras foram realizadas desde a crise hídrica de 2014, com destaque para a Interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira) e a entrada em operação do Sistema São Lourenço. “A queda no nível das represas é normal durante o período de estiagem, todos os anos. Em 2020, o volume de chuvas está abaixo da média histórica e já é o menor desde 2014. Por esse motivo, a Sabesp reforça à população que use de forma consciente a água, evitando desperdícios. A economia de água deve ser um hábito permanente de todos, independentemente da época do ano”, concluiu a nota.

Em relação à distribuição de água nos municípios do Grande ABC, o Sistema Cantareira atende São Caetano, cidade não operada pela Sabesp. O Alto Tietê abastece Mauá. Já o Sistema Rio Grande abastece Diadema, São Bernardo e parte de Santo André, município que também recebe água do Sistema Rio Claro. O Sistema Ribeirão da Estiva, que integra o sistema Rio Claro, atende Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires.




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