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'Psicose': arrepiando 40 anos depois
Orlando Fassoni
Especial para o Diário
21/10/2000 | 18:54
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  Realizado há 40 anos, o clássico Psicose (Psycho), de Alfred Hitchcock, continua sendo, na história do cinema, um dos mais perfeitos exemplos de como fazer as pessoas sentirem medo e se arrepiarem nas poltronas dos cinemas e, agora, também nos sofás das salas, vendo a fita em vídeo. Aliás, é bom lembrar que o filme, de 1960, teve mais três seqüências, nenhuma capaz de superar a original. Usando um chavao do próprio Hitchcock: "É preciso ser muito fraco de espírito para acreditar que uma múmia de 2 mil anos pode ressuscitar."

O diabo é que o velho Hitch montou quase toda a sua filmografia em cima disso, ou seja, fazendo todo mundo acreditar, nos anos 50 e 60, que o demônio, de alguma forma, andava solto: nos sustos de Psicose, nas perseguiçoes de Intriga Internacional, nos arrepios de Um Corpo Que Cai, Janela Indiscreta, Os Pássaros, Pacto Sinistro e outras obras que enriqueceram o cinema, muito mais do que os sustos mais recentes criados em obras como O Sexto Sentido e A Bruxa de Blair.

Nenhuma comparaçao. Hitchcock continua inimitável, e Psicose um exemplo de como as mentirinhas do cinema - hoje criadas por efeitos especiais computadorizados - permanecem no nosso inconsciente. Passadas quatro décadas, o filme ainda apavora quem o revê em vídeo. Um bom programa, diga-se. As geraçoes mais velhas se lembram bem da famosa seqüência em que Janet Leigh é surpreendida sob o chuveiro em um hotel dirigido pelo sinistro personagem Norman Bates, um tipo do qual o ator Anthony Perkins jamais conseguiu se livrar. E nem foi ele o sujeito que ataca a moça, nem a mocinha era Janet Leigh, entao mulher do ator Tony Curtis. Hitchcock inventou tudo, e nos enganou como ninguém.

Em texto de 1983, o jornalista e escritor Ruy Castro, a propósito do filme, afirmou: "Houve gente que passou meses sem tomar banho depois de ver o Psicose original. A idéia de que um vulto armado com uma faca pudesse ser visto através da cortina do chuveiro enquanto você se ensaboava foi demais para as cabeças daquele tempo". Castro, autor de ótimos livros, também fez referências ao Psicose 2, lançado em outubro de 1983 e dirigido por Richard Franklin, uma arriscada homenagem a Hitchcock que acabou dando certo, mas poderia ter sido um grande desastre dadas as diferenças existentes entre um e outro cineasta.

Só naquele ano, em 1983, os herdeiros de Hitchcock (morto em 1980) liberaram para a TV a obra-prima do mago do suspense. Demoraram muito, mas foi divertido, para nao dizer assustador, rever o clássico na telinha, no sofá da sala, curtindo um vinho e uma pipoca. Hoje, com o vídeo, você tem a chance de rever quantas vezes quiser a seqüência do chuveiro. É só controlar o aparelho. E tomar quantos sustos quiser.

Toda a seqüência do chuveiro foi desenhada por Saul Bass, um mestre na criaçao de aberturas para filmes clássicos (Anatomia de Um Crime, por exemplo). Levou uma semana para ser filmada, mas durou menos de um minuto na tela. O público acredita que vê Janet Leigh, mas quem realmente levou as facadas foi uma dublê que nem aparece nos créditos. Assim como nao aparece o dublê de Anthony Perkins, um tal de Bert, pois o ator nem estava no estúdio, mas em Nova York.

Filmado inteiramente em preto-e-branco, Psicose custou menos de US$ 1 milhao e rendeu mais de US$ 15 milhoes só nos cinemas norte-americanos. Em termos de bilheteria, foi o maior êxito de Hitchcock, pelo menos até 1960. Os historiadores dizem que na época de seu lançamento, os cartazes de Psicose alertavam: "Os gerentes dos cinemas estao proibidos de admitir espectadores nas salas depois de iniciada a sessao". A razao: Hitchcock, ousado e criativo, mata a estrela nos primeiros 30 minutos do filme, e o público da época nao ia ao cinema para curtir o diretor e sim os atores. Se nao havia estrela, evidentemente nao haveria espectadores. Mas Hitchcock foi uma exceçao.

Você pode comemorar os 40 anos de Psicose revendo o filme em vídeo. E conhecendo o que veio depois dele em termos de sustos e arrepios, todos baseados no mesmo tema original, uma história de Robert Bloch. Em 1983 apareceu Psicose 2, de Richard Franklin, com Anthony Perkins e Vera Miles do elenco original. Quem dirigiu Psicose 3 foi o próprio Perkins, em 1986, mas ele mudou de tom e criou uma versao escrachada do clássico, apenas uma boa diversao.

Em 1990, em Psicose 4 - A Revelaçao, o diretor Mick Garris deveria ter sido preso por atentado aos direitos do consumidor, ou seja, do espectador que paga o ingresso. Fez uma tremenda bobagem da qual, felizmente, ninguém se lembra. Hoje, 40 anos depois, ainda é bom tomar cuidado: desconfie de quem sorrateiramente entra no seu banheiro enquanto você está no banho. O fantasma de Norman Bates pode estar solto por aí.




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